Ecos das XXVIII Jornadas Nacionais da pastoral familiar

As XXVIII Jornadas Nacionais da Pastoral da Família tiveram lugar em Fátima, no Seminário do Verbo Divino, nos dias 22 e 23 de Outubro, subordinadas ao tema “A Alegria do Amor e os desafios à Pastoral Familiar”.

 

Foram precedidas de uma reunião, na noite do dia 21, promovida pela CELF, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, com a presença de: D. Antonino Dias, D. António Carrilho, D. Ilídio Leandro, D. Joaquim Mendes e D. Francisco Senra Coelho, P. Luís Inácio João, Manuel Duarte, Equipa do Departamento Nacional da Pastoral Familiar e Equipa eleita do CPM Nacional, tendo estas duas últimas instituições apresentado os seus Planos de Acção.

 

Nas Jornadas estiveram presentes cerca de 400 pessoas provenientes das Dioceses de: Algarve, Angra, Aveiro, Braga, Bragança-Miranda, Coimbra, Funchal, Guarda, Lamego, Leiria-Fátima, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo, Vila Real, Viseu e Forças Armadas, tendo faltado, apenas, as Dioceses de Beja e Évora.

 

Houve casais que se identificaram com os seguintes Movimentos da área da Família: Casais da Santa Maria, Convívios Fraternos, CPM, EM, ENS, Famílias Novas, Instituto Secular Cooperadoras da Família, MCC, MEV, MLC e Schoenstatt.

 

A oração da manhã foi a chave de abertura dos trabalhos, a que se seguiram palavras de saudação e acolhimento pelo Casal Coordenador do Departamento Nacional da Pastoral Familiar, apresentação das Dioceses e Movimentos, momento que foi concluído por D. Antonino Dias, Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família que manifestou o seu apreço e regozijo por tão elevado número de presenças, desejando que as Jornadas fossem um alerta e um apelo à conversão de cada um dos presentes.

Na primeira exposição, D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima e Vice-Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, apresentou-nos a sua leitura sobre a Exortação Apostólica “A Alegria do Amor”, sublinhando que se tratava de uma magna carta para estes tempos.

Percorreu todo o documento, capítulo a capítulo, de uma forma extremamente pedagógica, evidenciando, por um lado, a lufada de ar fresco que o mesmo trouxe e, por outro lado, a falta de receitas prontas e práticas, a par de uma forte noção de necessidade de formação e de uma grelha comum de leitura.

Evocou o optimismo da Exortação Apostólica ao falar da família como primeiro espaço onde se vive a alegria do Evangelho e apontou a misericórdia de Deus e a Sua palavra como luz para o caminho, alimento da ternura e conforto face ao sofrimento e ao mal.

 

Lembrou que devemos estar atentos aos apelos do Espírito, compreendendo as exigências do momento actual: individualismo, usa e deita fora, instabilidade e imaturidade, ideologia do género, afirmando, de modo optimista, que estas realidades constituem desafios, pelo que não devemos ficar prisioneiros dos problemas.

Ao falar da família como um bem para a Igreja e sociedade, sublinhou a sacramentalidade do matrimónio cristão, a vivência quotidiana do matrimónio como caminho de crescimento que é preciso cultivar e a missão de as famílias serem sinais e instrumentos do amor de Deus entre os homens, do que ressalta a importância de um capaz discernimento vocacional.

A referência à fecundidade da família – biológica e para o exterior – trouxe o contexto educativo dos filhos, o abuso das tecnologias que coloca os filhos num mundo virtual, a necessidade de cultivar uma espiritualidade de amor, de ternura e de caminho em casal e na família, cimentada na oração da família e em família.

 

Contrapondo à excessiva idealização do matrimónio e à linguagem arcaica ou incompreensível, que tem vindo a ser utilizada, apelou a uma pastoral positiva, propositiva, proactiva e acolhedora que encha o coração das famílias, ilumine caminhos didácticos de crescimento, aponte o matrimónio como fonte de graça, passando-se de uma pastoral de fracasso a uma pastoral missionária e de consolidação do matrimónio.

 

Referiu que as pastorais concretas têm de ser confiadas às comunidades locais, pois é na paróquia que a Pastoral Familiar tem lugar, tornando as famílias objecto e sujeito de evangelização.

