Não só de finanças vive o homem

Tanto na visita ao Equador quanto na Laudato Si’, o Papa Francisco recordou que o conceito de “justiça social” supera o de “justiça econômica”, com o direito fundamental do homem a uma vida digna

Roma, 13 de Julho de 2015 (ZENIT.org)

“Se alguém tem dificuldades, até graves, mesmo quando ela mesma as procurou, os outros vêm em seu auxílio, a apoiam”.

Assim falava como pai, o Papa Francisco, e se referia à família, tornando-a o eixo do seu discurso durante a sua viagem ao Equador, mas usando-a também como mensagem metafórica para a Europa, lutando com o caos gerado pela questão grega e as repercussões causadas pela busca de um acordo precário e frágil, que revela a incapacidade de ir além dos limites da finança para tornar-se verdadeira união das nações e dos sentimentos humanitários.

Os fatos não deixam margem para interpretações diferentes: a sociedade contemporânea é uma sociedade que privilegia, não só no âmbito financeiro, a busca compreensível – mas às vezes obsessiva – de perspectivas estáveis e de proteção dos riscos, e que por isso, sente-se ameaçada. Na vida de cada dia, como na criação do destino comum, tornou-se impaciente com as dificuldades. Por isso, quando estas surgem, desata o instinto de conservação, quase de sobrevivência. O mesmo que talvez surja quando aparecem no horizonte barcos carregados de imigrantes.

No entanto, justamente os barcos da esperança, e a própria crise grega, demonstram que não é suficiente uma economia forte para tornar uma região ou uma nação fortes. Não basta estar orgulhoso do espírito de independência para fazer um povo verdadeiramente livres. O que acontece, e que as notícias repetem, mostra, pelo contrário, a necessidade de uma mudança de perspectiva cultural, necessária para compreender que não é preciso fazer de alguns princípios econômicos fetiches, avaliando, pelo contrário, a efetiva utilidade deles em prol do bem comum e colocando muito mais solidariedade e fraternidade nas engrenagens da economia.

Também nos lembra isso o fato de que hoje se celebre a Jornada internacional da ONU para a cooperação: o futuro é possível só se sustentável e se construído juntos. “Os bens são destinados a todos”, destaca o próprio Santo Padre no seu discurso pronunciado em Quito: “Por mais que se ostente a sua propriedade, pesa sobre ela uma hipoteca social. Assim se supera o conceito econômico de justiça, baseado no princípio de compra-venda, que o conceito de justiça social, que defende o direito fundamental do indivíduo a uma vida digna”. Palavras parecidas à recente encíclica Laudato Si’, com o convite a reconhecer-se todos como membros de uma única família humana, filhos do mesmo pai, habitantes da mesma casa comum. Tornar-se um sentir finalmente e concretamente universal, consentiria evitar tanto estéreis involuções tecnocráticas, quanto perigosas derivações populistas, salvando os três princípios cardeais de autodeterminação, subsidiariedade e solidariedade, indispensáveis para continuar a acreditar em uma Europa das pessoas. Um sonho difícil, mas não impossível.

Por Mons. Vincenzo Bertolone 

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