Escrito por D. Antonino Dias, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família
O Dia do Pai, ao que se conta, teve a sua origem na Babilónia, há mais de 4 mil anos. Teria sido um jovem que criou o primeiro cartão dirigido a seu pai. Hoje, cada país tem o seu dia e a sua forma mais ou menos festiva de celebrar o dia do pai. Em Portugal, e não só, a festividade acontece em 19 de março, dia litúrgico de São José, esposo de Maria e pai adotivo de Jesus. Como sabemos e constatamos, há muitos pais felizes e orgulhosos com os seus filhos e há filhos que muito admiram e amam os seus pais. E o Dia do Pai acaba por ser um belo pretexto para que a família faça festa e dê graças pelo dom da família e pela presença e importância do pai na mesma. Se o Pai estiver presente, com certeza que a festa será maior, poderá haver espumante mais saboroso e alegria mais abraçada. Se estiver ausente ou a trabalhar, não deixará de estar no coração de todos os seus familiares e estes no coração dele. E porque o amor ultrapassa as fronteiras deste mundo, se já estiver no outro lado da vida, que bom recordá-lo, em família, em oração ao Pai, rico em misericórdia, e, até, se possível, participar na Eucaristia. É assim que se vai promovendo e alimentando a unidade, a beleza e o encanto da família constituída entre um homem e uma mulher e aberta aos filhos. Assim se potenciam os seus valores, a sua vocação e missão. Uma sociedade que se preza de o ser e pensa no futuro, sente este primordial dever de cuidar da família. Porque isso nem sempre acontece e a perversão das pessoas se manifesta de forma terrivelmente egoísta, a própria comunidade humana sentiu necessidade de declarar os direitos humanos para defender a dignidade da pessoa, direitos que são, na verdade, valores evangélicos a praticar e a promover. Mesmo assim, por um lado, são grandes as situações de injustiça, solidão, violência doméstica, descarte, abandono e marginalização. Situações fortemente sentidas sobretudo por quem já não produz, é idoso e está doente. Muitas destas pessoas acabam por se sentir a mais e incómodas porque entendem que só dão trabalho e são empecilho, atendendo ao comportamento e filosofia de vida dos filhos. Por outro lado, é doloroso a muitos filhos, sempre gratos e atentos ao bem-estar de seus pais, não lhes poderem dar mais e o melhor de si próprios devido à complexidade da vida, nem sempre fácil. Apesar de sentirem esses condicionalismos e tristeza, procuram fazer tudo quanto podem para que eles se sintam bem, amados, cuidados e úteis. O respeito filial favorece a harmonia de toda a vida familiar e nutre-se do afeto natural dos laços que a todos une. Sabemos quão importante é a presença do pai na educação dos filhos. Sigmund Freud dizia: “Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai”. E no documento final do Sínodo dos Bispos sobre a Família, afirmava-se que a ausência do pai, “marca gravemente a vida familiar, a educação dos filhos e a sua inserção na sociedade. A sua ausência pode ser física, afetiva, cognoscitiva e espiritual. Essa carência priva os filhos de um modelo adequado do comportamento paterno”. (Rel. Synodi, 28). Cerca de 1250 anos antes de Jesus Cristo, o quarto mandamento da lei mandava (e manda) honrar o pai e a mãe (cf. Ex 20, 12). Honrar os pais é reconhecer-lhes a sua real importância de instrumentos de Deus, fonte de vida, mesmo quando já idosos ou doentes. Nas primeiras décadas do século II antes de Cristo, o Livro de Ben-Sirá, ou Eclesiástico, ensinava assim: “Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados”. E dizendo que a bênção dos pais consolida a casa dos filhos, acrescenta uma afirmação particularmente severa: “Quem despreza o seu pai é como um blasfemador …” (Ecl 3, 1-6). Na sua visita ao México, em fevereiro passado, o Papa Francisco visitou um Hospital pediátrico e falou a toda a comunidade hospitalar, incluindo os profissionais de saúde. Saudou, aplaudiu, estimulou e, entre outras coisas, falou também do grande valor e importância da “carinhoterapia”: “Muito importante a «carinhoterapia»! Muito importante! Às vezes, uma carícia ajuda muito a restabelecer-se”, disse o Papa. Que a nenhum pai falta a “carinhoterapia”, ou a “afetoterapia” dos seus filhos, para que, mesmo idosos e doentes, se for o caso, se sintam amados e úteis.