Papa: “os líderes muçulmanos deveriam condenar o terrorismo”

O Santo Padre respondeu as perguntas dos jornalistas durante 45 minutos no voo de volta de Istambul e falou sobre o terrorismo, o ecumenismo, o diálogo inter-religioso e o Sínodo

ROMA, 01 de Dezembro de 2014 (Zenit.org) – Não se pode dizer que todos os muçulmanos sejam fundamentalistas. E Francisco disse ao presidente turco, Erdogan, “que seria muito bom condená-los (aos terroristas) claramente; deveriam fazê-lo através dos líderes acadêmicos, religiosos, intelectuais e políticos. Dessa forma escutariam da boca dos seus líderes”. O Papa afirmou que é necessário que haja uma condenação mundial de parte dos muçulmanos que digam “não, o Alcorão não é isso”. Estas são palavras do Papa no avião com destino a Roma, respondendo aos jornalistas que lhe acompanhavam nesse voo de volta da sua viagem apostólica à Turquia do 28 ao 30 de novembro.

Abordando o tema do diálogo inter-religioso, o Santo Padre disse que teve a conversa mais bela neste sentido com o Presidente de Assuntos Religiosos, o professor Mehmet Görmez, e a sua equipe. Também disse que “quando veio o novo embaixador da Turquia para entregar as suas credenciais, vi um homem notável, um homem de profunda religiosidade. Eles disseram: ‘Agora parece que o diálogo inter-religioso chegou ao final. Temos que dar um salto qualitativo. Temos que fazer o diálogo entre pessoas religiosas de diferentes pertenças’. Isso é bonito: homens e mulheres que se encontram com outros homens e com outras mulheres para compartilhar experiências; não se fala de teologia, mas de experiência”, explicou.

Por outro lado, Francisco esclareceu como foi a sua oração na mesquita, que tantas manchetes ocupou nos meios de comunicação de todo o mundo. “Eu fui para a Turquia como um peregrino, não como um turista” e “quando eu fui à mesquita não podia dizer: “Agora sou um turista!”. E explica “vi aquela maravilha, o grande Mufti me explicava muito bem as coisas, com muita mansidão, me citava o Alcorão, quando falava de Maria e de João Batista. Nesse momento senti a necessidade de rezar. Perguntei-lhe: “Vamos rezar um pouco?” E ele me respondeu: “Sim, sim”. Eu orei por toda a Turquia, pela paz, pelo mufti, por todos e para mim… Disse: “Senhor, acabemos com estas guerras!” Foi um momento de oração sincera”.

Também falaram de ecumenismo no avião. Francisco disse que no mês passado, por causa do Sínodo, veio como delegado o metropolita russo Hilarion e quis falar com ele “não como delegado do Sínodo”, mas como “presidente da Comissão do diálogo ortodoxo-católico”. “Eu acredito que com a ortodoxia estamos a caminho”, afirmou o Papa no avião, mas também exclamou que “se tivermos que esperar que os teólogos se coloquem de acordo… Nunca chegará esse dia!”

Sobre o Patriarca de Moscou, Kirril, o Papa disse que quer vê-lo, e já lhe enviou essa mensagem “onde você quiser, nos encontramos; se me ligar, vou”. Mas, explicou que com a guerra na Ucrânia agora o patriarca tem muitos problemas. “Ambos queremos encontrar-nos e seguir em frente. Hilarion propôs uma reunião de estudo da Comissão sobre a questão do primado. É necessário continuar com o pedido de João Paulo II: “me ajudem a encontrar uma fórmula de primado aceitável para as Igrejas ortodoxas”, disse.

E sobre o primado da Igreja, Francisco disse aos jornalistas que para encontrar uma fórmula aceitável devemos ir para o primeiro milênio. “Não quero dizer que a Igreja errou (no segundo milênio), não! Percorreu o seu caminho histórico. Mas agora o caminho é seguir em frente com o pedido de João Paulo II”.

Assim como fez no voo de volta da Coréia, o Santo Padre expressou sua vontade de ir ao Iraque por causa da dramática situação que milhares de pessoas estão vivendo lá. “Eu queria ir a um campo de refugiados, mas precisava de mais um dia e não foi possível, por muitas razões, não só pessoais”, disse. Por isso pediu em Istambul para se encontrar com as crianças refugiadas que os salesianos cuidam. “Eu quero ir ao Iraque”, afirmou o Papa no avião, mas explicou que falou com o Patriarca Sako e no momento não é possível.

Sobre esta “terceira guerra mundial por partes” da qual o Papa já falou em outras ocasiões, retomou o problema do tráfico de armas. Aliás, disse: “No ano passado, em setembro, se dizia que a Síria tinha armas químicas: eu acho que a Síria não era capaz de produzir armas químicas. Quem foi que as vendeu? Quem sabe alguns dos que depois a acusavam de tê-las? Sobre este assunto das armas existem muitos mistérios”.

Outro tema tocado no avião foi o do genocídio dos armênios. A este respeito Francisco lembrou que Erdogan escreveu uma carta na data do aniversário do genocídio, que alguns consideraram muito fraco. “Mas foi um estender a mão, e isso é sempre positivo. Posso estender a mão muito ou pouco, mas isso sempre é positivo”, destacou. E acrescentou que se fosse possível abrir a fronteira turco-armênia seria algo bonito. Por isso, o Papa pediu orações por esta reconciliação entre os povos.

Por fim, o Papa fez algumas observações sobre o Sínodo da Família, celebrado recentemente em Roma. “Não é um parlamento, é espaço protegido para que seja possível falar sobre o Espírito Santo”, afirmou. Além do mais destacou que ele não está de acordo com que se diga publicamente: ‘Tal pessoa falou isso’, mas que se faça público somente o que foi dito. 

 

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