O Papa denunciou a precariedade laboral e o trabalho clandestino

Em uma reunião com os líderes e trabalhadores do Instituto Nacional de Segurança Social na Itália, Francisco indica que a obrigação de santificar o descanso transforma-se em um tempo que permita cuidar da vida familiar, cultural, social e religiosa

 

Roma, 09 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Rocío Lancho García

O descanso é o direito que todos temos quando trabalhamos. Mas se a situação de desemprego, de injustiça social, de trabalho clandestino, de precariedade no trabalho é tão forte, como posso descansar? Esta é a reflexão que o santo Padre Francisco tem realizado com os líderes e trabalhadores do Instituto Nacional de Segurança Social na Itália.

No discurso dirigido a eles, na Praça de São Pedro, no último sábado, 7, Francisco observou que a eles foi confiado “o cuidado do direito ao descanso”. Refiro-me – especificou – não somente ao descanso que é mantido e legitimado por uma ampla série de prestações sociais, mas também e especialmente a uma dimensão do ser humano que não lhe faltam as raízes espirituais e que também vós sois responsáveis.

Além disso, o Santo Padre assegurou aos presentes que “a vossa difícil tarefa é contribuir para que não faltem os subsídios indispensáveis para os trabalhadores desempregados e suas famílias.” E lhes pediu que não falte entre as suas prioridades uma atenção privilegiada pelo trabalho feminino, bem como a assistência à maternidade que deve sempre cuidar da vida que nasce e daqueles que a servem diariamente. Que não falta nunca “o seguro pela velhice, a doença, as lesões decorrentes do trabalho”, exortou. E continuou: “que não falte o direito à aposentadoria, e destacou: o direito, a aposentadoria é um direito, porque é disso que se trata”.

Como recordou, “vós honrais a delicada tarefa de cuidar de alguns direitos legais do exercício do trabalho; direitos baseados na própria natureza da pessoa humana e da sua transcendente dignidade”.

Assim, explicou que o descanso, na linguagem da fé, é, portanto, uma dimensão humana e divina ao mesmo tempo. Com uma prerrogativa única: “não é uma simples abstenção do cansaço e do compromisso diário, mas uma ocasião para viver plenamente a própria criaturalidade elevada à dignidade filial do próprio Deus”.

Além disso, o Papa recordou que a exigência de “santificar” o descanso está vinculada a um tempo em que permita cuidar da vida familiar, cultural, social e religiosa, fazendo de todos estes horizontes um espaço e um tempo para Deus e para o homem.

Por isso, ressaltou para os presentes que “contribuem para colocar as bases para que o descanso possa ser vivido como dimensão autenticamente humana, e portanto, aberta à possibilidade de um encontro vivo com Deus e com os demais”.

Além disso, o Pontífice garantiu são chamados “a lidar com desafios cada vez mais complexos”. Desafios – indicou – que provém tanto da sociedade atual, com a criticidade dos seus equilíbrios e a fragilidade de suas relações; como do mundo do trabalho, cheio de falhas laborais e da precariedade das garantias que consegue oferecer.

Alertou que até algum tempo atrás era comum associar o objetivo da pensão à  chegada da terceira idade. Mas, observou, “a época moderna mudou sensivelmente os ritmos”. Por um lado, “a eventualidade do descanso antecipado, às vezes diluída no tempo, às vezes renegociada até os extremos aberrantes, como aquele distorce a própria ideia de uma parada laboral”. E, por outro lado, garantiu, “nunca nos esqueçamos das exigências de atenção, tanto para aqueles que perderam ou nunca tiveram um trabalho, como com aqueles que são obrigados a interrompê-los por vários motivos”.

Trabalhar, disse o Papa, quer dizer prolongar a obra de Deus na história, contribuindo de forma pessoa, útil e criativa. Dessa forma acrescentou que o trabalho “não pode ser prolongado ou reduzido em função do benefício de poucos e de formas produtivas que sacrificam valores, relações e princípios”.

Finalmente, Francisco pediu para “amar e servir a humanidade com consciência, responsabilidade e disponibilidade.” Trabalhem para quem trabalha – concluiu – e para quem quer fazê-lo, mas não pode. Não como solidariedade, mas como dever de justiça. 

 

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