Audiência geral de quarta-feira 7 de janeiro, do Papa Francisco sobre o «papel central» das mães na sociedade, publicada em L’Osservatore Romano, 8 janeiro 2015
«O «papel central» das mães na sociedade foi realçado pelo Papa na audiência geral de quarta-feira 7 de Janeiro, na Sala Paulo VI. «São o antídoto mais forte contra o individualismo», recordou o Pontífice, frisando que muitas vezes a sua disponibilidade é explorada «para economizar nas despesas sociais».
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Hoje continuamos com as catequeses sobre a Igreja e faremos uma reflexão sobre a Igreja mãe. A Igreja é mãe. A nossa Santa mãe Igreja.
Nestes dias a liturgia da Igreja colocou diante dos nossos olhos o ícone da Virgem Maria Mãe de Deus. O primeiro dia do ano é a festa da Mãe de Deus, à qual se segue a Epifania, com a recordação da visita dos Magos. Escreve o evangelista Mateus: «Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, adoraram-no» (Mt 2, 11). É a Mãe que, depois do ter gerado, apresenta o Filho ao mundo. Ela dá-nos Jesus, ela mostra-nos Jesus, ela faz-nos ver Jesus.
Continuamos com as catequeses sobre a família e na família há a mãe. Cada pessoa humana deve a vida a uma mãe, e quase sempre lhe deve muito da própria existência sucessiva, da formação humana e espiritual. Contudo, a mãe, embora seja muito exaltada sob o ponto de vista simbólico – muitas poesias, muitas coisas bonitas se dizem poeticamente sobre a mãe – é pouco escutada e pouco ajudada no dia-a-dia, pouco considerada no seu papel central na sociedade. Aliás, muitas vezes aproveita-se da disponibilidade das mães a sacrificar-se pelos filhos para «economizar» nas despesas sociais.
Acontece também que na comunidade cristã a mãe nem sempre é valorizada, é pouco ouvida. Todavia, no centro da vida da Igreja está a Mãe de Jesus. Talvez as mães, prontas para muitos sacrifícios pelos filhos, e frequentemente também pelos dos outros, deveriam ser escutadas. Seria necessário compreender melhor a sua luta quotidiana para serem eficientes no trabalho e diligentes e afectuosas em família; seria necessário compreender melhor quais são as suas aspirações a fim de expressar os frutos melhores e autênticos da sua emancipação. Uma mãe com os filhos tem sempre problemas, trabalhos. Lembro-me que em casa, éramos cinco filhos e enquanto um fazia uma travessura, o outro fazia outra, e a minha pobre mãe corria de um lado para o outro, mas era feliz. Deu-nos tanto.
As mães são o antídoto mais forte contra o propagar-se do individualismo egoísta. «Indivíduo» quer dizer «que não se pode dividir». As mães, ao contrário, «dividem-se», a partir do momento que hospedam um filho para o dar à luz e fazer crescer. São elas, as mães, que mais odeiam a guerra, que mata os seus filhos. Muitas vezes pensei naquelas mães quando receberam uma carta: «Digo-lhe que o seu filho morreu em defesa da pátria…». Pobres mulheres! Como sofre uma mãe! São elas que testemunham a beleza da vida. O arcebispo Oscar Arnulfo Romero dizia que as mães vivem um «martírio materno». Na homilia para o funeral de um sacerdote assassinado pelos esquadrões da morte, ele disse, fazendo eco ao Concílio Vaticano II: «Todos devemos estar dispostos a morrer pela nossa fé, ainda que o Senhor não nos conceda esta honra… Dar a vida não significa somente ser assassinado; dar a vida, ter espírito de martírio, é dar no dever, no silêncio, na oração, no cumprimento honesto do dever; naquele silencio da vida quotidiana; dar a vida pouco a pouco? Sim, como a dá uma mãe que, sem temor, com a simplicidade do martírio materno, concebe no seu seio um filho, dando-o à luz, amamentando-o, fazendo-o crescer e cuidando dele com carinho. É dar a vida. É martírio». Termino aqui a citação. Sim, ser mãe não significa somente colocar um filho no mundo, mas é também uma escolha de vida. O que escolhe uma mãe, qual é a escolha de vida de uma mãe? A escolha de vida de uma mãe é a escolha de dar a vida. E isto é grande, é bonito.
Uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral. As mães transmitem, muitas vezes, também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende, está inscrito o valor da fé na vida de um ser humano. É uma mensagem que as mães que acreditam sabem transmitir sem tantas explicações: estas chegarão depois, mas a semente da fé está naqueles primeiros, preciosíssimos momentos. Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo. E a Igreja é mãe, com tudo isso, é nossa mãe! Nós não somos órfãos, temos uma mãe! Nossa Senhora, a mãe Igreja e a nossa mãe. Não somos órfãos, somos filhos da Igreja, somos filhos de Nossa Senhora e somos filhos das nossas mães.
Queridas mães, obrigado, obrigado por aquilo que sois na família e por que o dais à Igreja e ao mundo. E a ti, amada Igreja, obrigado por ser mãe. E a ti, Maria, mãe de Deus, obrigado por nos fazer ver Jesus. E obrigado a todas as mães aqui presentes: saudemo-las com um aplauso!
Depois da audiência geral o Santo Padre saudou os fiéis dirigindo, entre outras, as seguintes saudações.
Amados peregrinos de língua portuguesa, agradecido pelos votos e preces dirigidas a Deus por mim durante as festividades do Natal, de todo o coração desejo a todos um feliz Ano Novo, pedindo a Nossa Senhora, Mãe de Deus e da Igreja, que seja a estrela que protege a vida das vossas famílias. Que Deus vos abençoe!
Dirijo um pensamento especial aos jovens, aos doentes e aos recém-casados. Eu chamo aos recém-casados corajosos porque hoje é preciso ter coragem para casar! Parabéns. Depois da Solenidade da Epifania, continuemos também nós a olhar aquela estrela que os Magos seguiram. Caros jovens, sede testemunhas entusiastas da luz de Cristo entre os vossos coetâneos; caros doentes, hauri desta luz a coragem na dor; e vós, caros recém-casados, sede sinal da presença luminosa de Deus com o vosso amor fiel.