7. Entre as Assembleias Sinodais, um trabalho a realizar

A Família no centro das atenções

Durante o mês de outubro (de 5 a 19) decorre em Roma a III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos com o tema «Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização». Trata-se, sem dúvida, de um acontecimento maior para a vida da Igreja, das comunidades e dos cristãos.

 

A sua importância, no entanto, não pode ficar reduzida nem a este tempo, nem a este contexto, ou seja, a dinâmica sinodal não termina e o seu horizonte não é apenas a comunidade cristã, uma vez que a família é uma realidade transversal e o Evangelho quer ser a Boa Notícia de Deus para todos.

A assembleia Sinodal que agora vai ter lugar é umas das etapas e não a única, nem última, pelo que a reflexão deve continuar. Não nos podemos esquecer que em 2015 terá lugar a Assembleia Geral Ordinária, também ela orientada para o mesmo tema. Além disso, o que agora principalmente se pretende é perceber o ponto da situação e não já apresentar respostas definitivas.

Confesso que alguns debates vindos a público, entre os ditos sectores ‘conservadores’ e ‘progressistas’ da Igreja, me têm deixado um pouco perplexo. Não nego a importância da reflexão plural e a necessidade de que todos partilhem os seus pontos de vista. Aliás, o que se pretende com um Sínodo é mesmo realizar um caminho em conjunto. Mas não chega realizar o caminho em conjunto é necessário ser mais ousado e assumir que o objetivo é, igualmente, passar um limiar em conjunto (esta é também uma leitura possível para a raiz da palavra Syn – conjunto + hodos – caminho). Alguns dos debates atrás referidos, parecem, por vezes, que querem deixar de fora, logo à partida, quem não pensa da mesma maneira. Sinceramente julgo que neste diálogo, tão importante e urgente, é necessário evitar dois extremos: o «já está tudo decidido» e o «tudo tem obrigatoriamente de mudar». Entre uma e outra posição há um imenso caminho a trilhar.

O tempo que vai decorrer entre as Assembleias Sinodais afigura-se, para mim, como um tempo privilegiado para realizar esta experiência de caminhar em conjunto com o objetivo de, igualmente em conjunto, atravessarmos este limiar da história do mundo e da Igreja.

Nesse sentido atrevo-me a propor alguns critérios a ter em conta.

Testemunhar a misericórdia como centro do Evangelho – A misericórdia de Deus é certamente a chave para ler todo o Evangelho e toda a existência cristã. E quando me refiro à misericórdia não estou simplesmente a sublinhar aquele sentimento de compaixão e de perdão que é muito importante, mas não esgota o significado, nem o conteúdo da misericórdia divina, da qual podemos e devemos também afirmar que é, em primeiro lugar, o amor e a ternura que Deus gratuitamente nos tem por sermos seus filhos.

“Deus é acima de tudo Deus de ternura e por sê-lo é Deus de piedade, compaixão e misericórdia. Ele olha em primeiro lugar o nosso ser de filhos saídos das suas entranhas e fruto do seu amor; em segundo lugar compadece-se da nossa pobreza e tem misericórdia da nossa debilidade; em terceiro lugar oferece-nos o perdão dos nossos pecados. Esta é a ordem a partir da qual devemos pensar Deus: Ternura, misericórdia e compaixão, perdão. Essas são as suas entranhas […].”1 

É a partir destas ‘entranhas’ que devemos falar e agir como cristãos. Por aqui passa, igualmente, o anúncio do Evangelho da Família.

Propor a beleza do Evangelho – A proposta que fizermos, no âmbito do Evangelho da família, deve sobretudo ser feita a partir da sua beleza e grandeza e não principalmente a partir de considerações legalistas, por mais importantes que elas sejam. Os cristãos são chamados a anunciar o Evangelho “sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas como quem partilha uma alegria, indica um horizonte maravilhoso, oferece um banquete apetecível.” (Evangelii gaudium 14).

Escutar o «sensus fidei», ler os «sinais dos tempos» – Se acreditamos no dom do Espírito, que é dado aos cristãos pessoalmente e enquanto membros da comunidade, não podemos deixar de escutar e de levar a sério, apesar das fragilidades e da realidade do pecado, o sentido da fé que as suas experiências de vida testemunham. Do mesmo modo, se acreditamos que Deus contínua presente na história humana, amando, interpelando, guiando, não podemos deixar de ler nela os sinais dessa presença.

Estamos verdadeiramente a entrar num tempo precioso, onde todos somos chamados a contribuir para o anúncio da beleza do Evangelho da família.

Por Juan Ambrósio, publicado em Jornal da Família, Outubro de 2014

 

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