Diminuição da natalidade obriga a consenso suprapartidário

O diretor da Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), José Miguel Sardica, aponta a necessidade de um consenso nacional em torno da natalidade que ultrapasse as “cores políticas” e o “ciclo político”.

 

“Gasta-se a palavra consenso e é realmente preciso nesta questão da natalidade, um problema que está para lá de um ciclo político para lá de uma cor política. É uma questão de solidariedade intergeracional entre os que estão cá e os que virão”, sublinha o professor da UCP, comentador do programa de rádio ECCLESIA na Antena 1.

Este é um problema que “não vai ficar resolvido num ano ou dois ou três”, indica José Sardica sendo por isso, “o maior teste à capacidade de o país em convocar energias e gerar consensos”.

Números recentes indicam que em 2060 os portugueses poderão ser oito milhões e meio em 2060, sendo que no final do século XXI esse número poderá rondar os seis milhões.

  Esta realidade levou o governo a criar uma comissão multidisciplinar para a promoção da natalidade, liderada por Joaquim Azevedo, com o objetivo de elaborar propostas, não vinculativas, ao executivo.

Segundo o docente da UCP o governo está a dar um “sinal de que a reflexão é necessária” não só a nível nacional, com “políticas que convirjam em planos concertados, para apoio à educação, ao emprego” mas também comunitário e pessoal.

O decréscimo da natalidade é uma questão “macro” que influencia a “sociedade, as famílias mas também o rumo financeiro do país”, fator que deve “envolver todos os decisores e agentes” e “cada pessoa em particular”.

“Cada organização pode pensar nos seus recursos humanos e perceber como pode ajudar. Como posso ajudar funcionárias, potenciais mães, adequando horários, gerindo recursos humanos, criando uma solidariedade junto das famílias”.

Segundo o diretor da FCH, a quebra da natalidade tem impactos no Estado Social mas também culturais, sociais e antropológicos: “A imagem que a sociedade começa a ter dos mais velhos, como um «fardo» económico por um outro e por outro lado, a maneira como a não renovação das gerações, o facto de a economia não atrair imigrantes que compensam a quebra de saldo, estarmos a criar um país cada vez mais cinzento”.

José Sardica sublinha ainda o “sentimento de envelhecimento da sociedade europeia” e a “lenta redução” da intervenção portuguesa a nível internacional. “Chegarmos a 2060 com oito milhões e pouco de pessoas, significa que estaremos onde demograficamente estávamos em 1950. Consumiu-se mais de um século para voltarmos ao ponto onde estávamos há 60 anos atrás”.

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