Sínodo: «A abertura a situações irregulares não põe a doutrina em risco, mas abre à misericórdia de Deus»

Em carta pastoral, bispo de Malta pede esperança para as pessoas cujo primeiro casamento fracassou

Por Salvatore Cernuzio

 

Roma, 24 de Agosto de 2015 (ZENIT.org) – “Um bálsamo de misericórdia para a família” é o título da carta pastoral de dom Mario Grech, bispo de Gozo, em Malta, publicada na Solenidade da Assunção de Maria. O prelado propõe curar as feridas dos muitos casais e famílias considerados “irregulares”, pensando no sínodo de outubro próximo, que, para o bispo, é uma oportunidade para realçar a imagem de uma Igreja que não tem suas “portas fechadas”, mas que é um “refúgio de todos os pecadores”, onde “há vida e esperança de conversão”. Isto não significa que haja “intenção de mudar a doutrina sobre o matrimônio e a família”: pelo contrário, a verdade fundamental em todas as discussões, destaca o bispo de Gozo, é que “o casamento é um sacramento” e que “a base da família é o casamento entre um homem e uma mulher, ligados por um amor indissolúvel, fiel e aberto à vida”. O núcleo assim formado é uma instituição “muito apreciada” pelos seus benefícios “humanos, sociais e espirituais”, tanto que “o desejo de formar uma família está profundamente enraizado na natureza humana”.

No entanto, existem situações difíceis que não podem ser ignoradas: separações, divórcios, segundo casamento, relações adúlteras, “em oposição aos preceitos do Evangelho”. E há também um “tsunami cultural” que lança sérias dúvidas sobre “as convicções consolidadas” a respeito da família e do casamento: o divórcio, as uniões civis, a teoria do gênero, a procriação assistida. São questões que põem em crise a própria ideia de casamento, cujos valores foram “reduzidos e enfraquecidos”. E “a crise do casamento leva a uma crise de fé”, aponta o bispo, porque, em tempos de angústia, “é fácil sucumbir à tentação de virar as costas para Deus”.

A atenção se volta necessariamente aos divorciados recasados, que, embora vivam em situação contrária ao sacramento cristão, não são excomungados e continuam fazendo parte da Igreja, como recordou o papa na audiência de 5 de agosto. “Na Igreja, há lugar para todos que acreditam em Deus. Ninguém é excluído nem irremediavelmente perdido ou descartado”, afirma dom Grech.

O foco está na “misericórdia”, que é “o coração da doutrina cristã”. “Quem propõe a queda de algumas barreiras para aqueles que estão num relacionamento irregular, mas creem em Cristo Salvador, não está colocando em risco a doutrina da indissolubilidade do matrimônio, mas tentando tornar possível experimentar o bálsamo da misericórdia de Deus, de acordo com a chamada ‘via penitencial'”, diz dom Grech. Isto “nunca vai estar em desacordo com o Evangelho”, porque “Deus misericordioso toca as feridas abertas da humanidade para curá-las”.

A misericórdia “pressupõe a justiça”, mas “vai muito além dela”, porque “Deus dá ao homem muito mais do que ele merece”.

A esperança de dom Grech para o sínodo é, portanto, que a Igreja, “permanecendo fiel ao Evangelho da família e sustentando as famílias que permanecem firmes”, também procure, ao mesmo tempo, “ser fiel ao Evangelho da misericórdia e garantir que aqueles que falharam no primeiro casamento possam esperar na misericórdia de Deus e experimentar a alegria do seu amor”.

 

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