CNAL: Cardeal O’Malley desafia católicos a liderar combate ao racismo

Arcebispo de Boston inaugurou «Praça Central», evocando legado «devastador» da violência racial e étnica

Almada, 20 nov 2021 (Ecclesia) – O cardeal Seán Patrick O’Malley, arcebispo de Boston (EUA), disse hoje aos participantes no encontro ‘Praça Central’, a decorrer em Almada, que os católicos são chamados liderar o combate à xenofobia e ao racismo.

“Aqueles que levantam muros acabarão por ser escravos dentro dos próprios muros que construíram”, advertiu o colaborador do Papa, apresentando a solidariedade como “antídoto” para qualquer discriminação.

D. Seán Patrick O’Malley falou do legado “devastador” da violência racial, alertando para o ressurgimento de nacionalismos, com “novas formas de egoísmo e uma perda do sentido social”.

“A escravatura e o colonialismo engendraram a atitude venenosa do racismo no coração em muitas pessoas”, declarou.

Numa intervenção em vídeo, intitulada ‘O Tikun Olam do Samaritano’, o responsável católico recordou a “animosidade” e a “guerra fria” que existia entre judeus e samaritanos no tempo de Jesus Cristo.

Jesus, indicou, escolhe um samaritano como modelo de “amar o próximo como a si mesmo”, sem criar distância com o necessitado, alguém que se coloca “no caminho do perigo” e poderia ter sido acusado de ser ele próprio o ladrão.

“Como acontece com pessoas de cor nos Estados Unidos, que se queixam de a polícia mandar parar o seu carro, pedindo os seus documentos, pela simples razão de conduzir sob o efeito de ser negro”, observou o cardeal.

“Digo sempre que o pecado original da América é o racismo”, acrescentou.

O convidado apelou a uma “mudança de coração”, que leve a acompanhar os “invisíveis” e “insignificantes” na sociedade contemporânea.

“Os deveres de solidariedade exigem mais do que prestar assistência a outros necessitados, devemos também comprometer-nos com as práticas e políticas que impedem a exclusão e a exploração”, assinalou.

O conceito judaico de ‘Tikun Olam’ significa, segundo o conferencista, “consertar o mundo”, tarefa que visa criar uma sociedade onde se reflita “a justiça e a misericórdia de Deus”, a construção da “civilização do amor” no ensinamento cristão.

“A pergunta que devemos fazer não é ‘quem é o meu próximo?’, mas sim ‘que tipo de próximo sou eu?’”, sustentou o cardeal O’Malley.A intervenção inicial do encontro de leigos católicos em Portugal, com uma centena e meia de participantes, assinalou a necessidade de evitar que os mais fracos sejam excluídos da sociedade.

O arcebispo de Boston alertou ainda para a desconfiança e “divisão social” que a pandemia de Covid-19 tem provocado.

O cardeal foi bispo de Fall River, nos EUA, e estudou português para acompanhar a grande comunidade lusófona presente na região, tendo proferido a sua intervenção nesta língua.

Partindo da sua vivência como franciscano capuchinho, o conferencista destacou a figura de São Francisco de Assis (1182-1226) e a sua inspiração no atual pontificado, do Papa Francisco, para a proposta de “uma nova visão da solidariedade e da amizade social”.

D. Seán Patrick O’Malley sublinhou a importância da defesa da vida, na rejeição do aborto e da eutanásia.

A ‘Praça Central’, atividade promovida pela Conferência Nacional das Associações do Apostolado dos Leigos (CNAL), decorre ao longo deste sábado em várias localidades de Almada (Diocese de Setúbal), com o tema ‘A difícil arte da amizade social. Como é importante sonhar juntos!’.

O evento inspira-se na Encíclica ‘Fratelli Tutti’, do Papa Francisco, incluindo a realização de uma sessão plenária durante a manhã e mesas-redondas, durante a tarde, para abordar quatro temas centrais – cidadania, política, cultura e diálogo -, com quase 50 intervenientes.

OC 

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