O FUTURO É HOJE – Desafios novos para a Economia de Comunhão em Portugal

Economia e comunhão são palavras que, no dizer do Papa Francisco, «a cultura atual mantém bem separadas e muitas vezes considera até opostas», mas que Chiara Lubich, desde o início do Movimento dos Focolares, uniu. União que, em 1991, propôs aos empresários, fundando a Economia de Comunhão (EdC), um novo modo de agir económico.

 

Para dar continuidade a esta realidade, foi criada, em finais de 2016, uma rede internacional de incubação de economia de comunhão, a que Portugal aderiu desde o primeiro momento. Assim, no âmbito da Associação por uma Economia de Comunhão em Portugal (AEdC), foi instalado um dos nós dessa rede, um hub, a que se deu o nome de Paulo Melo (1) e que tem como objetivo principal dar impulso ao nascimento de novas empresas que adotem este novo agir.

A promoção do hub decorreu nos dias 18 e 19 de abril, em Lisboa e Leiria, através de várias iniciativas.

Em Lisboa foi lançado mais um livro de Luigino Bruni intitulado “À Procura de Novas Palavras para uma Economia Humana”. O livro foi apresentado pelos professores de psicologia Helena Águeda Marujo e Luís Miguel Neto, pelo professor de economia política Rogério Roque Amaro e pelo próprio Autor.

É um livro que nos recorda palavras antigas que exprimem virtudes, classificadas pelo Autor como pré-económicas, e que necessitam ser resgatadas. Como exemplificou o Autor, se o incentivo que as empresas adotam – criando a “ideologia do incentivo” para motivarem os seus trabalhadores a cumprir objetivos – for usado pelos pais em relação aos seus filhos na realização de pequenas atividades diárias, que são típicas da interajuda na família, destrói-se a generosidade, a dádiva. Generosidade que, como sublinhava Roque Amaro, da leitura do livro, requer a “castidade”, porque a pessoa generosa «não se aproveita das pessoas que vê à sua volta».

 

 
NÓS DE UMA REDE A Rede Internacional de Incubação de Economia de Comunhão é um projecto com o objectivo de:- fazer nascer e acompanhar empresas, usando uma metodogia que promove a colaboração nelas e entre elas;- envolver profissionais, empresários e pessoas comprometidas com a Economia de Comunhão;- promover uma economia que sirva a pessoa, uma cultura empresarial de comunhão de bens, de talentos e de lucros, e inclusiva dos deserdados da sociedade;Portugal faz parte da Rede, através de um hub (edc.iin.portugal@gmail.com), constituído na AEdC (www.aedc.pt), com sede no Pólo Empresarial, na Abrigada, Alenquer.
  Em Leiria, em colaboração com a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria, foi apresentado o hub (ver caixa), com a presença de estudantes e professores da escola. Foi realizada uma oficina com a metodologia de empreendedorismo de comunhão para o desenvolvimento de ideias de negócio, conduzida pelo professor Mário Matos. De seguida, Luigino Bruni explicou, usando a teoria dos  

Jogos, como é vantajosa a cooperação entre as empresas.

 

Beleza do trabalho

O dia terminou com um Jantar-conferência promovido em cooperação com a “Associação Cristã de Empresários e Gestores” (ACEGE). O seu tema foi “A família e o trabalho no contexto atual”. A conferência, proferida pelo presidente da ACEGE, Engº. João Pedro Tavares, e por Luigino Bruni, que é também o coordenador internacional da EdC, juntou empresários, individualidades do mundo político e associativo, e interessados no projeto de Economia de Comunhão.

João Pedro Tavares sublinhou que a “família e os valores” devem estar no centro das preocupações das empresas, porque a família «é a unidade social mais relevante da sociedade». Referiu ainda que a finalidade das empresas não é só o lucro, mas a criação de valor. E daí a importância das pessoas, salientando que é necessária a unidade de vida, porque «não podemos ser um pai carinhoso e um chefe tirano».

Luigino Bruni realçou a importância do trabalho, sobretudo do «trabalho feito em conjunto», porque a tendência atual é que o trabalho se torne individual, denunciando que «viver com rendimentos de exclusão social é uma grande derrota» da sociedade. Lembrou ainda que, na economia atual, o «consumo é o centro», transformado em ídolo, e, por isso, inimigo da família.

Naqueles dias esteve em discussão a vida das e nas empresas, a economia; como os “valores” da atual economia capitalista se tornam omnipresentes em todos os aspectos da vida, e como isso a empobrece; como estes “valores” “secam” as virtudes que herdámos e aprendemos em especial na família, mas que estamos a deixar que sejam substituídas.

 É nesse contexto que a EdC e o hub devem ser considerados. Se, como nos incitava o Papa Francisco, formos «sementes, sal e fermento de outra economia» – cooperando com outros que procuram trilhar caminhos que produzem estes valores e virtudes, que também querem trazer a economia ao seu “deve ser” -, podemos construir, desde já, o futuro.

 

 

1)      Paulo Melo, focolarino que faleceu a 12 de Setembro de 2016, era economista e entusiasta da EdC. Em África, onde viveu de 1997 a 2015, impulsionou vários projetos de desenvolvimento inculturados na realidade local , para a melhoria das condições de vida dos setores mais pobres da população.

 

 

Escrito por José Maria Raposo e publicado em Cidade Nova, junho de 2017

 

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