Cracóvia 2016: a “chama da misericórdia” nas mãos dos jovens de todo o mundo

O card. Stanislaw Dziwisz fala sobre as expectativas para a JMJ do próximo mês de Julho. E sobre os refugiados: “A Polônia os acolherá, também nós fomos migrantes…”

 

21 março 2016 – “Esta JMJ será o evento mais importante de todo o Ano da Misericórdia”. Não tem nenhuma dúvida o cardeal Stanislaw Dziwisz, durante três décadas secretário de João Paulo II, agora arcebispo de Cracóvia, na diocese que foi do Papa, que se tornou santo, há dois anos.

Em uma entrevista concedida à ZENIT e a outros quatro jornais italianos, recebidos na Cúria do arcebispo de Cracóvia, o prelado polonês expressou grande otimismo sobre o sucesso de um evento que será histórico por muitos motivos: é a primeira JMJ que se celebra na diocese de origem do seu fundador, além de que a primeira depois da canonização.

Mas há uma outra “coincidência” que não escapou do Cardeal Dziwisz: o tema da Misericórdia, objeto do Jubileu deste ano, está ligado às revelações do Jesus Misericordioso à Santa Faustina Kowalska, ocorridas precisamente na diocese de Cracóvia, nos anos 30 do século passado: “Jesus disse que deste lugar surgirá uma chama em todo o mundo, para preparar o mundo para o último encontro com Ele”.

Do 26 ao 31 de Julho desse ano, Cracóvia se prepara para acolher jovens de 174 países do mundo, chamados, explica o cardeal, a “compartilhar esta chama da misericórdia” e leva-la a um mundo que “tem necessidade de paz” e que, como a própria Santa Faustina recordava, nunca poderá encontrar a paz “a não ser voltando-se para Jesus Misericordioso”.

O otimismo de Dziwisz baseia-se na consciência de que a Polônia seja um baluarte contra a secularização da Europa, onde nas últimas décadas, em um cenário de “renovação espiritual”, nasceram muitos movimentos eclesiais – mas também em defesa da vida – que não se esquecem de um fato: “A Europa está fundada sobre raízes cristãs”.

Não é por acaso que, em particular, em muitas áreas no Sul do país, a porcentagem dos católicos praticantes ainda seja de 70-80% da população, enquanto que em Cracóvia é de cerca de 50%.

A Polônia, portanto, mais do que outros países, está lutando para “preservar os valores cristãos”, a partir da sacralidade da vida, como demonstra a baixa taxa de abortos e de divórcios e a ausência de qualquer debate sobre o casamento homossexual.

“Algumas grandes potências querem impor-nos estilos de vida que não compartilhamos”, observa o arcebispo de Cracóvia, também notando que a defesa da vida e da família são “princípios fundamentais para o futuro da Europa”, pois, na sua opinião, é “útil, necessário e muito agradável” que vários governos da Europa do Leste – o Polonês em primeiro lugar – estejam levando adiante este tipo de políticas.

A Polônia, comentou em seguida o ex-secretário de João Paulo II, é um país que se sente preparado para acolher migrantes e refugiados: “Estamos muito abertos para acolhê-los com prudência e responsabilidade – explicou o cardeal – . É importante dar-lhes apoio e trabalho. Também os nossos compatriotas emigraram no passado, muitas vezes por motivos políticos: portanto, o que um dia recebemos, hoje nos corresponde dar aos demais”.

Voltando a falar da JMJ, Dziwisz destacou como estes eventos sejam fundamentais porque os jovens que participam “voltam mais comprometidos e alegres”. As JMJs, segundo o arcebispo de Cracóvia, favorecem “as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada” e o nascimento de “muitas belas amizades”, além de namoros e matrimônios. “Com todos estes belos frutos, podemos, realmente, contar com os nossos jovens”, comentou o ex-secretário de João Paulo II.

ZENIT fez as seguintes perguntas ao arcebispo de Cracóvia:

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ZENIT: Eminência, você acha que, dada a localização geográfica da sua diocese, a JMJ que estão preparando, possa tornar-se uma ocasião de encontro com os jovens da Europa Oriental (talvez também ortodoxos)?

Card. Dziwisz: Deste ponto de vista, estamos sempre muito abertos. A JMJ de Czestochowa, em 1991, foi a primeiro que aconteceu na Europa Oriental e, já então, contou com a participação da Bielorrussia, da Ucrânia e da Rússia totalizando cerca de 200 mil peregrinos. Hoje, depois de 25 anos, esperamos que, também aqui em Cracóvia, cheguem os jovens daqueles países: temos que ajuda-los e ajudar os seus governos para que façam de tudo para deixa-los vir ao nosso país e concedam-nos vistos para viajar.

ZENIT: Você teme que o conflito russo-ucraniano possa ter um efeito desanimador?

Card. Dziwisz: Sem dúvida, este conflito poderá criar dificuldades para os jovens ucranianos, mas nós – repito – seremos muito inclusivos.

ZENIT: Você acha que o atual pontífice será muito comparado com o seu ilustre antecessor?

Card. Dziwisz: A Polônia acolherá o Papa Francisco de uma forma maravilhosa! Somos cristãos, portanto, para nós o Papa é o Papa, independentemente de qual seja o seu nome. Pouco depois de sua eleição, por exemplo, acolhemos Bento XVI como da mesma forma e mais ainda do que João Paulo II. Queríamos mostrar que para nós o Pontífice é o Pontífice. Portanto, o Papa Francisco será recebido com muita cordialidade e, devo dizer, já o esperávamos muito.

ZENIT: Do que você mais sente saudade de João Paulo II?

Card. Dziwisz: Na verdade, mesmo se não fisicamente, sinto-o muito presente. Ele era realmente um homem unido a Deus. Muitas pessoas rezam para São João Paulo II, invocam-no, pedem graças. Realizou vários milagres: muitos casais que não conseguiam ter filhos, hoje agradecem-no por terem conseguido essa graça. Tem aqueles que pediram a graça de uma cura do câncer e a obteve. Um caso sensacional foi o daquela mulher que deveria fazer uma cirurgia de tumor cerebral: no momento que abriram o crânio não encontraram nada… Para a canonização, reconheceram só um milagre atribuído a João Paulo II, mas ele fez muitos, muitos mais.

 

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