Preparação próximo ao matrimônio: a sexualidade é fonte de alegria e prazer (CIC2362)

No contexto de uma cultura que deforma gravemente ou chega até a perder o verdadeiro significado da sexualidade humana,[…] a Igreja sente como mais urgente e insubstituível a sua missão de apresentar a sexualidade como valor e tarefa de toda a pessoa c

Por André Parreira

 

SãO PAULO, 22 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – A preparação para o Matrimônio não pode desprezar uma reflexão sobre a sexualidade na vida do casal. A formação oferecida pela Igreja será um dos poucos momentos onde o casal poderá refletir tal realidade pelo ponto de vista cristão, em contraposição à avalanche de informações, distorcidas em sua grande maioria, que invadem todos os meios de comunicação.

Todos, especialmente os jovens – mais vulneráveis, são bombardeados pela indústria que ganha rios de dinheiro com o sexo livre. Para dar um exemplo, comento que ganhei como brinde uma revista sobre automóveis e a levei para casa. Dias depois, percebi que esta revista tinha duas páginas inteiras com propagandas de preservativos e com imagens do tipo que você já imagina. Como deixar um material desses circulando em minha casa? E o que dizer das propagandas de cerveja em nossas televisões? O que vemos ao entrar nas bancas de jornais?

Situações como essas me fazem concluir que o mundo está intoxicado com a propaganda do sexo como a coisa mais importante da vida.

Estes estímulos ganham força com outra realidade de hoje: o adiamento do casamento para as idades mais maduras (ponto já também comentado nos documentos da Igreja e em nossa coluna). Embora não justifique, isto estimula a vida sexual dos noivos. Conceitos como “nos amamos e vamos mesmo nos casar” são frequentemente utilizados pelos noivos. Em um mundo onde a vida sexual perdeu seu sentido original e as pessoas se entregam até a quem não conhecem, somos tentados a crer que amor e compromisso são justificativas razoáveis. Os cristãos parecem ter esquecido os 10 mandamentos (pare um pouco traga um a um à sua mente!), a castidade e desprezam a realidade do pecado.

Devemos ajudar os noivos a refletirem e construírem o noivado como tempo de conhecimento, mas “infelizmente, para alguns este período, destinado à maturação humana e cristã, pode ser perturbado por um uso irresponsável da sexualidade que não chega à maturação do amor esponsal. E, assim, alguns chegam a uma espécie de apologia das relações pré-matrimoniais”(PSM17),

Aqui, o documento PSM nos faz pensar se nós, enquanto agentes que pastoreiam os noivos, também não temos feito apologia às relações pré-matrimoniais. Pode ser que não as incentivemos, mas vamos achando tudo normal e ficamos tímidos na proclamação da verdade.

Tais comportamentos estão abordados no documento Preparação para o Sacramento do Matrimônio (PSM) quando, no parágrafo 12 cita os “fenômenos que confirmam esta realidade e que reforçam a dita cultura estão ligados a novos estilos de vida que desvalorizam as dimensões humanas” e ainda comenta que um desses fenômenos é o “permissivismo sexual”.

Sabemos que é um grande desafio falar deste tema aos noivos de nosso tempo. Mas precisamos apresentar a eles a proposta de vida como caminho de santidade. Não há sentido em reuni-los para repetir os conceitos que vão desestruturando as famílias. “Esta preparação deverá, contudo, garantir que os noivos cristãos tenham ideias exatas […] sobre a sexualidade […].” (PSM 35)

Os agentes que acompanham os noivos nesta etapa precisam estar convictos desta realidade e cheios do Espírito Santo para proclamá-la, amparados no estudo e amor pastoral, para serem firmes na doutrina, amorosos e não discriminar aqueles que ainda não a vivem. Lembre-se que a Igreja espera que “colaboradores e responsáveis sejam pessoas de doutrina segura e fidelidade indiscutível ao Magistério da Igreja” (PSM43).

Mas, falar em sexualidade cristã é mais que falar de relacionamento sexual. O catecismo (CIC) nos ensina que “a sexualidade afeta todos os aspectos da pessoa humana, na sua unidade de corpo e alma.” (CIC 2332). Seria bom falar sobre isso com os noivos, mostrando que belo projeto de Deus é o ser humano!

Em um curto tempo de preparação próxima (encontro/curso de noivos) não podemos deixar de levá-los à reflexão que não podem se casar baseados em impulsos sexuais. Um casal não pode pensar que vai viver o relacionamento sexual durante toda a sua vida, além de ser necessária a abstinência em vários momentos (saúde, viagens etc). Assim, devem saber que o amor não se baseia no vigor sexual. Gosto de fazer perguntas incômodas aos noivos para provocar esta reflexão, baseado em fatos reais, como:

Se, ainda no seu primeiro ano de casado, sua esposa sofrer um acidente e ficar com algum tipo de lesão que não a permita, nunca mais, ter contato íntimo, você a abandonará?

De outro lado, é muito importante terem contato com a bela doutrina sobre o relacionamento sexual, onde “no casamento a intimidade corporal dos esposos se torna um sinal e um penhor de comunhão espiritual”. (CIC2360) Deve ser proclamado como algo bonito e prazeroso, que pode e deve ser bem vivido pelos casais.

Mas ainda encontramos pessoas que pensam a relação sexual matrimonial como pecado. Para estas, entre várias citações da Igreja, gosto de citar o Papa Pio XII, que no ano de 1951 (anterior à chamada revolução sexual!) ensinava: “O próprio Criador estabeleceu que nesta função os esposos sentissem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles aceitam o que o Criador lhes destinou”.

Contudo, devem ser advertidos que a vida sexual pode passar por dificuldades, mas não pode ser deixada de lado. O diálogo, que gera conhecimento (Edição do Zenit de 31 de Outubro), também aproximará o casal para conhecer suas dificuldades e procurar caminhos em uma verdadeira amizade. E também não podem esquecer a força que “a graça do sacramento do matrimonio exerce sobre todas as realidades da vida conjugal, e, portanto, também sobre a sua sexualidade: o dom do Espírito, acolhido e correspondido pelos cônjuges, ajuda-os a viver a sexualidade humana segundo o plano de Deus[…].”(FC33)

Paz e bem!

André Parreira (alparreira@gmail.com), da diocese de São João del-Rei-MG, é autor de livros sobre a preparação para o matrimônio e responsável no Brasil pelo DVD “Sim, Aceito!”, lançado em parceria com a Pastoral Familiar da CNBB. Empresário, casado e pai de 6 filhos, colabora na formação de jovens e casais e é colunista colaborador de ZENIT. 

Scroll to Top