Japão: “cristãos escondidos” desejam viver plenamente a fé

Niigata (RV) – A fé dos “kakure Kirishitan”, os chamados “cristãos escondidos” do Japão, “deve sair dos livros de história. A Igreja do Japão está trabalhando para torná-los testemunhas vivas, capazes de motivar os católicos de hoje.

 

Porém, as dificuldades são muitas: aqui é difícil falar de religião, de qualquer religião, mas precisamente por isso temos de trabalhar mais no confronto destes nossos predecessores”: foi o que disse à agência AsiaNews, Dom Tarcisio Isao Kikuchi, Bispo de Niigata e presidente da Caritas local, poucos dias antes do início das celebrações que a Igreja nipônica dedica aos “cristãos escondidos”.

As celebrações têm início no dia 14 e terminam no dia 17 de março, dia em que serão celebrados os 250 anos da saída da clandestinidade. Depois de cerca de dois séculos e meio de total clandestinidade, de fato, a comunidade cristã subterrânea do Japão – os “kakure Kirishitan”, convertidos no século XVI, e que se mantiveram fiéis à Igreja, apesar da total ausência de missionários, sacerdotes, liberdade ou prática religiosa – saiu do anonimato após a inauguração da Igreja de Oura (perto de Nagasaki), que o governo de Tóquio havia concedido aos missionários franceses. Enquanto rezava dentro da igreja, em 17 de março de 1865, o Pe. Petitjean – (missionário do MEP),  que depois se tornou o primeiro bispo de Nagasaki – foi visitado por um pequeno grupo de camponeses  local que lhe pediu  se “era possível saudar Jesus e Maria.” Depois de um momento de surpresa, o sacerdote pediu que eles contassem a sua história: uma comunidade cristã numerosa e ainda fiel a Roma ainda estava presente no país desde as perseguições de 1500. Papa Francisco falou várias vezes com muito respeito sobre este testemunho. Como sacerdote, o futuro Pontífice tinha esperado ser enviado em uma missão ao Japão, mas por motivos de saúde, ele não pôde partir. Além disso, como bispo e cardeal de Buenos Aires recordou várias vezes o “grande exemplo” da comunidade cristã do Japão.

Segundo Dom Kikuchi  “o que aconteceu em Nagasaki tem grande importância para todos nós. Mas, para sermos justos, devemos dizer que os japoneses, também os católicos, acreditam que de certa forma seja fruto precisamente desta região, há muito tempo considerada ‘cristã’.  A maioria dos católicos japoneses homenageia com amor esses cristãos escondidos, que superaram dois séculos e meio de perseguições sem deixar a fé, mas não se sentem ligados a eles. É por isso que estamos procurando, como bispos, ir além da história”.

O problema não está relacionado apenas  aos “kakure Kirishitan”. “É muito difícil evangelizar no Japão. Os japoneses não são interessados em nenhuma religião, e é difícil falar com as pessoas sobre o assunto. Há também uma espécie de crítica à Igreja de ser demasiado intervencionista. Um bom exemplo é a Mensagem de paz em 2015 publicada pelos bispos: a maioria das pessoas – inclusive os católicos – criticou a decisão de falar sobre questões políticas “.

Por isso, uma grande ajuda vem das obras sociais católicas: “Graças a elas, através do voluntariado, conseguimos mostrar nossos valores de forma saudável. O terrível terremoto e o tsunami que atingiram o país quatro anos atrás provocaram muitas tragédias, e aquilo que fizemos e continuamos  a fazer com a Caritas nas áreas afetadas tem impressionado muito as pessoas. É o testemunho vivo e real, que penetra no coração dos japoneses “.

Precisamente às  vítimas desta tragédia serão dedicadas às orações da “24 horas para o Senhor”, o dia de oração proclamado pelo Papa Francisco, em sua Mensagem para a Quaresma de 2015, que terá lugar em todo o mundo: “Na minha diocese decidimos marcar este dia com a adoração e a confissão.  Mas o ponto principal está relacionado ao quarto aniversário do tsunami: rezaremos  pela paz das almas daqueles que morreram, pelo bem-estar dos sobreviventes e reabilitação das áreas afetadas “, afirmou o bispo. (SF)

(from Vatican Radio)

2015-03-11 Rádio Vaticana

 

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