O Ano da Misericórdia começou e agora?

Não deve ser o caminho  das “palavras” mas de palavras revestidas de concreto e de atos

 

Frei Patrício Sciadini | 15 de Dezembro | ZENIT.org

Não há como duvidar que o dia 8 de dezembro de 2015 é uma data que a Igreja e a história não poderão esquecer: a abertura do Ano Extraordinário da Misericórdia pelo Papa Francisco; um papa que será lembrado como o papa que com coragem tenta romper os muros de toda separação.

Na verdade o Ano Santo já começou na catedral de Bangui, capital da África Central, país pobre, violentado pela ganância dos ricos, empobrecido e explorado. Mas ao mesmo tempo um país rico de vida, de crianças que olham com esperança o futuro. A pobreza deve ser vencida com a solidariedade e com a justica. Misericórdia e justiça não são contrárias mas são irmãs gêmeas que jamais  podem sem separadas.

 A abertura do Ano da Misericórdia aconteceu no dia da solenidade  da Imaculada Conceição;  poderíamos defini-lo como o dia dos grandes presentes de Deus para a humanidade ferida, cansada e oprimida pelo peso do pecado que pode só será superado pela misericórdia  de Deus que como chuva benfazeja cai nos vários desertos da humanidade. Estes desertos sob a chuva da misericórdia  irão florescer e produzir frutos.

Quais presentes Deus nos deu  neste dia? Quatro  dons  que possuem uma forca única de transformação:

1. Deus sempre dialoga conosco porque é misericordioso. O dialogo nunca pode ser fechado e nem eliminado por e com ninguém. E no início da história da humanidade ao o homem Adão que erra e se esconde com sua companheira Eva, Deus faz uma pergunta:
Adão onde você está? Esta pergunta quer dizer: Adão e Eva quem são vocês? Que fazeis? E com quem fazeis? São perguntas as quais somos chamados continuamente a dar um resposta. Parece que a humanidade  perdeu o seu rumo, a sua identidade que deve ser recuperada. Só será possível recuperá-la se nós nos colocarmos  em comunhão com Deus e nos deixarmos questionar  por Ele  e não fugirmos  porque nos entramos “nus”,  frágeis pecadores.  A roupa que Deus nos oferece  é a sua misericórdia e o seu amor feito de perdão;  só a misericórdia pode  derrotar o diabo.

2. Deus nos dá como presente  A Virgem Maria, imaculada, cheia de graça, que entra na história para ser a porta da Misericórdia que é Jesus. Contemplar a Virgem Maria é contemplar o dom da pura gratuidade do amor de Deus  que não nos abandona. Diante da “nudez” de Adão e Eva  o Verbo se faz carne e se reveste  da nossa humanidade para nos mostrar que é possível  vive uma vida nova. Maria nos dará  através do seu SIM  o maior dom  que é Jesus. Maria, Mãe da Misericórdia e porta da misericórdia. Amar Maria não se trata de sentimentalismo e devocionismo e nem tampouco de ir atrás de “aparições” da Virgem Maria  e de mensagens divinas; ela nos dá uma única mensagem  feita carne: Jesus. A festa da Imaculada é a festa de todas as mulheres, um futuro melhor para o mundo  dependerá da medida  com que as mulheres assumirem a própria missão de educadoras dos corações e da missão que elas tem de defensoras da vida. Só a mulher  sabe  em profundidade  e com verdade o que é a vida  porque elas  geram e revestem a vida de vida.

3. O terceiro presente que Deus nos “oferece” é celebrar os 50 anos do enceramento do Concílio Vaticano II cuja proclamação, as etapas e o enceramento vi com entusiasmo sem compreender  muito o que significava e o que queria dizer, eu era jovem. Hoje compreendo a beleza do Concilio vaticano II que encontra resistência a entrar no coração de tantas pessoas. Viver o Concílio é se lançar no oceano da misericórdia do Pai que envia  o seu filho  Jesus entre nós para nos oferecer um novo rosto do amor  que é a misericórdia. Temos necessidade de penetrar dentro do coração da humanidade  e colocar a semente da ternura e da bondade para que os desertos seja superados. O Concílio é  chuva da ternura  de Deus  que abre as portas  para que todos os pecadores,  que todos os povos  e os que buscam a verdade possam entrar e se  sentir em casa. Quem ama o Concílio  sabe que  a porta do dialogo nunca pode ser fechada,  é necessário que  dialoguemos  com todos, não impor, não crer que somos donos da verdade, mas que buscamos juntos a verdade e que caminhamos  juntos como os reis magos procurando a verdade…. a estrela da verdade  aparecerá em nossa vida.

4. E agora como viver a misericórdia  não só este ano  mas sempre? que caminho  seguir? Não deve ser  o caminho  das “palavras” mas de palavras revestidas de concreto e de atos. Por isso  vale e pena repetir  as obras de misericórdia  corporais:

Dar de comer aos que tem fome

Dar de beber aos que tem sede

Vestir os que estão nus

Receber os sem teto

Visitar os prisioneiros

Visitar os enfermos

Enterrar os mortos

Prometo,  se Zenit  me der espaço, comentar a obra de misericórdia numa forma concreta a partir do nosso cotidiano. De palavras o dicionário está cheio e de gestos concretos a vida está vazia. Mas o Ano da Misericórdia não pode ser uma ladainha de palavras mas “obras quer o Senhor” como diz Santa Teresa d’Ávila.

 

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