Até a Santa Sé diz “parem com o assédio na Internet”

A 25 anos da Convenção sobre os Direitos da Infância se multiplicam as campanhas pela prevenção do fenômeno

Por Luca Marcolivio

 

ROMA, 09 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) – A Convenção sobre os Direitos da Criança completa 25 anos, mas o caminho a percorrer ainda é longo. Ainda estava distante três décadas a explosão da galáxia web que, com todos os benefícios que trouxe, do outro lado da moeda, manifestou uma série de perturbadoras ameaças à privacidade das pessoas e, em particular, à segurança das crianças.

Com este objetivo, o Pontifício Conselho Justiça e Paz promoveu a coletiva de imprensa “Assédio na Internet: uma nova forma de violência que deve ser levada em conta”, realizada na manhã de hoje na Sala de Imprensa Vaticana.

Como apontado pelo cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, presidente do dicastério vaticano, no dia de hoje os menores são vítimas de uma pluralidade de práticas criminosas, do mercado da prostituição ao da pornografia, até o tráfico de drogas e de órgãos e o recrutamento de soldados e mendigos. Para não mencionar as meninas vítimas de matrimônios forçados e todas as crianças não-nascidas vítimas do aborto.

A este respeito, a Santa Sé – recordou o prelado – esteve entre os primeiros sujeitos a ratificar a Convenção sobre os direitos da infância e é parte também dos Protocolos adicionais que a completam: aquele sobre as crianças envolvidas nos conflitos armados e aquele da venda de crianças, a prostituição infantil e a pornografia representando crianças.

Um papel central, acrescentou o cardeal Turkson, é representado pela educação, “como parte essencial do esforço comum da humanidade para prevenir e eliminar as terríveis chagas mencionadas acima, incluindo a questão do assédio na Internet”. Os jovens devem ser educados, portanto, “aos direitos humanos, à justiça e à paz”, ou seja, em definitiva, a “reconhecer nos outros pessoas de igual dignidade, a serem consideradas não inimigas ou concorrentes, mas irmãos a serem acolhidos e abraçados”.

Em nome do Bureau Internacional Catholique de l’Enfance (BICE), falou o presidente Olivier Duval, expondo os conteúdos da campanha “Parem com os Assédios na Internet”, que até agora recolheu 10.073 assinaturas.

Seguiu-se o testemunho da jovem de vinte e um anos, Laetitia Chanut, vítima de cyberassédio e violências psicológicas durante os seus anos de ensino médio. Uma história dramática, a da jovem francesa, que desde os 17 anos, foi alvejada por um maníaco que tinha criado alguns perfis falsos com nome e foto da jovem, atribuindo-lhe obscenidades que não eram dela.

Traumatizada pelo evento, Laetitia tinha chegado a tentar o suicídio. Só o apoio da família a ajudou a recuperar-se, até à decisão de apoiar ativamente a campanha anti-assédio da BICE.

Por sua parte, Pe. Fortunato Di Noto, fundador da associação Meter, narrou a sua experiência de ‘pioneiro’ da galáxia web, através da qual descobriu também as potencialidades deletérias da rede, a partir da difusão da pedofilia e da pedopornografia, fenômeno contra o qual dedicou grande parte da sua atividade.

As “periferias digitais”, explicou o sacerdote, com as suas histórias de isolamento e alienação, fazem parte das “periferias existenciais”, das quais fala o Papa Francisco.

Até mesmo por isso, destacou pe. Di Noto, é importante ter em conta que “o que acontece no mundo virtual tem grande impacto no mundo real”.

O fundador do Meter lançou recentemente a campanha nacional “Em linha na Internet” dirigida especialmente aos jovens nativos digitais e que contém um conjunto de diretrizes para “viver” melhor e em segurança em todo o mundo da web com qualquer meio.

Conforme relatado pe. Di Noto, nos últimos doze anos, Meter acolheu 1.203 vítimas, denunciou 107 781 sites pedófilos e com pornografia infantil e monitorou 1,5 milhão fazendo começar 18 investigações nacionais e internacionais com milhares de prisões e suspeitos por todo o mundo, além da Itália.

A associação também identificou dezenas de crianças retratadas nos vídeo e nas fotos, mesmo depois de vários anos, e constituiu parte civil nos processos, encontrou 81.218 estudantes por iniciativa de prevenções sobre os abusos e 71 dioceses para a formação do clero e dos leigos, apoiou propostas legais no Parlamento Europeu e naquele italiano, contribuindo para a elaboração de novas regras para o Japão e outros países.

Encerrou a coletiva de imprensa, a subsecretária do Pontifício Conselho Justiça e Paz, Flaminia Giovanelli, que, na linha da pastoral familiar do Papa Francisco, destacou a importância do “perder tempo”, entendido como “tomar tempo”, ou seja, dedicar o maior tempo possível à educação e à escuta dos filhos e às relações familiares.

Neste sentido, as redes sociais, afirmou o dirigente vaticano, podem se tornar “lugares de encontro entre pais e filhos”, favorecendo uma “maior coesão tanto inter quanto intra-generacional”.

As “avenidas digitais” – assim como define o Papa Francisco – não são suficientes se não dão razão para as reais necessidades do homem: “amar e ser amado” e “a necessidade de ternura”.

Neste sentido, a Igreja não ficou insensível, como demonstram “as possibilidades que a web oferece para a evangelização”, primeira de todas os “tweets diários do Santo Padre”.

 

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