Rio de Janeiro (RV) – A preparação para o matrimônio, para a vida conjugal e familiar, é de importância relevante para o bem da Igreja. De fato, o Sacramento do Matrimônio tem um grande valor para toda a comunidade cristã e, em primeiro lugar, para os esposos, cuja decisão é tão grande que não poderia ser sujeita à improvisação ou a escolhas apressadas. Em outras épocas, tal preparação podia contar com o apoio da sociedade, a qual reconhecia os valores e os benefícios do matrimônio. A Igreja, sem obstáculos ou dúvidas, tutelava a sua santidade, sabedora do fato de que o Sacramento do Matrimônio representava uma garantia eclesial, qual célula vital do Povo de Deus. O apoio eclesial era, pelo menos nas comunidades realmente evangelizadas, firme, unitário, compacto.
Hoje, ao contrário, em não poucos casos assiste-se a um acentuado deterioramento da família e a certa corrupção dos valores do matrimônio. Em numerosas nações, sobretudo economicamente desenvolvidas, o índice de casamentos é reduzido. Costuma-se contrair matrimônio numa idade mais avançada e aumenta o número das separações, até mesmo nos primeiros anos de vida conjugal. Tudo isto leva, inevitavelmente, a uma inquietação pastoral, mil vezes reforçada. Quem contrai matrimônio está realmente preparado para isso? O problema da preparação para o Sacramento do Matrimônio, e para a vida que se lhe segue, emerge como uma grande necessidade pastoral, antes de tudo para o bem dos esposos, para toda a comunidade cristã e para a sociedade. Por isso, crescem em toda parte o interesse e as iniciativas para fornecer respostas adequadas e oportunas à preparação para o Sacramento do Matrimônio. Hoje se fala muito mais de um percurso para preparar o casal para a vida cristã do que apenas em um curso de preparação. É necessário um itinerário de iniciação cristã que leve o casal a assumir a sua bela vocação matrimonial. A preparação próxima seria apenas um retiro espiritual que ajudaria a celebrar cristãmente o enlace matrimonial. A importância da preparação implica um processo de evangelização, que é maturação e aprofundamento na fé. Se a fé está debilitada e quase inexistente (Familiaris Consortio = FC 68), é necessário reavivá-la e não se pode excluir uma exigente e paciente instrução que suscite e alimente o ardor de uma fé viva. Sobretudo onde o ambiente se paganizou, será particularmente aconselhável um “itinerário que recalque dinamismos do catecumenato” (FC66) e uma apresentação das verdades cristãs fundamentais que ajudem a adquirir ou a reforçar a maturidade da fé dos contraentes. “É desejável que o momento privilegiado da preparação para o matrimónio se transforme, como sinal de esperança, numa Nova Evangelização para as futuras famílias”. O Código de Direito Canônico estabelece que se faça “a preparação pessoal para a celebração do matrimônio, pela qual os esposos se disponham para a santidade e os deveres do seu novo estado” (CIC can. 1063, 2, CCEOcan. 783, § 1), disposição também presente no Ordo Celebrandi Matrimonium =OCM12.
E no discurso de São João Paulo II à Assembleia Plenária do Conselho para a Família (4 de outubro de 1991) acrescentava: “Quanto maiores forem as dificuldades ambientais para conhecer a verdade do sacramento cristão e da própria instituição matrimonial, tanto maiores devem ser os esforços de preparar adequadamente os esposos para as suas responsabilidades”. E continuava ainda com observações mais concretas referentes aos cursos propriamente ditos: “Tendes podido observar que, dada a necessidade de realizar tais cursos nas paróquias, considerando os resultados positivos dos vários métodos usados, parece conveniente que se proceda a uma determinação exata dos critérios a adotar, sob a forma de Guia ou de Diretório, para oferecer uma ajuda válida às Igrejas particulares. Tanto mais que no interior das Igrejas particulares, por parte do povo da vida e pela vida”, resulta decisiva a responsabilidade da família: é uma responsabilidade que brota da própria natureza dela – uma comunidade de vida e de amor, fundada sobre o matrimônio e da sua missão, que é “guardar, revelar e comunicar o amor “(EV
92 e FC17).
Portanto, o matrimônio como comunidade de vida e de amor, quer como instituição divina natural, quer como sacramento, não obstante as dificuldades presentes, conserva sempre em si uma fonte de energias formidáveis (FC
43), que, com o testemunho dos esposos, se pode tornar uma Boa Notícia, e contribuir fortemente para a nova evangelização e assegurar o futuro da sociedade. Tais energias precisam, todavia, ser descobertas, apreciadas e valorizadas pelos próprios esposos e pela comunidade eclesial na fase que precede a celebração do matrimônio e que constitui a preparação para ele.
Um dos grandes desafios do Sínodo Extraordinário sobre a Família, de que estou participando desde o dia 05 e que irá até o dia 19 de outubro, é uma oportunidade de analisarmos a preparação para o Sacramento do Matrimônio. Como a Igreja responderá aos desafios hodiernos de muitos jovens que se afastam da vida matrimonial? Pediria a todos os homens e mulheres de boa vontade que me acompanhassem com as suas orações nestes dias de estudos, de partilhas e de busca de caminhos pastorais em favor do favore-cimento do sagrado Sacramento do Matrimônio. Cardeal Orani João Tempesta, O.Cist. Arcebispo Metropolitano de S. Sebastião do Rio de Janeiro, RJ