(Uma opinião de José Luís Araújo, artigo publicado em Flor de Lis, Abril/Maio 2014)
Como é meu hábito quando recebo a Flor de Lis, dou-lhe uma passagem breve para seleccionar os artigos mais interessantes ou de maior relevo e vou-os lendo por essa ordem.
Saltou-me à vista o do Ricardo Perna na rubrica “Acha na Fogueira” da revista de janeiro, e li-o.
Permiti-me dividi-lo em duas partes: a primeira, que aborda a questão de o Escutismo ser, ou não, para todos, quando se pretende prescindir da sua essência, ou parte dela, para satisfazer outros interesses que não os do Ideal de B-P, e a segunda, muito mais preocupante, e que tem a ver com a possível decisão dos escuteiros ingleses de retirarem da fórmula da Promessa a referência a Deus, que o mesmo será dizer retirá-l’O do conceito que levou Baden-Powell a criar este movimento fantástico que é o Escutismo.
Entretanto, li, também, a entrevista feita a Gerry Glynn, irlandês que deixou, agora, o cargo de secretário-geral da Região Europa-Mediterrâneo, da CICE e aí, sim, fiquei perplexo com a resposta que deu à Lis sobre este assunto, quando lhe perguntaram “se lhes tinham pedido a opinião sobre esta questão da promessa para ateus: – Não, nem o vão fazer, porque é uma decisão interna do Reino Unido.” Embora tenha acrescentado o seu desacordo e de outros, quanto a esta posição dos ingleses ou dos britânicos.
B-P foi muito claro quando deu os primeiros passos em Brownsea e fundou, a seguir, o Escutismo, estabelecendo uma estreita relação com Deus, sem o qual a existência do Homem não é possível. Não estabeleceu uma determinada religião para o fazer, porque entendia que Deus é Universal e é interiorizado, vivido e interpretado de várias formas, convergindo num único sentido: o encontro do Homem com Deus.
A vida do fundador pautou-se, sempre, por este princípio, que nos legou.
Daí termos Escutismo em todas as religiões, assim consideradas. Sem conflitos.
Ora, se é assim, a CICE, bem como a OMME, já deveriam ter informado os ingleses de que retirar Deus da sua associação implica, tão-somente, deixarem de pertencer ao movimento escutista. O Escutismo não se fez para ateus confessos e outros, que merecem, apesar disso, obviamente, o meu respeito. Fez-se, isso sim, para aqueles que têm em Deus o seu suporte e para todos aqueles que pretendam vir a tê-lo.
As bases, os alicerces do Escutismo, são inabaláveis. Este movimento não pode andar ao sabor dos interesses de grupos. Este movimento tem por missão ajudar a crescer em bem os jovens que lhe estão confiados, assente na Lei, nos Princípios e na Promessa, onde Deus e a Pátria são inquestionáveis. Em qualquer lugar, em qualquer país.
Ninguém é obrigado a pertencer a este movimento, do mesmo modo que ninguém, sobretudo de dentro dele, tem o direito de lhe pretender alterar os princípios para satisfazer interesses terceiros.
Sempre disse, e continuo a dizê-lo, que o Escutismo tem uma missão a desempenhar junto dos jovens. Quando estes entenderem que essa missão já não os alicia, o Escutismo, enquanto tal, deverá fechar a porta e dar por terminada a sua função junto e em prol da sociedade.
Não pode subverter os seus fundamentos.
Num tempo em que tudo se vende por coisa nenhuma, tenhamos a firmeza de carácter para não o fazermos. Quanto mais não seja, por respeito com Baden-Powell.
Enquanto isso não acontece, tanto a CICE como a OMME, já deveriam ter agido junto dos escuteiros ingleses, como já disse, para evitarem ter de reagir, que é sempre desconfortável e pior, sobretudo se for perante um facto já consumado.