Urge, disse, propor itinerários de preparação para o matrimónio, ajudando os jovens a descobrir o valor e o dom do matrimónio como vocação, num percurso contínuo de discernimento que os leve do berço até ao casamento, evitando-se, deste modo, a superficialidade com que se vai contrair matrimónio.

 

Lembrou que o matrimónio é o início de um percurso conjugal que a comunidade deve acompanhar, utilizando mediações e recursos, tendo sempre presente que as crises, as angústias e as dificuldades devem ser acolhidas e vistas como uma oportunidade que convida a recriar, a renovar, num processo de desenvolvimento da arte de dialogar, de comunicar e de reconciliação, atitude que ajuda a curar as feridas e a olhar a vida com outro optimismo.

 

Os tempos pós roturas impõem atitudes de acolhimento das fragilidades, de escuta e de misericórdia perante cada situação devidamente individualizada, com propostas de itinerários de acompanhamento, de discernimento e de integração.

 

D. António Marto terminou a sua intervenção afirmando que a Exortação Apostólica “A Alegria do Amor” exige aos pastores, aos fiéis e às comunidades cristãs uma autêntica conversão pastoral.

 

Após o intervalo, o P. Carlos Carneiro, sacerdote jesuíta, falou sobre “A preparação para o Matrimónio e o acompanhamento dos casais novos”. Numa linguagem mais descontraída e atraente, sem deixar de ser séria e profunda, evocou o matrimónio como uma bênção e uma vocação à santidade, que leva os noivos a casar na igreja, em Igreja e pela Igreja, o que pressupõe um reconhecimento da própria Igreja, uma atitude de integração na igreja e uma preparação para a vida de casados.

 

Referiu que a preparação para o matrimónio impõe um trabalho de discernimento e de conversão, que deve beneficiar do testemunho de quem está casado – os pais, a família alargada, os amigos – testemunho que só pode ser de alegria e não de suplício ou de tortura.

 

Acentuou que casar é uma tarefa que nunca acabará, é um dinamismo latente, constante e motivador, que implica uma vida inteira de “um casar permanente”.

 

Quanto ao acompanhamento dos casais novos evocou a importância de os Movimentos e as estruturas da Pastoral Familiar estarem atentas e disponíveis para esse trabalho de acompanhamento, com propostas atractivas e festivas de formação, oferecendo-lhes a possibilidade de reflectirem temas de vária ordem, que os ajudem na organização e estabilização da sua vida, seja no âmbito conjugal ou familiar, num processo dinâmico que os motive à integração em grupos de casais, sejam paroquiais ou não.

 

Após o almoço seguiram-se os trabalhos de grupo, baseados em três questões, cujas reflexões, apresentadas no plenário, apontam para: a) a necessidade de um estudo empenhado e aprofundado da Exortação Apostólica “A Alegria do Amor”, nas nossas comunidades; b) a urgência em repensar uma preparação continuada para o matrimónio, num discernimento vocacional que vá desde o berço, atravesse a catequese, a preparação para o crisma, passe pelas aulas de EMRC, seja tema da Pastoral da Juventude e da Pastoral Universitária; c) a importância em criar “ligações” (humanas e espirituais) com os casais novos, a partir de equipas de acolhimento, dando-lhes a conhecer os grupos de acção da paróquia e os Movimentos da área da Família, propondo-lhes espaços de partilha, retiros e temas sedutores de formação.

 

No final do plenário o P. Manuel Mendes, Assistente Nacional da Pastoral Familiar sublinhou que é preciso desinstalarmo-nos, promover uma renovação constante no âmbito da Pastoral Familiar, reinventando e promovendo etapas de formação em ordem ao anúncio de Jesus Cristo, puxando a família para o centro da pastoral, dando, deste modo, um rosto familiar a toda a pastoral. Vivemos, disse, um momento de entusiasmo e de esperança que não podemos deixar morrer.

 

Com a recitação do Terço na Capelinha das Aparições se encerraram os trabalhos gerais do primeiro dia, pois os Assistentes e os Directores dos Secretariados Diocesanos da Pastoral Familiar e os Assistentes e Presidentes Nacionais dos Movimentos da Família ainda tiveram uma reunião de trabalho nessa noite.

