Francisca Xavier Cabrini: uma vida dedicada ao serviço dos migrantes

O exemplo da santa nos lembra que não entramos no céu descansados, mas exaustos pelo serviço daqueles a quem a sociedade descarta

 

1 março 2016 – Um das santas da misericórdia que consumiu toda a sua vida por amor ao próximo foi Santa Francesca Saverio Cabrini, ou, em português, Francisca Xavier Cabrini. Nascida em Sant’Angelo Lodigiano em 15 de julho de 1850, ela ficou órfã de pai e mãe e, ao ir crescendo, se comprometeu em conquistar o diploma de ensino e trabalhar como professora substituta em uma escola próxima, de Vidardo, podendo assim ajudar, junto com sua irmã Rosa, a outra irmã, Maddalena, gravemente doente.

Os dois anos de trabalho naquele instituto revelaram a força moral dessa mulher, que ensinou a doutrina cristã em sua classe apesar do impedimento legislativo da época e da oposição do prefeito. Francisca desejava se tornar missionária, mas essa ardente intenção foi precedida por outras experiências eclesiásticas. Ela fez os votos religiosos para entrar na Casa da Providência de Codogno, mas Deus a chamava para outra missão. Seu desejo de se tornar missionária encontrou uma oportunidade quando o bispo de Lodi lhe propôs fundar um instituto religioso para cuidar dos imigrantes italianos na América.

Francisca pensava na China: ela imaginou que seria aquele país asiático o lugar do seu serviço de caridade, mas ter a oportunidade de iniciar uma missão foi a faísca que a convenceu a aceitar a proposta. Nesse projeto, ela fundou as Missionárias do Sagrado Coração de Jesus, abrindo várias casas na Lombardia e uma em Roma.

A segunda intervenção providencial veio com dom Giovanni Scalabrini, que queria confiar a ela o setor feminino do seu Instituto. Francisca recusou a proposta, considerando a perda de autonomia do seu Instituto. De bom grado, no entanto, aceitou assumir uma escola e um asilo em Nova Iorque.

O terceiro encontro decisivo foi com o papa Leão XIII, que disse à mulher palavras verdadeiramente proféticas: “Não no Oriente, Cabrini, mas no Ocidente. O Instituto ainda é jovem. Ele precisa de meios. Vão para os Estados Unidos e os encontrarão – e, com eles, um grande campo de trabalho. A sua China são os Estados Unidos. Existem muitos emigrantes italianos que precisam de assistência”.

Francisca partiu em 1889 para Nova Iorque, certa de ser precedida por Deus na sua missão. Mas seu caminho não foi nada fácil. O primeiro obstáculo foi o arcebispo Corrigan, que desencorajou a sua missão e a convidou a voltar para a Itália, porque as suas iniciativas precisavam de uma grande quantidade de dinheiro, do qual não se dispunha.

Francisca não desistiu do propósito, apoiada pelas palavras proféticas do Santo Padre e pela amizade com uma rica senhora católica italiana, a esposa do diretor do Metropolitan Museum, o italiano Luigi Palma de Cesnola. A senhora lhe doou um pequeno apartamento, que, pouco mais tarde, se tornou um centro de assistência e ensino para os moradores dos bairros pobres da cidade.

Francisca não tinha medo de ir aos subúrbios pobres, violentos e degradados para ajudar os imigrantes italianos e lhes recordar as suas origens, a fim de devolver a eles o valor da dignidade. Sua estratégia era a de criar um clima de solidariedade dos mais ricos para com os mais pobres, em virtude da origem italiana comum. Esta motivação convenceu também os cidadãos não crentes a ajudar os mais necessitados.

A santa fez 24 travessias do oceano Atlântico, acompanhando as dificuldades e as preocupações dos seus compatriotas, oferecendo a sua vida pelos órfãos e pelos doentes, construindo casas, escolas e um grande hospital. De Nova Iorque, ela se transferiu para Chicago e, em seguida, para a Califórnia, continuando o seu trabalho missionário em toda a América até chegar à Argentina.

Francisca morreu durante a sua enésima viagem a Chicago, em 22 de dezembro de 1917. Foi declarada santa pelo papa Pio XII no dia 7 de julho de 1946. Em 1950, foi proclamada “Padroeira celeste de todos os imigrantes”.

Qual é o exemplo que nos deixa esta grande santa da caridade? Nossos tempos também são caracterizados por grandes migrações: muitos jovens ainda deixam a Itália, mas muitíssimas outras pessoas procuram cidadania e boas-vindas naquele país e em outros tantos. Este é o ano da misericórdia, que nos convida a abrir os olhos da fé para reconhecer que o lugar em que vivemos é a nossa terra de missão.

Abrir as portas de casa para os migrantes significa viver a essência da mensagem do Evangelho, que convida cada Igreja doméstica a acolher e servir àqueles que foram despojados da dignidade humana, perdendo suas terras, suas casas, seus empregos e suas relações vitais com a família de origem.

Santa Francisca Xavier Cabrini nos ensina a vencer a resistência daqueles que continuamente desencorajam quem quer concretizar, de várias formas, o espírito de solidariedade, de fraternidade e de partilha. Ela nos ensina que as dificuldades e as fadigas serão recompensadas pela paz que surge do gesto de estar perto de um estranho e de servir aos pobres, em quem vive a carne de Cristo sofredor, rejeitado e humilhado. Ela nos lembra que no céu nós não vamos entrar descansados, mas exaustos dos rigores do serviço àqueles que a sociedade descarta.

Santa Francisca Xavier Cabrini nos lembra que a caridade não é uma escolha de alguns amigos próximos: ela deve envolver todos os homens e mulheres de boa vontade para construir um mundo mais justo e equitativo, abrindo a todos a esperança de receber, no dia do juízo, o abraço recompensador de Deus Pai.

 

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