Cardeal Müller: filtração de suposta “carta” para o Papa Francisco procura dividir-nos

VATICANO, 13 Out. 15 / 12:10 pm (ACI).- O Cardeal Gerhard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, não confirmou nem desmentiu que esteve entre os cardeais que assinaram uma carta, a qual foi entregue ao Papa Francisco – e publicada pelo vaticanista Sandro Magister– através da qual expressam suas preocupações a respeito do Sínodo. Entretanto, afirmou que a difusão do texto procura “dividir-nos”.

 

Em uma entrevista concedida ao Jornal italiano ‘Il Correr della Sera’, o Cardeal também mencionou o tema do acesso à comunhão dos divorciados em nova união, assim como dos supostos conflitos que acontecem no Sínodo.

A respeito da suposta carta assinada por um grupo de cardeais – quatro deles desmentiram havê-la assinado –, Müller respondeu: “Eu não confesso ter assinado ou não”, mas “o motivo do escândalo foi por terem publicado uma carta privada dirigida ao Pontífice. Isto é um novo vatileaks. Os atos privados do Papa fazem parte da sua propriedade privada e de ninguém mais. Ninguém tinha o direito de publicá-la, não sei se isso aconteceu e quem o fez deveria justificá-lo”.

Vatileaks é o termo com o qual a mídia se referia à filtração dos documentos privados do Papa Bento XVI causada por um dos seus mordomos do apartamento pontifício em 2012 e estes foram publicados em um livro pelo italiano Gianluigi Nuzzi.

Sobre as intenções de quem filtrou a carta enviada ao Papa nesta ocasião, o Cardeal Müller acredita que pretende “semear conflitos, criar tensões. Isto é óbvio”.

Oposição contra o Papa?

Perguntado acerca das supostas palavras do Papa Francisco aos membros do Sínodo sobre uma “hermenêutica conspiratória”, o Cardeal alemão disse: “Acho que falava a respeito daqueles que afirmam que na Cúria Romana existe uma oposição contra o Papa. Aqueles que dizem e escrevem que Francisco está rodeado de lobos. Esta é uma expressão ofensiva e criminal, pois eu não sou um lobo contra o Papa. Sei quem é o Papa e conheço o que significa o Primado mil vezes melhor do que aqueles que dizem estas coisas”, adicionou.

“Como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, sou o primeiro colaborador do Santo Padre, não só eu, mas todos os que fazem parte desta Congregação. E não deixo que coloquem em dúvida a minha obediência e meu serviço ao Papa e a Igreja”.

O Cardeal assegurou que a verdadeira conspiração é manifestada por aqueles que dizem “somos amigos do Papa, quando na verdade são inimigos”. “Esta é a hermenêutica conspiratória. Não conheço ninguém aqui que esteja contra a Santo Padre”.

Sobre o questionado funcionamento da assembleia sinodal, o Cardeal Müller expressou: “O Sínodo sempre discute acerca de como melhorar os procedimentos, todos têm a liberdade de dar sua opinião sobre isto: o regulamento é humano, não é uma lei divina”.

Tensões no Sínodo e divorciados em nova união

Das possíveis tensões entre os participantes, opinou que “existia tensões entre a doutrina e a pastoral, mas o trabalho do Sínodo é ver estes dois aspectos juntos. Cada bispo católico, em sua pessoa, é professor da fé e também pastor do rebanho”.

“A ortodoxia deve realizar-se na pastoral, mas não existe pastoral sem doutrina: que é o ensinamento de Jesus, não uma doutrina acadêmica de teólogos”, acrescentou.

“Não é possível que tudo seja representado como um enfrentamento entre os que dizem ‘somos mais liberais’ e obtêm a aprovação das pessoas, e aqueles que, pelo contrário, devem defender a doutrina revelada por Jesus e são os maus, os ‘conservadores’”.

Portanto, “acreditam em um só Deus, não pode existir contraste. Não é que exista um do Decálogo e outro da misericórdia. O Evangelho exige também a conversão de nossa vida. A porta é estreita”.

Sobre os divorciados em nova união, o Cardeal assinalou: “As pessoas sofrem porque seus casamentos acabaram, não porque não podem comungar. Na nossa opinião, o momento central da Eucaristia é a consagração, cada cristão tem o dever de ir à Missa, mas não de comungar. Concentrar-se apenas em um ponto não resolverá nada”.

A respeito das situações concretas desta realidade, disse, “podemos discuti-las”, mas “uma regra geral não será possível, pois o matrimônio é um sacramento e a Igreja não tem autoridade sobre um sacramento”, concluiu.

 

 

 

 

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