O dever de trabalhar

O trabalho é expressão da plena humanidade de cada pessoa, na sua condição histórica e em vista do seu destino último

Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo

 

BELO HORIZONTE, 03 de Maio de 2013 (Zenit.org) – No Dia Internacional do Trabalhador, todos são convidados a olhar de modo especial para o exemplo de São José, também celebrado no dia 1º de maio, operário carpinteiro, homem do trabalho, pai adotivo de Jesus – o Salvador do mundo. Ele ensina que o dever de trabalhar é inerente à condição cidadã e cristã de cada um.

A Doutrina Social da Igreja Católica, considerando o mundo do trabalho, mostra Jesus Mestre ensinando seus discípulos a apreciarem o exercício de tarefas. Uma lição que permanece e tem força para modificar muitos cenários no quadro social, além de garantir a cada pessoa, nos diversos âmbitos e atividades, a luz da consciência sobre a importância de se exercer um ofício. Jesus, conforme testemunham os Evangelhos, passou a maior parte de sua vida terrena junto a um banco de carpinteiro, ao lado de seu pai José operário, dedicando-se ao trabalho manual. Essa verdade modula de modo diferente a cultura que não valoriza esse tipo de trabalho e o considera de segunda categoria em relação àqueles produzidos no mundo acadêmico ou nos escritórios. Evidentemente, um modo de ver marcado por preconceitos e discriminações.

O dever de trabalhar é uma dádiva, pois constitui a condição humana. Jesus condena o servo preguiçoso e indolente. Em contrapartida, elogia o servidor fiel que cumpre suas obrigações e tarefas. Ele mesmo descreve a sua missão como um ofício quando diz: “Meu Pai trabalha até agora e Eu também trabalho”. Essa consideração interiorizada, iluminando cada momento e produzindo reconhecimentos, pode fazer grande diferença na consciência social quanto ao direito e ao dever de trabalhar, com incidências muito importantes sobre as relações sociais e políticas no conjunto de uma sociedade que precisa ser mais justa e fraterna.

Jesus é exemplar porque, durante seu ministério terreno, trabalha incansavelmente para libertar a humanidade dos sofrimentos, das doenças e de todo tipo de escravidão. Neste sentido, o trabalho deve ser compreendido como caminho para liberdade.  O dever de trabalhar torna-se essa via quando converge e impulsiona a busca do essencial que mantém a vida na sua inteireza e no seu sentido mais profundo, aquele que ultrapassa o simples ganhar, possuir e até mesmo desfrutar. Exercer um ofício, como sublinha a Doutrina Social da Igreja, refere-se à participação do homem na obra de Deus, não só da criação, mas também da redenção e resgate de toda a humanidade.

Assim concebido, o trabalho é expressão da plena humanidade de cada pessoa, na sua condição histórica e em vista do seu destino último. É, pois, indispensável a clarividente consciência que deve presidir a conduta cidadã de cada um: aquela de que pelo trabalho se gera solidariedade, possibilidade de partilhas e alegria de ajudar na construção de uma sociedade melhor. Na tradição da fé cristã, o trabalho é nossa participação no governo de Deus no mundo em que vivemos. É importante, então, trabalhar não só para conseguir o próprio sustento, mas também em vista do exercício da solidariedade com os mais pobres e pelo compromisso cidadão de ajudar na construção da história.

O trabalho carrega em si a imprescindível dimensão subjetiva, revelação de cada pessoa como ser dinâmico e capaz de transformar, artisticamente criar e exercer sua tarefa cidadã. Ao trabalhar a pessoa concretiza, de maneira admirável, nos diversos ofícios, o sentido mais alto de sua dignidade. É hora de uma compreensão ajustada sobre o trabalho para que se torne cada vez mais qualificada nossa presença na história da humanidade, na construção de um futuro que está sob a inteira responsabilidade de todos nós.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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