Papa marca Sínodo sobre os jovens para debater fé e discernimento vocacional

Foi com alguma surpresa que os católicos ouviram nos meios de comunicação social que o Papa tinha marcado um novo sínodo, para 2018, sobre os jovens. Francisco escolheu aquele que será, possivelmente, o tema mais difícil de abordar pela Igreja nos dias de hoje.

 

O Papa Francisco marcou para 2018 um sínodo dos bispos sobre a juventude. Com o tema «os jovens, a fé e o discernimento vocacional», o Pontífice pretende dar «continuidade» ao sínodo sobre a família e à Exortação Amoris laetitia.. «O tema, expressão da preocupação pastoral da Igreja para com os jovens, está na continuidade dos resultados das recentes assembleias sinodais sobre a família e do conteúdo da Exortação Pós-Sinodal Amoris laetitia», diz o comunicado da Sala de Imprensa da Santa Sé que anunciou o tema do sínodo.

Francisco pretende «acompanhar os jovens no seu caminho de crescimento, para que, através de um processo de discernimento, possam descobrir o seu projeto de vida e realizá-lo com alegria, abrindo-se ao encontro com Deus e com os homens, e participando ativamente na edificação da Igreja e da sociedade», e para isso vai chamar bispos de todo o mundo.

Para D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar de Lisboa e membro da Comissão Episcopal Laicado e Família, que é quem acompanha os movimentos da juventude católicos em Portugal, o tema provoca-lhe «enorme satisfação». «O Papa, na Jornada mundial da Juventude de Cracóvia, disse que a Igreja olhava para os jovens e queria aprender com eles. Desafiou-os a acreditarem que as coisas podem mudar, a serem construtores de pontes de fraternidade, protagonistas da história, a deixarem uma “marca” na vida, uma marca que determine a história, a sua própria história e a história de muitos. O sínodo certamente que vai suscitar o contributo dos jovens para a transformação da sociedade, da Igreja e da família em que o Papa Francisco está profundamente empenhado. É por isso uma bela notícia, carregada de grande esperança», afirma o prelado, em entrevista à FAMÍLIA CRISTÃ.

Um anúncio com cerca de dois anos de antecedência leva a crer que Francisco quererá emprestar o mesmo dinamismo sinodal que conseguiu com os sínodos sobre a família, nomeadamente na parte preparatória dos documentos de trabalho sinodais. Os lineamenta deverão ser divulgados em breve, e deverão chamar a que todos os jovens se pronunciem sobre os temas que mais lhes dizem respeito. D. Joaquim Mendes acredita que estes responderão em conformidade. «Estou convicto de que os jovens, se forem chamados a participar na preparação do sínodo, como aconteceu com o sínodo da Família, aderirão com grande entusiasmo, interesse e responsabilidade e em grande número. Basta ver o modo como eles respondem ao convite do Papa para participarem nas Jornadas Mundiais da Juventude, não só em número mas também, a maior parte, com uma grande e forte motivação de fé, o modo como a vivem e como manifestam a sua identidade de jovens cristãos, o testemunho de fraternidade, de convivência e alegria genuína que manifestam. Os jovens são inteligentes e profundos e têm muito para oferecer e para ensinar. Estou certo de que o vão mostrar neste sínodo», sustenta o prelado.

Mas não serão apenas os jovens os chamados a tomar parte na reflexão sinodal. Os próprios movimentos juvenis terão certamente um papel importante a desempenhar quer na motivação dos jovens, quer na participação nas reflexões. O Corpo Nacional de Escutas (CNE), o maior movimento juvenil em Portugal, é um desses movimentos. «A Igreja já se habituou a viver em sínodo, que as coisas não sejam só tratadas lá em cima, mas se envolva todo o povo de Deus no caminho de discernimento e todas as opiniões sejam consideradas. Isto responsabiliza ainda mais os movimentos como o CNE de se envolverem nesta reflexão e de darem o seu contributo. Somos o maior movimento mundial, e em Portugal, e isto responsabiliza-nos a tomar parte no caminho sinodal», afirma o Pe. Luís Marinho, assistente nacional do CNE.

Para este sacerdote, o tema do sínodo vem «ao coração» do trabalho do CNE. «Vem ao coração do nosso trabalho, do nosso método educativo, do nosso público, demonstra o quanto para a Igreja são importantes os jovens, de tal forma que o Papa propõe um sínodo, que caminhemos juntos, que reflitamos, sobre as dimensões da fé e do discernimento, ajustando que uma se conjuga com a outra», diz à FAMÍLIA CRISTÃ.

Desde João Paulo II, que criou a Jornada Mundial de Juventude, que a Igreja se tem debruçado sobre a melhor forma de chegar até aos jovens. «Precisamos de encontrar as palavras, as motivações e os testemunhos que nos ajudem a tocar as cordas mais íntimas dos jovens, onde são mais capazes de generosidade, de compromisso, de amor e até mesmo de heroísmo», diz o Papa Francisco na Exortação Amoris laetitia. E é sobre isso que a Igreja é chamada a reflectir nos próximos dois anos.

Artigo de Ricardo Perna, publicado em Família Cristã, novembro 2016

 

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