Antes pais e agora avós…

Na miríade da obra da Criação é avassaladora a do homem, porque a sua perfeição é incomparável e obra de carinho e amor inefável do Criador.

 

E a sua genuinidade e autenticidade é levada a um ponto da máxima exponencialidade, de criação inimitável; o Deus Criador não deixa esse trabalho de Sua criação à reinvenção de quem quer que seja.

As transformações e benefícios alcançados no seio da Humanidade com as descobertas cientificas admiráveis no séc. XX, da penicilina e das telecomunicações, sobretudo com Stelz e a da teoria da relatividade, havendo quem fale que em Einstein pousara o Espírito de Deus porque não podia ser obra do homem, tomado como foi por Aquele para expressar a grandiosidade da fórmula E= mc2. E o mesmo se passando com outros gigantes da Humanidade cujas criações são obra gravada de Deus.  

Apesar de tudo ainda se não produziu um ser humano em tubo de ensaio, prescindindo de uma componente da vida gerada por um homem e uma mulher. É por isso que a obra da criação de um pequeno ser é uma obra maravilhosa, amorosa mesmo, sem par.

Quando o ventre da mãe começa a abaular um desejo de inigualável agradecimento vem ao pai para com quem, com ele, vai dar vida.

 Dá vontade de, com o ser minúsculo em embrião, estabelecer conversa, de falar com ele, de colar os ouvidos ao ventre da mãe, de dialogar perguntando-lhe pelo estado, se gosta do nome que vai ter, que se lhe comunica, se sabe que estamos à espera que veja a luz do dia e que seja um ser que cresça no bom caminho, de verdade e bem.

E chegado o dia da vinda ao mundo é com olhos de alegria, extasiados por tamanha beleza, que se contempla a flor da nossa vida, por entre sentimentos de tudo lhe dedicar.

É belo esse momento que perdura para sempre, que temos, que tenho no meu coração, quaisquer sejam os desmandos, os caminhos desviantes que percorreram e ainda que tragam sofrimento e dor, que são perdoados, porque eles são carne da nossa carne e sangue do nosso sangue, pelos quais vibramos mesmo nas horas de angústia e de verter lágrimas.

Se as pessoas soubessem o quanto é belo o nascimento de um filho não o aniquilariam pelo aborto, que o nosso Estado isenta de custos, promovendo a cultura da morte e descuidando a da vida, sobretudo dos idosos e dos mais gravemente doentes.

Se as pessoas soubessem a beleza e a dignidade do nascimento não atentariam contra o seu corpo indefeso, pequenino e inocente, como, agora, se noticia, com maior incidência, embora o fenómeno já viesse do passado, dos antepassados.

 E esse espectáculo, readquire uma feição renovada e não menos cristalina, quando chegam os filhos dos nossos filhos. Aí o entusiasmo parece redobrar.

Neles e com eles fazemos reabilitação dos nossos erros, corrigimos caminhos de outrora, porque não houve, não há, não haverá pais perfeitos, sem mancha e a disponibilidade ainda é mais livre, seja na noite seja no dia.

E a gente enche-se de orgulho quando as nossas novas crianças ensaiam as primeiras palavras ou os primeiros passos ou as primeiras letras, tornando-nos mais ciosos, às vezes, do que os próprios pais, na sua protecção, no carinho, no amparo, na ajuda, na educação, na construção em cada um de um novo ser sem motivo de reparo, que prometem, mas que, como os pais, e já nós antes, necessariamente que, aqui e ali, não vão cumprir.

Mas é enorme o espaço que ocupam no nosso coração, sendo de desenvolver uma cultura que os aproxime ou mantenha unidos aos avós, porque o conceito de família a todos abrange e essa abrangência é tanto mais benéfica ao desenvolvimento harmónico da personalidade e vida equilibrada quanto maior for o elo de ligação entre todos.

Esse contacto é, de todos reconhecido com vantagens, retorna aos tempos passados, onde os avós eram respeitados e amados até ao fim, agora transformados em alheios, salvo se algum benefício material, e só material estiver à vista. 

De madrugada foi caso de levar o Joãozinho ao hospital, o sono não me pesou, e, descontada a natural preocupação da doença de momento, não foi sem orgulho que me senti quando o técnico de RX se me dirigiu, dizendo: “Avô, segura o menino, agarra as costas“, ou quando se sentou no banco da Igreja, a meu lado, sossegado, sempre atento aos movimentos, sem nunca perguntar quando a celebração terminava, todo direito, parecendo um discípulo adulto, atento ao Mestre.

 

Escrito por Armindo Monteiro e publicado em Jornal da Família, março de 2015

 

 

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