O papa aos universitários: se não aprendemos a chorar, não somos bons cristãos

Certas realidades da vida são vistas apenas com os olhos limpos pelas lágrimas

 

Madri, 19 de Janeiro de 2015 (Zenit.org) Ivan de Vargas

Neste domingo de manhã, o papa Francisco se dirigiu a cerca de trinta mil jovens reunidos no campus da Pontifícia e Real Universidade de Santo Tomás, fundada há mais de quatrocentos anos pelo dominicano espanhol Miguel de Benavides, terceiro arcebispo de Manila. O encontro, uma liturgia da palavra, alternou cantos, breves leituras bíblicas e os testemunhos de jovens.

O Santo Padre começou o encontro com uma notícia triste: “Ontem, quando estava para começar a missa, caiu uma das torres, como esta, e atingiu uma moça que estava trabalhando. Ela morreu. Seu nome é Kristel. Ela trabalhou na organização desta missa. Tinha 27 anos; era jovem como vocês. Trabalhava para uma associação que se chama Catholic Relief Services. Era uma voluntária”.

Depois de um minuto de oração em silêncio, o pontífice e os jovens rezaram uma ave-maria por Kristel e um pai-nosso pelos seus pais. “Ela era filha única. Sua mãe está chegando de Hong Kong. Seu pai veio a Manila esperar a mãe”, disse o papa.

Em seu discurso, Francisco destacou que as apresentações ao longo da visita foram feitas principalmente por jovens rapazes e lamentou a pouca presença de mulheres. “As mulheres têm muito a nos dizer na sociedade de hoje. Às vezes, somos muito machistas e não damos espaço para a mulher”.

A única jovem a tomar a palavra foi Glyzelle Palomar, que viveu nas ruas até ser resgatada e acolhida no lar que o papa visitou na última sexta-feira. A menina de 12 anos foi às lágrimas ao perguntar por que as crianças sofrem.

Francisco observou que “a mulher é capaz de fazer perguntas que os homens não entendem de todo. Ela, hoje, fez a única pergunta que não tem resposta. E não conseguiu perguntar só com palavras e teve que falar com lágrimas”. Depois, todos aplaudiram quando o pontífice sugeriu: “Quando vier o próximo papa a Manila, tomara que haja mais mulheres”.

O Santo Padre agradeceu pelo testemunho da cruel vida nas ruas, dado por Jun e Glyzelle, e encorajou os jovens a “aprender a chorar”. “Jesus, no Evangelho, chorou”, disse ele. “Se não aprendemos a chorar, não somos bons cristãos! Certas realidades da vida são vistas apenas com os olhos limpos pelas lágrimas. Vamos aprender a chorar como ela nos ensinou hoje”, reforçou.

Francisco destacou também as palavras de Rikki, um engenheiro eletrônico de 29 anos que foi voluntário na região destruída pelo tufão Haiyan e que impulsionou o uso da Luz Noturna Solar. Depois de agradecer pela sua entrega, o papa convidou os jovens a não só ajudar os pobres, mas “aprender a mendigar daqueles a quem doamos”.

Em resposta à pergunta de Leandro sobre o excesso de informação e de aparelhos tecnológicos, o Santo Padre afirmou que estar informado “é bom e nos ajuda”, mas “aprender a amar” é a questão mais importante da vida. Por isso, ele chamou a juventude filipina a “amar e se deixar amar”. Com bom humor, propôs também que eles não tenham a “psicologia do computador”, de achar que sabem tudo e que têm todas as respostas. “Deixem-se surpreender por Deus, que sempre nos ama primeiro”.

“Corremos o risco de virar ‘jovens-museu’, que têm de tudo, mas não sabem o que fazer. Não precisamos de jovens-museu, mas de jovens sábios. Para isto, o Evangelho nos propõe um caminho sereno, tranquilo: usar as três linguagens. A linguagem da mente, a do coração e a das mãos. E as três linguagens harmoniosamente”.

Por fim, o papa lançou aos jovens os três desafios que eles têm de enfrentar: manter a integridade, proteger o meio ambiente e ajudar os pobres. Devido ao mau tempo, Francisco precisou usar uma capa de chuva amarela para saudar alguns dos jovens na esplanada e voltar à nunciatura a bordo do veículo panorâmico aberto.

 

Scroll to Top