Proposta indecorosa no Reino Unido: crianças reduzidas a “peças de reposição”?

A British Transplantation Society propõe convencer as mulheres grávidas, cujos filhos tem malformações, a continuarem a gravidez só para poderem extrair-lhes os órgãos

 

8 março 2016 – Na Grã-Bretanha há uma escassez de órgãos para transplantes? Alguns médicos encontraram uma solução. Trata-se de convencer as mulheres grávidas, cujos fetos desenvolveram patologias nas primeiras fases da gravidez, a não abortarem, para permitir que o Serviço Sanitário Nacional possa extrair os órgãos dos pequenos e utilizá-los. 

A notícia, que foi dada pelo Daily Mail, já criou enormes polêmicas. Os proponentes dessa solução controversa se reuniram durante uma conferência médica em Glasgow, na Sociedade Britânica de Transplantes. Pensando no fato de que nos últimos dois anos somente 11 crianças abaixo de dois meses, em todo o Reino Unido, tornaram-se “doares” de órgãos, os médicos pensaram que poderiam implantar esta prática até a 100 crianças por ano.

Um dos proponentes, o cirurgião Niaz Ahmad, do St. Jame’s University Hospital de Leeds, afirmou sem esconder-se: “Esatmos diante de uma valiosa fonte de transplantes de órgãos a nível nacional”. O cirurgião acrescentou que muitos médicos nem sequer têm conhecimento dessa possibilidade, portanto, é necessário transmitir a informação.

Uma possibilidade que diria respeito a crianças que durante a gestação tiverem sido diagnosticadas com alguma malformação congênita no cérebro chamada anencefalia. Segundo os médicos ingleses, este problema, que pode ser detectado no feto já depois das 12 semanas, dá pouquíssimas possibilidades de sobrevivência.

De acordo com a sua proposta, as mães deveriam dar à luz o filho com esta patologia e, uma vez certificados pelos médicos a morte do pequeno, se procederia à remoção dos órgãos. Destaca-se que o transplante dos órgãos pode acontecer somente se houver uma morte cerebral. Neste caso o doador, para evitar a interrupção irreversível das atividades, é mantido sob uma ventilação artificial.

No ano passado, no Reino Unido, mudaram as linhas diretrizes sobre o transplante de órgãos para permitir que os cirurgiões retirem os órgãos dos nascituros com mais facilidade do que antes, com prévia autorização dos pais.

O debate na ilha tornou-se muito atual em 2014, quando Teddy Houlston tornou-se o doador mais jovem da história da Grã-Bretanha. Sofrendo de anencefalia, o pequeno morreu logo após o parto, e só 100 minutos depois foi submetido ao transplante dos órgãos. Os seus dois rins e as suas duas válvulas cardíacas salvaram a vida de um adulto.

Não poucos médicos são fortemente contrários à ideia de ter que convencer as mães, feridas na alma depois de terem descoberto que a criança que levavam no seio tem uma malformação, a deixa-lo nascer somente para transforma-lo em uma reserva de órgãos a serem utilizados em uma sala de operação.

É deste parecer o prof. Trevor Stammers, diretor da Universidade de Bioética St. Mary. “Francamente, seria absurdo – diz – se os médicos pedissem às mulheres, cujos filhos têm uma doença grave e que nem sequer nasceram, de levar adiante a gravidez pelo simples fato de que o corpo dos pequenos pode ser utilizado para extrair os órgãos”.

Stammers observa o paradoxo de que até agora, nestes casos, “as mulheres foram pressionadas para abortar”, a tal ponto de considerar “loucas” aquelas que queriam continuar a gravidez. “É preocupante – reflete o médico – que estas mesmas mulheres sejam encorajadas a levar adiante a gravidez com a explícita intenção de fazer coleta dos órgãos do bebê. O que aconteceria se mudassem de ideia ao ver o seu filho recém-nascido?”.

De acordo com Stammars, trata-se de uma “sugestão macabra” que pode minar a confiança da opinião pública no transplante de órgãos, que o professor chama de “um dos maiores avanços da medicina”. E acrescenta que assim se reduz a criança a “nada mais do que um meio funcional para um fim: uma coleção de peças de reposição”.

“Sim, aqueles órgãos potencialmente são capazes de salvar a vida de outros, mas a que custo para a nossa humanidade?”, pergunta-se Stammers. O qual acredita que esta proposta não respeita a vida e se coloca em triste linha de continuidade com a prática de usar órgãos de adultos mortos com a eutanásia.

 

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