“O que distingue o desenvolvimento do atraso é a aprendizagem”

– Guilherme d’Oliveira Martins

 

Nesta rentrée marcada pelos debates para as eleições autárquicas de 1 de Outubro – onde, entre muitas outras disputas, o Governo acena com a descentralização de competências na educação -, bem como por outras polémicas, como a que envolve os livros da Porto Editora e a persistente questão da igualdade entre rapazes e raparigas, o arranque do ano lectivo aguarda-se com a expectativa de saber com que linhas se coserá o projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular dos ensinos básico e secundário, que, numa experiência pedagógica voluntária por parte das escolas, propõe a inovação dos métodos educativos, com vista a fazer do aluno do século XXI um cidadão consciente e socialmente participativo, num mundo em constante mudança ameaçado por crescentes desafios globais. À ambição da Tutela terá de corresponder a iniciativa dos estabelecimentos de ensino e dos professores para desenvolverem trabalho interdisciplinar em equipas pedagógicas e, como se analisa no artigo em destaque desta edição Especial que marca também a rentrée do VER, a grande dificuldade será operacionalizar, com sucesso, todas as alterações previstas. Até porque “a escola não pode resolver tudo na vida dos jovens” e há muito que é necessário “deslocar para fora dela algum investimento”, como defende, numa grande entrevista, a professora catedrática e psicóloga clínica e da saúde, Margarida Gaspar de Matos. Para a coordenadora do projecto da Faculdade de Motricidade Humana “Aventura Social”, que cumpre três décadas de investigação e intervenção na promoção da saúde e do comportamento social dos jovens, é cada vez mais premente integrar os contextos das novas gerações nas “equações de mudança”, num ambiente global que faz temer “um ressurgimento de estereótipos sociais, preconceitos e discriminação intergrupal”.
E de todos estes fenómenos se alimentam as desigualdades que obrigam, ainda, a uma “luta de classes” pelo direito do “ensino para todos”, já que as oportunidades não são iguais para todos. Num artigo dedicado à (falta de) democratização na educação e no futuro profissional dos jovens, revelamos como a mobilidade social não está, de todo, garantida para os que não nasceram em berço de ouro ou de prata. O que também não está garantido é que pais, escolas e sociedade cultivem nas suas crianças a necessária criatividade para inovar rumo à economia do conhecimento. Um novo estudo da Gallup sobre os tempos livres dos mais novos, de que damos conta, alerta para a importância de actividades realizadas sem a intervenção dos adultos e sem recurso a dispositivos tecnológicos. A fechar, a opinião da semana, a cargo do Fundador do Projecto MiudosSegurosNa.Net, Tito de Morais, coloca o foco na tecnologia, a propósito do recente Regulamento Geral de Protecção de Dados que, impondo restrições etárias, cria desigualdades ao invés de fornecer ferramentas que contribuam para proteger crianças e jovens dos potenciais riscos online. É que “a autonomia desenvolve-se preparando, e não limitando as escolhas”.
Num ano de actividade que se adivinha complexo, o VER deseja a todos os seus leitores um bom regresso. À escola ou ao trabalho.

 

Artigo publicado em “Valores, Ética e Responsabilidade” – ACEGE – __

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