Ministro das Relações Exteriores da Armênia disse que “Os Turcos não mudam a história. Genocídio reconhecido por Wojtyla e Bergoglio”

Entrevista com o ministro Garen Nazarian que conta as grandes expectativas da população pela iminente viagem do Papa Francisco (Parte I)

 

22 JUNHO 2016 – Por um lado, um povo cheio de paixão e entusiasmo pela visita do Papa, por outro um território banhado pelo sangue como aquele do Nagorno-Karabakh, durante décadas cenário de um violento conflito territorial. Nas costas um drama tão cruento como o genocídio que provocou feridas profundas, depois de mais de um século. São muitas as implicações históricas, políticas e até mesmo espirituais que acompanham a visita do Papa Francisco na Armênia do próximo 24-26 de junho. Visita que a população espera com fervor e que e que irá selar as relações sempre amistosas entre a Santa Sé e a Igreja Apostólica Armênia. Visita que espera poder levar, a nível político e diplomático, paz e estabilidade à região. São altas e numerosas as expectativas da população, como confirma à ZENIT Garen Nazarian, Ministro das Relações Exteriores da República da Armênia, na entrevista exclusiva que publicamos abaixo.

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ZENIT: Quais são as esperanças para a visita do Papa à Arménia?

A visita do papa Francisco na Armênia tem um significado “pan-cristão”, porque é a visita à nação que, pela primeira vez, abraçou o cristianismo como religião de Estado. A paixão com a qual o povo armênio espera a visita do Pontífice se justifica também com o fato de que no dia 12 de abril do ano passado, o Papa, recebendo o Catholicos no Vaticano, por ocasião da Missa pelos fieis do rito armênio na Basílica de São Pedro para o centenário do genocídio, compartilhou a dor da nação armênia e, em um certo sentido, convidou a Turquia a realizar um exame de consciência do próprio passado. Esta visita permite também ao nosso povo na Armênia e o da diáspora de estender a gratidão e o apreço à Sua Santidade pela tomada de posição sobre a questão do reconhecimento do genocídio armênio em Buenos Aires, o então arcebispo Jorge Mario Bergoglio exortou a Turquia a reconhecer o genocídio como “o mais grave crime da Turquia otomana contra o povo armênio e toda a humanidade”. Além do mais, a visita do Pontífice durante o ano em que o mundo católico celebra o Jubileu extraordinário da Misericórdia é uma mensagem sólida por si só, ou seja, de que a Misericórdia é garantida também com a demonstração de coragem ao enfrentar o passado e não esconder a verdade por trás de um muro de silêncio.

O Pontífice passará também pelo Tzitzernakaberd Memorial Complex, um momento importante durante o qual o Papa recordará as vítimas do Grande Mal… O que se espera daquele evento?

O Tsitsernakaberd Memorial Complex tornou-se ao mesmo tempo meta de peregrinação e também uma etapa quase obrigatória para os grandes hóspedes da Armênia, dado que comemora o milhão e meio de armênios assassinados no primeiro genocídio do século XX, por mãos do governo turco. Certamente que a visita do chefe da Igreja católica é de máxima importância para a humanidade, como reconhecimento do genocídio; além do mais a celebração dedicada à memória das vítimas será um ótimo meio de prevenção, condenando aqueles terríveis crimes cometidos contra a humanidade para que não se repitam jamais.

Em abril de 2015, o Papa provocou a ira da Turquia pronunciando a palavra “genocídio” durante a Missa do centenário no Vaticano. Recentemente o caso se repetiu depois da resolução aprovada em Bundestag. Por que, na sua opinião, o governo turco persevera com esta atitude?

A reação da liderança turca é mais uma prova de que a Turquia continua com a sua política negacionista perseguida a nível estatal, mantendo assim o peso da responsabilidade pelo crime cometido pelas autoridades do Império Otomano. Com a decisão de utilizar a palavra “genocídio” no título e no texto da resolução, o Bundestag admite que a Alemanha – na época da Primeira Guerra Mundial aliada dos Otomanos – tenha certo sentido de culpa por não ter feito nada para parar com as mortes. Mas a Turquia não compartilha este ponto de vista e não está de acordo com os vários países e as organizações internacionais que reconheceram o genocídio armênio. Isso fala muito sobre os valores da liderança daquela país. O contínuo processo de reconhecimento do genocídio armênio por parte da comunidade internacional deveria ser, pelo contrário, sinal forte para a autoridades turcas de que o negacionismo impede desenvolver os valores e as realidades do século XXI.

A verdade histórica sobre o genocídio está surgindo também graças aos arquivos da Santa Sé. Qual é a ligação entre o governo armênio e o Vaticano sobre este escuro capítulo histórico?

Os Arquivos Secretos do Vaticano sobre o genocídio foram aberto desde 1990. Porém, poucos historiadores tiveram acesso a eles. O conteúdo dos documentos sobre “o maior crime da Primeira Guerra Mundnial”, revelam, porém, como o Papa Bento XV e a diplomacia vaticana procuraram parar as deportações programadas dos armênios para o deserto sírio, salvar as vítimas e prevenir o massacre de toda uma nação. Bento XV escreveu uma carta ao Sultão pedindo piedade pelos armênios inocentes. O então Pontífice referiu-se também ao fracasso de qualquer intervenção diplomática, mencionando “o povo armênio sofredor, quase completamente levado ao seu extermínio”. As relações diplomáticas entre a Santa Sé e a República de Armênia foram instituídas em 1992: a partir daquele ano realizaram-se várias visitas por parte do Presidente da Armênia e do Catholicos no Vaticano. Depois, em 2001, João Paulo II visitou a Armênia e durante aquela viagem assinou junto com Sua Santidade Karekin II uma declaração comum que trazia uma passagem histórica, ou seja: “O extermínio de um milhão e meio de cristãos armênios, durante o que é geralmente indicado como o primeiro genocídio do Século XX, e a sucessiva destruição de milhares sob o precedente regime totalitário são tragédias que vivem ainda na memória das gerações de hoje”. A Igreja católica reconhece a nação Armena como a primeira cristã, e, hoje, juntamente compartilhamos a recíproca vontade de superar os desafios enfrentados pelos cristãos no Oriente Médio, o respeito pelo seu direito humano e a conservação dos valores cristãos. Cooperamos além do mais ativamente em âmbito internacional pela criação da paz e da justiça em todo o mundo.

 

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