2015-06-27 – Cidade do Vaticano (RV) – Foi mais uma semana de intenso trabalho para o Papa Francisco entre audiências e encontros. Um tema que ganhou mais uma vez a atenção dos meios de comunicação e dos fiéis que seguem a atividade de Francisco foi o da família. Já na terça-feira, o fulcro das atividades no Vaticano foi a apresentação do Instrumento de trabalho do Sínodo ordinário dedicado à família. Um texto que contém além do Relatório conclusivo do Sínodo extraordinário de outubro de 2014, a síntese das respostas ao questionário proposto no último ano às igrejas presentes em todo o mundo, por isso também à Igreja no Brasil.
Os desafios, a vocação e a missão da família: são essas as linhas-guias do “Instrumentum laboris” do 14º Sínodo geral ordinário sobre a família. Certamente não se parte da estaca zero, o Instrumento, de fato, traz integralmente todos os parágrafos do Relatório do Sínodo de 2014, inclusive os números 52, 53 e 55, os mais discutidos, relativos: à aproximação dos divorciados recasados à Eucaristia; à proposta de comunhão espiritual; e às uniões homossexuais. Em síntese, o Relatório reafirma a importância da família fundada no matrimônio entre homem e mulher, colocando em destaque os aspectos positivos, mas também as necessidades de olhar com paciência e delicadeza para as famílias feridas. O texto sublinha ainda que as uniões homossexuais não podem ser comparadas ao matrimônio entre homem e mulher, e que não são aceitáveis pressões sobre bispos sobre esta questão.
Outros pontos dizem respeito ao desejo de processos gratuitos para a nulidade matrimonial, a atenção às adoções, o alarme à pornografia, o uso distorcido da internet e às mulheres e crianças vítimas da exploração sexual.
O “Instrumentum laboris” chama em causa também as “contradições sociais” que levam à dissolução da família: guerras, migrações, pobreza, exploração, cultura do descartável e conjuntura econômica “desfavorável e ambígua”, enquanto as instituições falham, incapazes de amparar os núcleos familiares. O documento termina recordando o Jubileu extraordinário da Misericórdia, que terá início em 8 de dezembro próximo, à luz do qual se insere o Sínodo. A Assembleia episcopal está programada de 4 a 25 de outubro, sobre o tema “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
Já na última quarta-feira, durante a audiência geral na Praça São Pedro, Francisco na sua série de catequeses dedicada à família, justamente em sintonia com o Sínodo, chamou a atenção para o sofrimento das crianças, como consequência da separação dos pais; porém, afirmou, que em alguns casos “é inevitável” a separação, para proteger os mais fracos. “Às vezes a separação – disse o Papa – pode ser inclusive moralmente necessária” quando se procura proteger o cônjuge mais fraco ou os filhos menores das feridas causadas pela prepotência, pela violência, pela humilhação, pela estranheza e pela indiferença, explicou.
Sobre estas situações familiares, que o Papa disse que não gosta de chamar de “irregulares”, Francisco exortou a interrogar-se sobre como ajudar ou como acompanhar estas famílias.
Como pudemos notar Francisco na catequese desta semana se deteve a refletir sobre as feridas que se produzem na convivência familiar. Feridas provocadas por palavras, ações e omissões que, ao invés de expressar amor, ferem os afetos mais queridos, provocando profundas divisões entre seus membros, sobretudo entre o marido e a mulher.
O Santo Padre nas suas palavras dirigidas a uma multidão de fiéis em silêncio reunida na Praça São Pedro chamou a atenção ainda para o fato que se essas feridas não forem curadas em tempo se agravam e se transformam em ressentimento e hostilidade, que recaem depois sobre os filhos.
Na família, “tudo está interligado”, outra afirmação de Francisco. Quando a sua alma é ferida em qualquer ponto, “a infecção contagia todos”. Bergoglio recordou então que todas as feridas e todos os abandonos do pai e da mãe incidem na carne viva dos filhos.
Para o Papa quando os adultos perdem a cabeça, quando cada um pensa só em si mesmo, quando o pai e a mãe se prejudicam, é a alma das crianças que sofre, que sente o desespero; e são feridas que deixam marcas profundas. “Muitas vezes as crianças que vivem essas situações se escondem para chorar sozinhas”.
Palavras que nos devem fazer refletir sobre como está a nossa família, como vivemos em família. Que possamos comunicar com nossas vidas a “boa notícia” da família em um mundo cada vez mais secularizado e necessitado de verdadeiras testemunhas de vida. O olhar se dirige também ao VIII Encontro Mundial das Famílias a que se realizará de 22 a 27 de setembro de 2015 em Filadélfia, Estados Unidos. Nesta quinta-feira o evento foi apresentado na Sala de Imprensa da Santa Sé.
As famílias são o recurso mais importante da sociedade, mesmo se não se fala sobre isto, mesmo se às vezes são um pouco “surradas”, mesmo se às vezes são esquecidas, se destacou na coletiva de imprensa. O encontro de Filadélfia será mundial, pois foi pensado para que seja “visto e contado em todo o mundo”. Certamente será uma “boa notícia”. (Silvonei José)