“ A única forma de cuidar do futuro é planeá-lo”

Artigo publicado em “Valores, Ética e Responsabilidade” – ACEGE – 19 maio 2016

 

Acreditamos que o mundo pode ser um lugar melhor quando nos deparamos com iniciativas que dão aos “normalmente esquecidos” a oportunidade de construírem um futuro melhor. E como já não é possível falar em futuro sem fazer referência aos avanços tecnológicos, a SAP, em conjunto com diversas organizações, promove este ano a segunda edição da Africa Code Week. Apresentada no Fórum Económico Mundial dedicado a África, esta iniciativa visa conferir, a mais de 150 mil jovens africanos, diversas competências em termos de literacia digital, fundamentais para que possam entrar no mercado de trabalho

POR MÁRIA POMBO

“A educação e o sucesso circulam de mão em mão, especialmente se forem bem conduzidos” – Africa Code Week

De acordo com o Fórum Económico Mundial (FEM), África é o continente onde o consumo digital tem registado um maior e mais rápido crescimento, sendo também aquele que acolhe a mais elevada percentagem de população em idade activa. Estes dois factores, apesar de distintos, quando conjugados e articulados, revelam ser determinantes para o crescimento social e económico deste continente.

É notória a adesão em massa, nos últimos anos, ao uso de telemóveis e de outros dispositivos que permitem o acesso à internet. Contudo, este súbito “crescimento digital” obrigou os países africanos a “saltar etapas” importantes no que ao conhecimento e consumo de tecnologia diz respeito. Muitos cidadãos que nunca tiveram, por exemplo, telefone fixo, têm acesso, actualmente, aos mais variados equipamentos electrónicos.

Todavia e na prática, verifica-se que uma das principais consequências deste rápido e quase desmedido crescimento tecnológico é a carência em termos de competências digitais, o que significa que os avanços conseguidos nesta área não se traduzem em taxas mais baixas de desemprego. Dos 11 milhões de jovens que estão actualmente a entrar no mercado de trabalho, apenas 1% tem conhecimentos básicos de programação, o que dificulta o preenchimento de vagas em muitas empresas e prejudica o crescimento económico das diversas nações africanas.

Dos 11 milhões de jovens africanos que estão a entrar no mercado de trabalho, apenas 1% tem conhecimentos básicos de programação

É certo que África pode estar perante uma verdadeira revolução digital. No entanto, de acordo com umartigo recentemente publicado no FEM, existe ainda muito trabalho por fazer. Investir em tecnologias digitais, definindo-as como essenciais ao crescimento da economia, implica um substancial financiamento público, bem como a aposta em parcerias com o sector privado, apoiando a educação e a criação de infra-estruturas. Esta é a única forma através da qual a internet passa a ser acessível a todos, deixando de ser considerada um luxo destinado às minorias mais endinheiradas.

Adicionalmente, importa demonstrar às empresas que as plataformas digitais são fundamentais para a expansão dos seus negócios, permitindo a criação e promoção de novos bens e serviços, sendo também essencial para a atracção da população jovem e qualificada. Ultrapassando a ideia ainda bastante estigmatizada na cultura africana de que a internet veio simplesmente substituir os telefones fixos, importa demonstrar (principalmente ao meio empresarial) que a sua utilidade supera em muito as questões de comunicação relacionadas, por exemplo, com a utilização de redes sociais ou outras actividades recreativas.

Ao longo de oito dias, será dada formação gratuita a mais de 150 mil crianças e jovens entre os oito e os 24 anos

Segundo o mesmo artigo, é também o facto de ser dada formação aos jovens que estão prestes a entrar no mercado de trabalho que irá permitir que o crescimento digital seja acompanhado pelo crescimento económico e pelo desenvolvimento social de que África tanto necessita, acompanhando-os na mesma medida. Importa salientar que são os jovens em idade activa aqueles que têm as maiores capacidades para promover o desenvolvimento e a sustentabilidade da economia e das comunidades onde vivem. Capacitar as crianças e os jovens em matérias relacionadas com a informática e engenharia irá, assim, permitir colher os frutos da aposta nos meios digitais, elevando as competências tecnológicas dos países africanos e fomentando níveis de competitividade mais “igualitários” face aos demais.

Para que os resultados globais sejam visíveis, o FEM alerta também para a urgência de uma saudável integração regional, em conjunto com a promoção da cooperação entre governos, empresas, escolas e a sociedade civil. A distribuição e implementação de cabos de fibra óptica permitem, por exemplo, o acesso aos meios digitais por parte dos habitantes das mais recônditas e esquecidas nações africanas, como o Uganda ou o Gana.

Arranque da 2ª edição da Africa Code Week, em Kigali, Ruanda, em Maio de 2016 – © Africa Code Week

Porque o saber (digital) não ocupa lugar

Para colmatar este défice digital e inverter as elevadas taxas de desemprego, estimulando o crescimento económico e social do continente africano através da aposta na “literacia digital”, a SAP, o gigante reconhecido no mercado do software e das aplicações empresariais, em parceria com o Fórum Económico Mundial, promove este ano a segunda edição da Africa Code Week. O arranque desta iniciativa ocorreu entre os dias 11 e 13 deste mês, em Kigali, Ruanda, e a propósito da edição do Fórum Económico Mundial dedicada a África, marcando o início de um conjunto de actividades destinadas a promover a literacia digital no território africano. A “Semana da Programação”, que é no fundo o resultado e a continuação do trabalho realizado desde Maio, terá lugar entre os dias 15 e 23 de Outubro, em 30 países deste mesmo continente (como África do Sul, Argélia, Angola, Marrocos, Moçambique, Ruanda ou Senegal).

