Jogos de futebol na Semana Santa mostra que o Ocidente se descristianiza sozinho

ROMA, 29 Mar. 16 / 05:30 pm (ACI).- O colunista da rede Deutsche Welle (DW), Felix Steiner, assinalou que o jogo de futebol entre a Inglaterra e Alemanha disputado no Sábado Santo mostra que, “no Ocidente cristão, já não resta nada sagrado” e que, se “os alemães tiverem medo de que seu país se ‘islamize’”, o certo é que esta nação “se afasta por si mesmo e por sua própria escolha cada vez mais de suas raízes cristãs”.

 

Nesta Semana Santa, enquanto os cristãos recordam a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, a FIFA programou em países de maioria cristã encontros amistosos como Espanha e Itália, Holanda e França, Alemanha e Inglaterra, entre outros; enquanto na América foram disputados na Quinta-feira e Sexta-feira Santa encontros das eliminatórias para a Copa do Mundo na Rússia 2018.

Na Sexta-feira Santa, uma das partidas disputadas foi entre as seleções do Brasil e do Uruguai, em Recife (PE). Diante disso, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, questionou em seu Facebook: “Futebol com Seleção em plena Sexta-Feira Santa?! Será que foi a melhor escolha?”.

No artigo publicado na página da DW, o colunista Felix Steiner assinalou que um fato assim não ocorreria “em nenhum país muçulmano (…), pois o esporte está claramente atrás da religião”.

Os alemães, indicou, temem que seu país se islamize, sobretudo como resultado da crise migratória que está levando milhares de muçulmanos do Oriente Médio à Europa. Em setembro, recordou, a chanceler Angela Merkel disse que não se pode acusar os muçulmanos por viver sua fé e praticar sua religião; “e recomendou aos atribulados cristãos que voltassem para sua própria fé e suas tradições”.

Entretanto, assinalou o colunista, ao que parece esta recomendação da líder política teve pouco eco na população alemã, pois, “enquanto os católicos vão à igreja para celebrar o dia mais importante do calendário eclesiástico e pensar na ressurreição de Cristo, no estádio olímpico de Berlim acontece o jogo internacional entre Alemanha e Inglaterra”, com vitória final dos ingleses por 3 a 2.

“Na verdade, em nenhum país muçulmano – assinalou – seria possível que coincidissem ambos, pois o esporte está claramente em segundo plano, depois da religião. Também é verdade que o presidente da Federação Alemã de Futebol não é muçulmano. Não se trata, portanto, de maneira nenhuma, de uma provocação do Islã”.

“Ao que parece, no fortemente comercializado futebol europeu, não havia outra data possível para um jogo esportivamente irrelevante. Assim, os sentimentos religiosos tropeçam com o grande negócio dos patrocinadores e dos direitos de emissão por televisão”, expressou.

Além disso, disse que “a triste realidade” é que hoje em dia apenas cinco por cento dos protestantes e 10 por cento dos católicos participam das celebrações religiosas.

“Não pode ser por motivos econômicos, pois na Alemanha ‘os bolsos estão cheios e as igrejas cada vez mais vazias’”, assinalou, citando uma recente entrevista feita ao Arcebispo Georg Gänswein, secretário do Papa Francisco, a DW.

A isto se soma que “defender os crentes ou os interesses da Igreja está totalmente fora de moda na Alemanha, inclusive entre os mais altos círculos eclesiásticos”, o que explica “que ninguém tenha reagido ante o Jogo do Sábado Santo, nem os bispos nem a organização leiga ‘Comitê Central dos Católicos Alemães’, sempre disposta a emitir comunicados de imprensa”.

Nesse sentido, disse que fica claro que “a Alemanha se afasta por si mesma e por sua própria vontade cada vez mais de suas raízes cristãs”.

“A tradição religiosa somente pode esperar aceitação ilimitada quando existem por trás interesses comerciais: os presentes de São Nicolau no Natal e os da Páscoa, típicos destas datas. Quando o calendário eclesiástico exige restrição de consumo, como em época de Quaresma ou o Dia de Finados, em novembro, declaram os crentes como um grupo marginal, uma minoria que não deve ditar as normas de comportamento da maioria, secularizada há muito tempo”, criticou.

“Chegados a este ponto, podemos aventurar um prognóstico atrevido: em algum momento dos próximos 25 anos, os comércios na Alemanha abrirão na Sexta-feira Santa. Mas não será devido à maior influência do atual cinco por cento de população muçulmana, mas pela falta de respeito de uma crescente parte da população irreligiosa para a cultura religiosa e as tradições sociais na Europa”.

“Algum comerciante varejista – indicou – irá a julgamento para pedir o direito de vender calças e celulares, argumentando que os parques de diversões também estão abertos durante a Sexta-feira Santa, um dia tradicionalmente ‘tranquilo’. E o juiz lhe dará a razão, primeiro porque se trata de dinheiro e segundo porque o vendedor de calças poderia estar sendo prejudicado. E ninguém se incomodará por isso. Porque, no Ocidente cristão, já nada é sagrado para ninguém”.

 

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