 

O domingo começou pela oração da manhã, a que se seguiu uma conferência proferida pelo Cón. Arnaldo de Pinho, subordinada ao tema: “Acompanhar, discernir e integrar as situações «irregulares»: a liberdade e a responsabilidade do bispo diocesano”.

 

Começou por referir que a Exortação “A Alegria do Amor” é um documento radicalmente pastoral que tem como objectivo anunciar, preservar e difundir a alegria e a utopia do amor em família, em todos os seus aspectos: educação, fecundidade e espiritualidade. Por isso o documento insiste no trabalho pastoral, qualquer que seja a sua incidência – dirigido aos casos regulares ou irregulares, no sentido do crescimento e maturidade dos dinamismos do amor humano, ciente de que é de tal ordem que ou cresce ou morre.

 

Disse que o documento endossa a responsabilidade dos caminhos pastorais para as comunidades locais, recomendando que tenham em conta quer a doutrina da Igreja, quer as necessidades e desafios locais, não sem reconhecer que os ministros ordenados carecem habitualmente de formação adequada para tratar dos complexos problemas actuais das famílias.

 

Evocou a “Evangelii Gaudium” para referir que, após dois mil anos, Jesus voltou a ser um desconhecido, como o é no mundo ocidental: “Convém sermos realistas e não presumirmos que os nossos interlocutores conhecem todo o pano de fundo daquilo que dizemos, ou que são capazes de relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho, que lhe confere sentido, beleza e fascínio”. Impõe-se, pois, uma conversão de linguagem que não consiste em mudar a doutrina – embora convenha tê-la actualizada – mas em encontrar a linguagem e os sinais adequados às pessoas que temos diante de nós.

 

Sublinhou o imprescindível discernimento caso a caso das famílias em situação “irregular”: pessoas envolvidas, o sacerdote e a Igreja. É este o programa, o método e a forma e mesmo os actores, disse. O discernimento apontado é um trabalho de direcção espiritual, o que supõe que haja algumas orientações do bispo, cuja competência é ordinária e alguns sacerdotes delegados para o efeito.

 

A Exortação não coloca limites á integração, mas nesta caminhada não se poderá prescindir da verdade na caridade do Evangelho proposto pela Igreja e para que isto suceda “devem garantir-se condições necessárias de humildade, reserva e amor á Igreja e ao seu ensino, na busca da sincera vontade de Deus, com o desejo de alcançar a resposta mais perfeita”.

 

Tendo em conta as afirmações reiteradas da Exortação ao papel da consciência, que é sempre pessoal, deixou a sugestão de que alguns bispos avançassem com a iniciativa de criar uma equipa de pessoas sábias e maduras capazes de acolher, acompanhar, discernir e integrar.

Abordou, ainda, critérios de discernimento, lei da gradualidade e centralidade da consciência, afirmando que nenhuma família é uma realidade perfeita, mas estão todas em caminho e que a tarefa a que o Sínodo convoca a Igreja, sobretudo relativamente às famílias em situação “irregular”, mas também às outras, não raro vítimas de bloqueamentos da lei e não da libertação da graça, é imenso e dá que pensar e que fazer.

 

Seguiu-se o testemunho de um casal em situação “irregular”, tendo cada um dos membros abordado o seu papel na Igreja antes da rotura e o modo como foram acolhidos na mesma paróquia após essa situação.

 

O P. Gonçalo abordou algumas das dificuldades que sente como pároco e que têm a ver com o modo como deve ser vista e tratada a pastoral familiar, se para a família ou em família, se uma agenda de iniciativas para as famílias ou a criação de um clima familiar na vida das comunidades e a dificuldade em fazer da preparação para os sacramentos uma oportunidade de evangelização.

 

As Jornadas terminaram com a Eucaristia, presidida por D. Antonino Dias e concelebrada por D. Joaquim Mendes e catorze sacerdotes.

 

Passaram pelas Jornadas, além dos cinco Bispos da Comissão Episcopal do Laicado e Família, D. António Marto, D. José Cordeiro, D. Augusto César e D. Serafim Ferreira e Silva.

 

Departamento Nacional da Pastoral familiar

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