Camarões, 15 Nov. 16 / 01:00 pm (ACI).- Os povoados da diocese de Maroua-Mokolo, em Camarões, junto a outras dioceses localizadas ao longo da fronteira com a Nigéria, tornaram-se palco de incessantes ataques suicidas perpetrados pelo grupo terrorista muçulmano Boko Haram, o que gerou medo entre a população.
Quando em fevereiro dois homens-bomba mataram pelo menos 20 pessoas e deixaram dezenas de feridos no mercado de Mora, povoado de Mémé, o Bispo da diocese de Maroua-Mokolo, Dom Bruno Ateba Edo, assegurou que a oração no interior do templo salvou os paroquianos.
“No momento do ataque, muitas mulheres do mercado e outras pessoas do povoado tinham ido à Igreja para participar da Via Sacra. Elas me disseram: ‘Ainda estamos vivos porque estávamos na Igreja. Teríamos morrido sem a Via Sacra’”, indicou o Bispo no começo de novembro à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).
Do mesmo modo, detalhou que “vários dos ataques suicidas são realizados por pessoas muito jovens” e que as duas meninas que se explodiram no mercado de Mora “não tinham nem vinte anos”.
Por outro lado, o Prelado afirmou que a situação em sua diocese é “dramática” e raramente recebe a atenção da mídia internacional.
“Gostaria de ver uma maior atenção ao que está acontecendo aqui no norte de Camarões. Quando algo acontece na Europa, a notícia se propaga imediatamente ao redor de todo o mundo. É como um terremoto. Mas se as pessoas morrem aqui em Camarões ou em outros países africanos, não é um grande problema”, denunciou.
“Gostaria de dizer aos meios de comunicação: ‘Olhem com cuidado, não importa onde algo de ruim aconteceu, e informem!’”, acrescentou o Bispo.
Dom Ateba disse que quando vai celebrar a Santa Missa ao ar livre, os fiéis costumam dar as mãos para formar uma corrente humana e se manterem longe dos ataques suicidas. Antes da Missa, alguns voluntários revistam os participantes em busca de armas e explosivos. Da mesma forma, é proibido levar bolsas grandes.
“As pessoas vivem em constante medo de ataques. Já se tornou uma psicose”, assegurou.
Apesar disso, o Bispo detalhou que os fiéis não permitem que o medo os impeça de se reunirem para rezar: “a oração é nossa força e nossa esperança. Necessitamos da oração! Queremos rezar! A oração comunitária é, sobretudo, um sinal de esperança”.
Além das tensões provocadas pelos ataques terroristas, existe também um problema humanitário. Quase 80.000 refugiados da Nigéria estão vivendo em um enorme campo de refugiados na diocese de Maroua-Mokolo.
“Muitas pessoas gostariam de regressar para sua terra natal, mas precisam de segurança. Vários estão ali há quatro ou cinco anos e não podem voltar para casa”, explicou Dom Ateba.
Os refugiados católicos estão recebendo atenção pastoral de um sacerdote nigeriano que fala seu idioma. Além disso, a Fundação ACN doou 14.900 euros para ajudar a construir uma capela.
“Quase 5.000 católicos vivem neste acampamento. Duas missas são celebradas todos os domingos. Ter um lugar de oração estabelece um sinal importante. Obrigado por nos ajudar!”, expressou Dom Ateba.
Além dos refugiados nigerianos, ACN detalhou que existem mais de 50 mil camaroneses de povoados localizados na fronteira que fugiram devido aos ataques. A maioria deles encontrou refúgio com amigos, conhecidos ou parentes e só estão sendo apoiados pela Igreja Católica.
Por esta razão, ACN proporcionou no ano passado 75 mil euros de emergência para satisfazer às necessidades daqueles que ficaram sem lar.
Apesar da situação difícil, Dom Ateba não perdeu a alegria porque, atualmente, a diocese de Maroua-Mokolo conta com trinta seminaristas. Além disso, ordenou dois sacerdotes e três jovens estudantes ao diaconato transitório.
“A esperança das pessoas tem suas raízes principalmente na sua crença em Deus. Confiamos na oração. A oração é a nossa força. Rezamos porque precisamos de paz. E, apesar dos ataques, não vamos deixar de nos reunirmos e pedir a paz a Deus”, concluiu o Prelado.