O Relatório final do Sínodo não é um texto legislativo e deixa a questão dos recasados em aberto, para maior aprofundamento, disse Dom Sergio da Rocha

ZENIT perguntou a Dom Sergio da Rocha, presidente da conferência episcopal do Brasil, se, depois do Sínodo, mudou alguma coisa sobre a disciplina dos sacramentos para as pessoas ou famílias feridas, ou se é necessário, ainda, esperar uma palavra definitiva do Papa

Brasilia, 30 de Outubro de 2015 (ZENIT.org) Thácio Siqueira 

Ontem, quinta-feira, 29, a Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) concedeu uma entrevista coletiva à imprensa na sede da instituição, em Brasília. Nessa, divulgou nota sobre a Realidade Sociopolítica Brasileira e tratou dos temas discutidos durante a última reunião do Conselho Permanente da CNBB, realizada de 27 a 29 deste mês.

Ao final da coletiva ZENIT perguntou a Dom Sergio da Rocha, presidente da conferência episcopal, se, depois do Sínodo, mudou alguma coisa sobre a disciplina dos sacramentos, para as pessoas ou famílias feridas, ou se é necessário, ainda, esperar uma palavra definitiva do Papa.

Dom Sergio da Rocha explicou que o texto sinodal, quando fala “de casais com situações especiais, como por exemplo os recasados, de segunda união”, insiste em “duas palavras, que até foram objeto do título, que é: discernimento e integração”. Alguns até “preferem, porque o texto mesmo sugere, “acolhida” e “orientação”. São palavras – segundo Dom Sergio – que expressam muito do espírito dessa iniciativa. 

Questão em aberto

O texto, na verdade – ressaltou o presidente da cnbb – é um texto que em parte, deixa em aberto a questão”. Na verdade, “não há um pronunciamento sobre essa questão”. Ou seja, no texto aprovado “não aparece a questão do acesso aos sacramentos por parte de pessoas nessas condições”.

Porém, Dom Sergio esclareceu que no final do texto há um pedido claro que os padres sinodais fizeram ao papa. “Nós pedimos ao papa uma palavra definitiva, isto é, um documento que fosse sobre a família”, recordando também que na terceira parte do relatório final do sínodo se “retoma a Familiaris Consortio, 84, que é justamente a respeito das diferentes situações que precisam ser discernidas”.

Acolhida

Portanto, segundo Dom Sergio, “a ênfase é na acolhida, isto é, na participação dessas pessoas na vida da Igreja para que elas não se sintam excluídas” 

“E não se esqueçam -disse também o arcebispo de Brasília – que o Papa já tinha, anteriormente, publicado aquele documento chamado Motu Proprio sobre os processos de nulidade matrimonial”, o qual não “é para facilitar, como alguns entendem, mas para favorecer aquilo que é justo. Isto é, muitos casais que, de fato, estão numa situação de segunda união, mas que o seu primeiro casamento foi nulo, quer dizer, não houve, na verdade, propriamente o casamento”. Esse tema, portanto, de acordo com o prelado, “recebeu de novo uma ênfase significativa. Ou seja, nós precisamos de atenção pastoral, acompanhamento dessas situações”.

Contudo, não se altera a disciplina atual da Igreja

“O texto em si até sugere que nas dioceses sejam criados centros de assistência, centros de atendimento aos casais em geral, mas particularmente os que se encontram nessas situações”, ressaltou. “Então, no Sínodo, no documento conclusivo, realmente não há uma palavra que altere a disciplina atual da Igreja em relação a isso – afirmou. “Ali está dito que é necessário dar atenção para essas situações, cujo número é crescente, mas não se tem, de fato, uma alteração explícita. Há, na verdade, uma abertura para que este tema continue a ser trabalhado, aprofundado”.

Dom Sergio reiterou que “pedimos ao Santo Padre para que, depois, haja uma palavra definitiva” e que o tema “apareceu mais nas discussões”, disse, recebendo “na mídia uma importância muito grande, que de fato tem, mas não é objeto explícito do texto”. De tal forma que – acrescenta o presidente da cnbb – “o nosso entendimento é esse” que “o texto insiste na questão da acolhida, na questão da orientação, da ajuda a estes casais, que favoreça, naquilo que for possível, sua atuação, sua participação, e o pedido ao santo padre de uma palavra mais definitiva sobre isso, a partir dessas reflexões que o sínodo traz”. 

A questão é, explica Dom Sergio, que “se não houver uma atitude fraterna de respeito, de acolhida, na caridade, na misericórdia, a comunhão como tal ou a confissão como tal não seriam resposta, porque efetivamente não estaria havendo uma outra postura de caráter pastoral, que precede, e da qual depende qualquer outro desdobramento”.

O texto deixa a cada bispo o discernimento

“Nesse momento, é claro, – diz o prelado – nós não temos aqui um pronunciamento diverso, da conferência episcopal, até porque não cabe à conferência episcopal esse pronunciamento, o texto não deixa, mas, sim, deixa a cada bispo o como orientar esses casais na vida de comunidade”. De tal forma que “o padre, junto com o bispo, ao atender, possa ver qual é o grau possível de participação” no concreto. 

É importante lembrar que não é um texto legislativo

Por último, o arcebispo chamou a atenção para um ponto: esse texto não tem caráter legislativo. “Na verdade, cuidado”. Este Sínodo não “tem um caráter como tem outros documentos do magistério. São sugestões, são propostas, ou melhor, reflexões e propostas que os padres sinodais apresentam ao santo padre”, destacou. “Então, por causa disso e da expectativa, às vezes, se dá a esse texto também um peso maior do que ele realmente tem. Ele deve ser respeitado, valorizado, acolhido… o próprio Papa autorizou a publicação dele. Agora, os pontos em aberto, estão em aberto para a reflexão continuar e também para que as medidas pastorais mais adequadas sejam tomadas”, disse.

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