As manifestações pró-família na Itália foram feitas por amor

Não há interesse econômico em apoiar a família baseada no matrimônio entre homem e mulher

 

Roma, 09 de Julho de 2015 (ZENIT.org) – Por que, em 20 de junho, um milhão de pessoas foram às ruas de Roma e continuam até hoje a se expressar e a exigir atenção da classe política? A mídia e muitos personagens públicos têm respostas pré-fabricadas: “Aquela gente é contrária aos direitos; é gente que foi paga para se manifestar”, etc.

A modernidade já nos acostumou a esse tipo de “explicação”: tudo se resume ao fato de que “as pessoas são ignorantes” ou de que “há interesses econômicos por trás disso”. Da Revolução Francesa aos atos de 1968, a estratégia é a mesma. “Temos que reeducar as pessoas ofuscadas pelas potências tradicionais” (entre as quais a Igreja seria sempre a mais culpada) e afirmar que toda oposição é sempre por interesse de quem quer manter privilégios.

Mas poucos se perguntam a sério por que tanta gente comum foi às ruas por vontade própria, sem ganhar dinheiro algum, debaixo de chuva, viajando horas de ônibus, se amontoando no metrô.

Eu me lembro de uma passagem do “Senhor dos Anéis”, de Tolkien, muito significativa para explicar a motivação de toda a narrativa. Os protagonistas têm o anel do poder, forjado e desejado de volta por Sauron para conquistar o mundo. E a missão da Sociedade do Anel não é usá-lo contra o inimigo, mas destruí-lo. Isto não pode ser compreendido por Sauron, porque “a única medida que ele conhece é a do desejo, do desejo de poder, e ele julga todos os corações com essa mesma medida. Sua mente nunca aceitaria a ideia de que alguém possa recusar o poder cobiçado, ou que, possuindo o Anel, queira destruí-lo”.

O mundo moderno também pensa em termos de direitos, poderes, desejos. O discurso é sempre baseado na divisão, que é a edição atualizada da luta de classes: considerar uma lei injusta seria ir contra alguém. Frodo consegue passar despercebido porque o inimigo não entende que alguém possa querer destruir o poder do anel. E, assim, hoje, o mundo descarta como fanáticos irrelevantes um milhão de pessoas nas ruas.

Por que nós tomamos as ruas? Porque é necessário opor-se às leis injustas não por uma questão econômica ou de direitos, embora aqui tenham plena relevância os direitos esquecidos das crianças; é necessário por amor, porque “defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis da caridade” (Caritas in veritate, 1).

Contra-atacar a ideologia de gênero não é desrespeitar nem recusar o diálogo; é simplesmente amar o homem em geral e a pessoa específica que está diante de você. Mesmo que essa pessoa pense diferente. Afinal, existe a beleza da diferença, inclusive da diferença sexual.

A falsa clarividência de “deixar as crianças fazerem sua própria escolha” só fez com que a mídia escolhesse por elas. É um ato de amor contar às crianças como são as coisas de verdade. A fé no que é transmitido brota do amor de quem transmite. Esconder a verdade por correção política é falta de amor e, lentamente, leva à necessidade de “sacar a espada para mostrar que as folhas são verdes” (Chesterton). O povo italiano foi às ruas por algo que pertence a todos, mesmo àqueles que discordam; para defender a beleza desse “enorme, impossível universo que nos olha nos olhos”.

 

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