E o sangue de São Januário se liquefez nas mãos do Papa Francisco…

O milagre, nunca acontecido com um Papa, ocorreu no último sábado na Catedral no encontro com o clero, no qual o Pontífice advertiu sobre as tentações de especulação, mundanismo e fofocas terroristas

Por Salvatore Cernuzio

 

ROMA, 23 de Março de 2015 (Zenit.org) – A história vai se lembrar deste momento durante séculos: pela primeira vez, o sangue de São Januário se liquefez nas mãos de um Papa durante a visita à Catedral de Nápoles. O milagre, que ocorre somente três vezes por ano, aconteceu na tarde deste último sábado, 21, com o Papa Francisco, por ocasião do seu encontro com o clero diocesano.

No final de seu discurso – longo, apaixonado, todo improvisado – o Pontífice pegou a ampola do padroeiro de Nápoles e, depois de ter recitado a oração ritual e tê-la beijado, passou-a para o arcebispo Crescenzio Sepe que, verificando-a, anunciou aos mais de mil fiéis na Catedral que “o sangue estava metade dissolvido”.

Isso nunca tinha acontecido na história, nem em visitas anteriores dos Papas: nem com Pio IX, em 1848, nem com João Paulo II, em 1990, nem com o Papa Bento XVI, em 2007. Hoje, porém, sim, – disse Sepe – “se vê que o nosso Santo gosta do Papa”.

O sangue, no entanto, estava dissolvido pela metade. O processo de liquefação se completou instantes depois. Evidentemente, brincou Bergoglio, “se só está dissolvido pela metade quer dizer que temos que seguir em frente e fazer melhor. O santo nos ama pela metade”.

Os fiéis saíram da catedral satisfeitos e felizes, clamando o milagre. Ainda mais alegres, porém, eram os quase 500 religiosos e consagrados reunidos na Catedral. Especialmente as freiras de clausura que, bem antenadas para cumprimentar o Bispo de Roma, criaram interlúdios agradáveis.

Especialmente aquele de algumas passionistas que, enquanto o cardeal Sepe pronunciava o seu discurso, se ‘jogaram’ em direção ao Pontífice com entusiasmo irreprimível para dar-lhe um presente. Enquanto rodeavam um Francisco, entre preocupado e divertido, o prelado tentava detê-las gritando: “Basta irmãs! O que estão fazendo? Agora vão comê-lo… E felizmente que estas são as de clausura. Imaginemos as outras!”.

Cenas de alegria simples. Todo o encontro, além disso, foi realizado em tom informal, com o Papa que destruiu o discurso pré-estabelecido (“porque os discursos são chatos…”), e, sentado na cadeira por causa do cansaço, deu 3-4 diretas ao seu rebanho napolitano à espera de receber uma palavra do próprio Pastor.

Francisco, em seguida, repropôs, por meio de anedotas vivência em primeira pessoa, alguns dos seus maiores obstáculos para mostrar os testemunhos e os anti-testemunhos que sacerdotes, irmãs, religiosos e religiosas podem dar ao povo de Deus.

Portanto, “colocar Jesus no centro”, e amar a sua Mãe Maria, buscando-a e rezando porque Ela “nos mostra em todos os momentos o Filho”. Ou também a alegria que deve caracterizar cada consagrado, porque “os consagrados tristes têm algo errado. Devem ir a um amigo ou um bom conselheiro espiritual”. E também o zelo missionário, como aquela freira de 90 anos de idade que lhe pediu a benção in articulo mortis porque tinha que ir ao redor do mundo para fundar mosteiros.

Mas, acima de tudo o que é necessário para os religiosos – destacou o Pontífice – é “o espírito de pobreza”. Caso contrário se acaba como uma outra irmã: “uma grande religiosa, uma boa mulher, que fazia bem o seu trabalho de tesoureira em um importante colégio”, mas que tinha o coração tão “apegado ao dinheiro”, que selecionava as pessoas em base à renda: “Esse eu gosto porque tem mais dinheiro”.

Esta mulher inteligente, que fez importantes edifícios, morreu na humilhação: em uma sala diante dos professores enquanto tomava um café, teve uma síncope e caiu”. “Davam-lhe tapas para voltar em si e não voltava” – disse Bergoglio – “E uma professora disse: coloque uma nota de 100 pesos na cara e veja o que acontece… A coitadinha estava morta, mas esta foi a última palavra que disseram quando ainda não se sabia se estava morta”.

Em suma, um exemplo de “mau testemunho”. Que é o acontece “quando na Igreja entra a especulação”, advertiu o Papa. Isso é “feio”: é feio quando “um sacerdote é avaro e entra nos negócios”, é feio quando, por causa do dinheiro, acontecem escândalos na Igreja e acaba a liberdade. Quando se ouvem essas frases: “Eu deveria puxar a orelha dessa pessoa, mas já que é um grande benfeitor e os grandes benfeitores fazem o que querem na vida, não tenho a liberdade de dizer-lhe a verdade”.

“Um sacerdote pode ter suas economias, mas não deve ter o coração lá”, disse o pontífice. E, voltando-se sempre para os sacerdotes, alertou contra a tentação perigosa do “mundanismo”, do “viver com o espírito do mundo, que Jesus não queria”. Mas também o excesso de “comodidade” é um risco, que se vê em coisas triviais como estar muito tempo na frente da tv. Como aquelas ‘excelentes freiras’ de um colégio na Argentina que, reestruturando a sua casa, tinham colocado em cada quarto uma televisão. “E na hora da novela você não achava uma freira sequer pela escola!”.

“Estas são as coisas que nos levam ao espírito do mundo”, comentou Francisco. E o espírito do mundo, se sabe, leva para longe de Cristo. Atenção, portanto, especialmente os seminaristas devem estar alertas. A eles o Santo Padre dirigiu uma recomendação específica: “Se vocês não tiverem Jesus no Centro, adiem a ordenação. Esperem alguns anos, pensem melhor…”.

A todos, finalmente, denunciou o que ele define o “terrorismo das fofocas”. Porque “quem fofoca – disse – é igual a um terrorista que lança uma bomba, destrói tudo enquanto ele está fora. Se pelo mesmo fosse um camicase…”.

 

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