“A Africa Code Week é uma iniciativa que vem colmatar o défice de competências [digitais] em África” – Frank Cohen, presidente da SAP Europa, Médio Oriente e África

Ao longo de oito dias, será dada formação gratuita a mais de 150 mil crianças e jovens entre os oito e os 24 anos, residentes nos países aderentes à iniciativa. Os formadores vão ensinar os participantes até aos 18 anos a trabalhar essencialmente na plataformaScratch, reconhecida pela sua capacidade de simplificar os conceitos de programação e permitir a construção de websites apenas com conhecimentos básicos de linguagem de código. No entanto, aos participantes entre os 18 e os 24 anos será dada formação mais aprofundada (em matérias como HTML, CSS, Javascript, PHP e SQL) no sentido de os capacitar para uma melhor compreensão da estrutura e ”arquitectura” dos websites, com todos os seus detalhes, construindo-os de raiz e sem o auxílio de “ferramentas facilitadoras” como o Scratch.

Estas formações aprofundadas aos jovens mais velhos visam prepará-los para o mercado de trabalho, conferindo-lhes ferramentas realmente úteis e necessárias para que possam preencher as vagas existentes em diversas empresas, aumentando assim as hipóteses de saírem do desemprego. A diminuição da taxa de desemprego é benéfica para os próprios, porque lhes permite ter um emprego, mas também para a sociedade, que “ganha” jovens capazes de a desenvolver, tornando-a mais sustentável.

Na qualidade de presidente da SAP Europa, Médio Oriente e África, Frank Cohen afirma precisamente que “a Africa Code Week é uma iniciativa que vem colmatar o défice de competências em África, capacitando os jovens para carreiras de sucesso e apoiando as empresas para o crescimento sustentável”. Indo ao encontro das palavras do responsável da SAP, que assegura que “as competências de programação são a base do sucesso da economia digital”, o ministro da Juventude e TIC do Governo de Ruanda, Jean Philbert Nsengimana, afirma que é tempo de se considerar que a “literacia actual significa muito mais do que saber ler, escrever e saber utilizar computadores”. A verdade é que “a próxima geração deveria centrar-se na programação”, acrescentou.

Este projecto ambicioso conta com o apoio de diversas ONG, instituições do ensino, bem como de empresas e outras organizações, como a Google, o Centro de Ciência de Cape Town, a King Baudouin Foundation ou a Atos.


1ª edição da Africa Code Week, na Etiópia, em Outubro de 2015 – © Africa Code Week

“As competências de programação são a base do sucesso da economia digital”

primeira edição da Africa Code Week realizou-se em Outubro de 2015 e as suas expectativas foram amplamente superadas. A organização esperava formar cerca de 20 mil crianças e jovens em 17 países africanos. No entanto, os mais de mil formadores conseguiram desenvolver diversas actividades (como workshops, conferências, ateliers e outras formações) junto de 89 mil crianças e jovens (o quádruplo do previsto), conferindo assim a milhares de miúdos as competências básicas de programação, em conjunto com mais oportunidades de contribuírem, positivamente, não só para o seu próprio futuro, como também para o futuro dos seus países de origem. Marrocos, Costa do Marfim e África do Sul foram as regiões onde se registaram as maiores taxas de participação.

No entanto, e como reforça o director geral da SAP, Bill McDermott, “a oportunidade para ter esperança no futuro” foi a principal mais-valia da realização deste evento sem precedentes no território africano. Também convicto, Sunil Geness, director da SAP para as Relações Governamentais e Responsabilidade Social Corporativa em África, assume que “a única forma de cuidar do futuro é planeá-lo”, acrescentando que “capacitar os jovens em termos de programação digital significa dar-lhe competências que podem determinar a sua vida, em áreas como a educação, a robótica, a saúde ou as ciências espaciais”.

Adicionalmente, e porque os prémios são uma excelente forma de reconhecimento, esta iniciativa foi distinguidana categoria “Educação do Futuro”, do prémio C4F – Comunication For Future, realizado no âmbito do Fórum Mundial de Comunicação, que decorreu em Davos no dia 8 de Março do presente ano. Neste evento anual, são reconhecidas empresas e projectos de diversos continentes que apresentam uma abordagem criativa e uma visão única acerca do futuro das comunicações, em categorias como Educação, Comunicação, Valor, Ideia, Comunidade, entre outras.

Todos estes indicadores revelam que tem sido ganha a aposta da SAP no desenvolvimento em larga escala de programas e iniciativas que ampliam os conhecimentos dos jovens africanos em termos de formação tecnológica, dando-lhes uma oportunidade única para inverterem os elevados índices de pobreza que caracterizam o continente. Com vista ao desenvolvimento económico, mas também social, esta iniciativa confere aos jovens as ferramentas necessárias para que sejam eles a construir um futuro melhor, nas comunidades onde vivem.

 

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