Em audiência com os participantes do Congresso Mundial “Educar Hoje e Amanhã”, o pontífice falou dos riscos de uma educação seletiva e elitista
Cidade do Vaticano, 23 de Novembro de 2015 (ZENIT.org) Redação – O papa Francisco recebeu neste sábado os mais de sete mil participantes do Congresso Mundial “Educar Hoje e Amanhã – uma paixão que se renova”, promovido pela Congregação para a Educação Católica.
Respondendo de forma improvisada a algumas perguntas, o Santo Padre sublinhou que os professores estão entre os trabalhadores mais mal remunerados, mas desempenham um papel extraordinário na promoção da humanidade. O pontífice alertou também para os riscos de uma educação seletiva, que distancia os ricos dos pobres, e convidou os presentes a apostarem numa educação inclusiva.
“Não se pode falar de educação católica sem falar de humanidade, porque, precisamente, a identidade católica é Deus que se fez homem. Educar cristãmente não é só fazer uma catequese. Isto é uma parte. Não é só fazer proselitismo. Não façam nunca proselitismo nas escolas! Nunca! A educação cristã é levar para frente os jovens, as crianças, nos valores humanos, em toda a realidade, e uma dessas realidades é o transcendente”.
Hoje, prosseguiu Francisco, existe uma tendência ao “neopositivismo, ou seja, a educar nas coisas imanentes, no valor das coisas imanentes, e isto acontece nos países de tradição cristã e também nos países de outras tradições. Falta a transcendência”.
Para o Santo Padre, “a maior crise da educação, para que seja cristã, é este fechamento ao transcendente. Estamos fechados à transcendência. [Temos que] preparar os corações para que o Senhor se manifeste, mas em sua totalidade, ou seja, na totalidade da humanidade, que também tem esta dimensão da transcendência; educar humanamente, mas com horizontes abertos”, enfatizou.
“A educação se tornou seletiva e elitista demais”, parecendo que só algumas pessoas de certo nível econômico têm direito a ela, observou Francisco. “É uma realidade que nos leva a uma seleção humana, que, em vez de unir os povos, os separa e distancia os ricos dos pobres, distancia esta cultura daquela. E isto também ocorre nas pequenas coisas: foi rompido o pacto educativo entre a família e a escola! Temos que voltar a começar”.
Entre “os trabalhadores mais mal remunerados estão os educadores, e isto significa simplesmente que o Estado não tem interesse. Se tivesse, as coisas não estariam assim”, continuou o papa. “Este é o nosso trabalho: buscar novos caminhos. Hoje precisamos de uma educação de emergência, precisamos arriscar com a educação informal, porque a educação formal se empobreceu devido à herança do positivismo. Só concebe um tecnicismo intelectualista e a linguagem da cabeça. Temos que romper este esquema”.
A verdadeira escola, explicou Francisco, “deve ensinar conceitos, hábitos e valores. Quando uma escola não consegue fazer isto, ela é seletiva e exclusiva, para poucos”.
O Santo Padre reiterou que o primeiro desafio é deixar os “lugares onde há muitos educadores” e ir “para as periferias”, porque é lá que os jovens têm “a experiência da sobrevivência”, têm a “humanidade ferida”; é a partir destas feridas que deve começar o trabalho do educador. “Não se trata de ir lá para fazer caridade, para ensinar a ler, para dar comida. Não. Tudo isso é necessário, mas é temporal. É o primeiro passo. O problema, e esse é o desafio que eu encorajo vocês a aceitar, é ir até lá para fazê-los crescer em humanidade, em inteligência, em valores, em hábitos, para que eles possam seguir em frente e levar aos outros experiências que eles não conhecem”.
Por fim, o pontífice apontou que “o maior fracasso que um educador pode ter é educar ‘dentro dos muros’. Educar no interior dos muros de uma cultura seletiva, de uma cultura da segurança, de um setor social acomodado e do qual não pode mais sair”.
O Congresso “Educar Hoje e Amanhã – uma paixão que se renova” aconteceu na localidade de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma. Durante três dias, educadores de diferentes partes do mundo refletiram à luz de dois documentos conciliares: a declaração Gravissimum educationis e a constituição apostólica Ex corde Ecclesiae. Ambos os textos orientam na busca de soluções para a problemática educativa e reforçam o compromisso da Igreja neste âmbito.