D. Manuel Clemente elogia clima dos trabalhos no Vaticano e aponta prioridades após debate sobre a família
Lisboa, 29 out 2015 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa afirmou hoje que a Igreja Católica tem de “investir muito mais” na preparação para o Matrimónio e no acompanhamento da vida conjugal, prioridades apontadas pelo Sínodo dos Bispos sobre a família.
D. Manuel Clemente falava em conferência de imprensa, a respeito das duas assembleias sinodais em que participou, no Vaticano, a última das quais, concluída este domingo.
Para o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, há uma maior consciência de que é preciso preparar os católicos para assumirem as exigências de unidade, indissolubilidade e fecundidade do Matrimónio.
“Infelizmente, o que nós verificamos em muitos casamentos sacramentais é que não houve preparação, disposição nem compromisso”, disse aos jornalistas.
45 processos deram entrada até outubro no Tribunal Patriarcal de Lisboa, face a um total de 60, em 2014.
Nesta instituição existe um serviço gratuito de acolhimento, esclarecimento, e apoio que faz com que avancem os processos de pedido de nulidade “que são fundamentados”, explica um comunicado enviado à Agência ECCLESIA.
Segundo D. Manuel Clemente, a recente alteração promovida pelo Papa, simplificando os processos relativos à declaração de nulidade matrimonial vem ajudar a determinar se as pessoas “estavam convictas, preparadas e em condições” para assumir o Matrimónio católico.
“Temos de ter muita atenção à verificação da validade do vínculo”, acrescentou o cardeal-patriarca.
Estas indicações, prosseguiu D. Manuel Clemente, vão implicar um esforço na habilitação de pessoas que acompanham os processos de declaração de nulidade, acompanhado por um maior acompanhamento nas paróquias, para que seja explicada aos noivos “a proposta católica a respeito do sacramento” do Matrimónio.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa recordou o país viveu o fim de uma sociedade feita de “estabilidades tradicionais” e “vinculações ancestrais”, uma sociedade que se “pulverizou” a partir dos anos 60 do século XX, com um novo “arco da vida e das expectativas” e maior centralidade da “decisão individual”.
Além de definir “princípios gerais de elucidação e acompanhamento”, a Igreja Católica deve ter como preocupação proporcionar “boas experiências familiares” aos mais novos, desenvolvendo esta “base comunitária”.
Outra preocupação é a de ajudar a “organizar a sociedade em chave familiar”, nos tempos de trabalho ou no apoio à natalidade, por exemplo, para mostrar que “é possível ser doutra maneira”.
“Há um caminho longuíssimo que nos vai envolver”, admitiu D. Manuel Clemente.
Questionado sobre as propostas do Sínodo dos Bispos a respeito dos divorciados católicos que voltaram a casar civilmente, o cardeal-patriarca sublinha que há a intenção de que os mesmos “participem ativamente na Igreja”, inclusive em “muitos aspetos de que estão afastados”, com exclusão da “Comunhão sacramental”.
“Em relação à comunhão sacramental, permanece um problema doutrinal”, precisou, dado que nenhum Sacramento “pode contrariar” outro Sacramento.
D. Manuel Clemente confessou uma “expectativa positiva” em relação ao que o Papa vai dizer a partir do relatório final do Sínodo, “um caminho aberto que vai levar muito longe”.
O responsável falou num clima geral de “serenidade”, alheio às polémicas a chamada ‘carta dos 13’ cardeais ou a alegada doença do Papa, sem qualquer “cultura do confronto”.