UMA LINDA FLOR PARA CADA MULHER

Foi a partir de 8 de março de 1857, não sem a repressão da polícia de Nova Iorque, que as mulheres tornaram mais visível a sua luta por melhores condições de trabalho, igualdade de direitos laborais, sociais e políticos.

A luta foi prosseguindo e em 1910, na Dinamarca, ficou decidido que o dia 8 de março de cada ano, em homenagem a tal movimento e como forma de obter apoio internacional, seria o “Dia Internacional da Mulher”. As Nações Unidas, porém, só em 1975, durante o Ano Internacional da Mulher, passaram a celebrar este dia, acentuando-se assim as iniciativas relacionadas com a temática: reuniões, estudos, debates, conferências…

Infelizmente, “somos herdeiros de uma história com imensos condicionalismos que, em todos os tempos e latitudes, tornaram difícil o caminho da mulher, ignorada na sua dignidade, deturpada nas suas prerrogativas, não raro marginalizada e, até mesmo, reduzida à escravidão. Isto impediu-a de ser profundamente ela mesma, e empobreceu a humanidade inteira de autênticas riquezas espirituais. Não seria certamente fácil atribuir precisas responsabilidades, atendendo à força das sedimentações culturais que, ao longo dos séculos, plasmaram mentalidades e instituições”. Importante é “olhar, com a coragem da memória e o sincero reconhecimento das responsabilidades, a longa história da humanidade, para a qual as mulheres deram uma contribuição não inferior à dos homens, e a maior parte das vezes em condições muito mais desfavoráveis. Penso, de modo especial, nas mulheres que amaram a cultura e a arte, e às mesmas se dedicaram partindo de condições desvantajosas, excluídas frequentemente de uma educação paritária, submetidas à inferiorização, ao anonimato e até mesmo à expropriação da sua contribuição intelectual. Infelizmente, da obra imensa das mulheres na história, bem pouco restou de significativo com os métodos da historiografia científica. Mas, por sorte, se o tempo sepultou os seus vestígios documentais, não é possível não perceber os seus influxos benfazejos na seiva vital que impregna o ser das gerações, que se foram sucedendo até à nossa. Relativamente a esta grande, imensa «tradição» feminina, a humanidade tem uma dívida incalculável. Quantas mulheres foram e continuam ainda a ser valorizadas mais pelo aspeto físico que pela competência, pelo seu valor profissional, pelas obras da inteligência, pela riqueza da sua sensibilidade e, em última análise, pela própria dignidade do seu ser!” (S. João Paulo II, Carta às Mulheres, 1995,3).

Sentimo-nos gratos ao Senhor pelo seu desígnio sobre a vocação e a missão da mulher no mundo e por aquilo que ela representa na vida da humanidade. Cristo, “superando as normas em vigor na cultura do seu tempo, teve para com as mulheres uma atitude de abertura, de respeito, de acolhimento, de ternura”. A própria Igreja, apesar de, no seguimento de Jesus, muito ter contribuído para a dignificação da mulher e sempre ter defendido a sua igualdade fundamental com o homem, nem sempre esteve bem e, hoje, tem pela frente “questões profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente” (AE103). Auguramos que a igualdade do género seja defendida e assumida pelas instâncias nacionais e internacionais. Sim, a igualdade de género, a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, “a igualdade efetiva dos direitos da pessoa e, portanto, idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família, o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático” (SJPII, id.4). Igualdade de género não é a mesma coisa que “ideologia do género”. A ideologia do género é perversa, destrói a mulher, destrói o homem, destrói a família, destrói a sociedade. Numa atitude de apreço e de ternura, também nós honramos “na mulher a dignidade que ela sempre teve no projeto e no amor de Deus” e, com palavras de São João Paulo II a quem pedimos que interceda por todos nós, lhe agradecemos:

“Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida. 

Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da comunhão e da vida.

Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância.

Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, económica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma conceção da vida sempre aberta ao sentido do «mistério», à edificação de estruturas económicas e políticas mais ricas de humanidade.

Obrigado a ti, mulher-consagrada, que, a exemplo da maior de todas as mulheres, a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abres com docilidade e fidelidade ao amor de Deus, ajudando a Igreja e a humanidade inteira a viver para com Deus uma resposta «esponsal», que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer estabelecer com a sua criatura.

Obrigado a ti, mulher, pelo simples facto de seres mulher! Com a perceção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações humanas” (SJPII, id.2).

 

“MULHER

 

Um aroma suave

exalou das mãos do Criador,

quando seus olhos contemplaram

a solidão do homem no Jardim!

Foi assim:

o Senhor desenhou

o ser gracioso, meigo e forte,

que Sua imaginação perfeita produziu.

Um novo milagre:

fez-se carne,

fez-se bela,

fez-se amor,

fez-se na verdade como Ele quer!

O homem colheu a flor,

beijou-a, com ternura,

chamando-a, simplesmente,

Mulher!

 

Ivone Boechat”

 

Antonino Dias

03-03-2017

Scroll to Top