O Papa e sua admiração pelo povo chinês e a cultura chinesa

O Santo Padre concedeu uma entrevista a Asia Times, na qual incentiva a China a olhar em frente com esperança

 

2 fevereiro 2016 – O Papa Francisco concedeu uma entrevista a um jornalista da Asia Times, no último dia 28 de janeiro. Uma longa conversa na qual ele fala sobre a história, a cultura e o futuro da China. Dessa forma o Papa dá uma mensagem de esperança, paz e reconciliação. Além do mais, o Pontífice enviou as suas felicitações pelo Ano Novo Chinês, ao povo chinês e ao presidente Xi Jinping.

Na entrevista, Francisco explica o que a China representa para ele. “Para mim, a China sempre foi um ponto de referência de grandeza. Um grande país. Mas, mais do que um país, uma grande cultura, com uma sabedoria inesgotável”, indica. Da mesma forma reconhece que sempre teve admiração por esta nação. E recorda Matteo Ricci, um missionário italiano jesuíta do final do século XVI que passou quase 30 anos pregando na China. “A experiência de Ricci nos ensina que é necessário estabelecer um diálogo com a China, já que é uma junção de sabedoria e de história. É uma terra abençoada com muitas coisas”, diz. E esclarece que a Igreja Católica, que respeita todas as civilizações, tem o dever de respeitar com “R” maiúsculo.

Por outro lado, o Santo Padre recomenda que o povo chinês “esteja calmo”, “alimente a confiança na própria grande história, sem auto castigar-se pelas tragédias do passado”. Também lhes indica que o mundo espera deles uma contribuição de sabedoria e de civilização. Além do mais, o Papa Francisco aposta na possibilidade de que as relações entre a República Popular da China e o resto da comunidade internacional contribuam para desenhar um futuro de paz.

O jornalista que realiza a entrevista, Francisco Sisci explica na introdução que não tinha a intenção de perguntar ao Papa sobre questões cruciais estritamente políticas. Ele estava mais interessado nas questões que tocam o povo chinês na sua vida diária.

O Papa também diz em sua entrevista que a sabedoria, a cultura e as habilidades técnicas chinesas “não podem permanecer fechadas no seu país: estas tendem a se expandir, a difundir-se, a comunicar-se”. E isso é visto como uma contribuição de riqueza que deve ser acolhida, e não como um perigo.

O Santo Padre aposta em uma China que possa oferecer uma contribuição cada vez mais relevante para a consolidação de equilíbrios de paz: “O mundo ocidental, o mundo oriental, e China, todos têm a capacidade de manter o equilíbrio da paz e a força para fazê-lo. Nós devemos encontrar o caminho. Sempre através do diálogo, não existe outro caminho”. Fazendo referência à conferência de Yalta depois da II Guerra mundial, o Pontífice observa que dividir a torta como aconteceu lá “significa dividir a humanidade e a cultura em pequenos pedaços”. Pelo contrário, na assunção comum de responsabilidades compartilhadas, “a torta permanece inteira, e se caminha juntos. Juntos. A torta pertence a todos, é humanidade, cultura… e cada um exercita a influência que contribui ao bem comum de todos”.

O Santo Padre vê o povo chinês em caminhada para “fazer seu futuro” e isso representa a sua grandeza. “Caminha, como todos os povos, através de luzes e sombras”. Nesta linha, o Pontífice sublinha que é preciso evitar os complexos de culpa, ao ponto de desprezar a própria história. Por isso dá um conselho muito preciso ao povo chinês: “não ser amargo, mas estar em paz com o teu caminho, também se cometestes erros”. Segundo o Papa, nunca se deve odiar a própria história como uma coisa “ruim”. Cada povo “deve reconciliar-se com a sua história” e isso pode fazer amadurecer, precisamente evitando auto flagelações e auto condenações.

Da mesma forma, especifica que uma atitude magnânima para consigo mesmo pode ajudar a resolver as graves emergências do presente e lidar com as incógnitas perigosas do futuro. O Papa Francisco observa que China “tem na própria história os recursos para sair das próprias aflições”. É preciso, acrescenta, “acolher a realidade tal como se apresenta”, com “realismo saudável”.

Outra questão abordada na entrevista é a política chinesa do “filho único”. Neste contexto o Santo Padre fala de um “problema doloroso” que coloca os filhos em condição de ter que suportar o peso dos pais e dos avós, e que deriva, por exemplo, do “egoísmo de alguns setores abastados que preferem não ter filhos”. Isso não é uma forma natural – diz o Pontífice – e entendo que a China se abriu a possibilidades nesta frente.

Por outro lado, o Bispo de Roma acredita que “a grande riqueza da China hoje consiste em olhar para o futuro a partir de um presente que está apoiado pela memória do seu passado cultural”. E esta riqueza pode emergir e facilitar o presente “precisamente graças ao diálogo com as outras realidades do mundo”. A propósito, recorda que o diálogo não significa “que me rendo” e que nas relações entre diferentes países é preciso evitar o perigo de “imposições ocultas” ou de “colonizações culturais”.

E assim conclui a entrevista felicitando pelo Ano Novo Chinês o presidente Xi Jinping, cumprimentando os líderes e todo o povo chinês, expressando o seu desejo de que não percam nunca a “consciência histórica de ser um grande povo, com uma grande história de sabedoria e que tem muito o que oferece ao mundo”. Da mesma forma garante-lhe que “o mundo olha para esta vossa grande sabedoria”.

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