Cada vez mais e mais o sangue dos mártires cristãos se espalha pelo mundo

Apresentado em Roma o relatório de Ajuda à Igreja que Sofre sobre as perseguições anti-cristãs. Os testemunhos do Patriarca Iraquiano Sako e do Mons. Ndagoso, Arcebispo de Kaduna, Nigéria

Roma, 14 de Outubro de 2015 (ZENIT.org) – Uma longa mancha de sangue atravessa o planeta. É a dos cristãos, que hoje são sempre mais perseguidos e esquecidos. Daí o título do informe apresentado ontem à noite em Roma, na sede da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

O informe que destaca um agravamento da situação com relação ao passado, como observou Marta Petrosillo, porta-voz da AIS da Itália, traz, por exemplo, o fato de que no Iraque, por causa do avanço do Isis, somente em Agosto de 2014 “120 mil cristãos foram obrigados a fugir”.

Mas não é só o Oriente Médio que preocupa. A Petrosillo recordou como na África está “crescendo a pressão dos grupos fundamentalistas islâmicos, dentre os quais, o Boko Haram”, e como na Ásia esteja acontecendo um aumento da violência anticristã por grupos fundamentalistas hindusf, na Índia, e budistas no Sri Lanka. Ainda na Ásia, é o caso do Paquistão, “os cristãos sofrem muitos ataques também com a chamada lei anti-blasfêmia”, interpretada sub-repticiamente para atacar não os indivíduos, mas toda a comunidade.

A perseguição anti-cristã é, muitas vezes, obra dos Estados. Isso é demonstrado pelo caso da Coréia do Norte, China e Eritreia, “onde mais de 3 mil pessoas, a maioria cristãos, são mantidos em campos de concentração por razões religiosas”, ressaltou a Petrosillo.

A Igreja, através das suas delegações, realiza grandes esforços para aliviar o sofrimento dos cristãos em todo o mundo. Isso é demonstrado pela Ordem Equestre do Santo Sepulcro, que, como foi explicado pelo seu Assessor, mons. Antonio Franco, “está comprometida, por meio de várias iniciativas, a socorrer as populações migrantes”. O prelado, já núncio apostólico em Israel e Chipro e delegado apostólico em Jerusalém e na Palestina, recordou a este propósito que na Jordânia a Ordem “contribui para a atividade, patrocinada pela Conferência Episcopal Italiana (CEI), de reabilitação nas escolas de crianças refugiadas provenientes do Iraque”.

Precisamente do Iraque, assediado pelo fundamentalismo islâmico chegou o testemunho o patriarca de Babilônia dos Caldeus, Louis Raphael I Sako. Ele tornou-se porta-voz dos sentimentos de “ansiedade e angústia” que comprimem os corações dos refugiados cristãos que fugiram de Mosul, no Iraque, para o Kurdistão. O Patriarca explicou que estas pessoas “não veem no horizonte nenhuma esperança, tendo perdido suas casas e seus empregos”.

Sako elogiou a contribuição de instituições como a CEI, a Caritas e AIS, mas, ao mesmo tempo, pediu a ajuda concreta da comunidade internacional a qual – disse sem rodeios – “deve comprometer-se para expulsar o Isis e permitir que os refugiados iraquianos voltem para casa”.

A este respeito, Sua Beatitude solicitou aos Estados Unidos, que tem “um dever moral” com relação ao Iraque depois de que de 2003 ao 2006 (com a operação militar contra o regime de Saddam Hussein, ndr) “destruíram-no” e “alimentaram o sectarismo”. De acordo com Sako, os Estados Unidos “se quisessem, poderiam destruir o Isis em uma semana”. Não apenas com as bombas, mas através de “uma operação terrestre” sob um mandato da ONU.

Respondendo a uma pergunta de ZENIT, o Patriarca também pôs em causa a Rússia, comprometida neste momento para lutar contra os terroristas islâmicos na vizinha Síria. “Os russos são sérios – sua reflexão – talvez eles possam fazer alguma coisa para encontrar um equilíbrio no Iraque”.

Um país onde a intervenção militar estrangeira não chegou é a Nigéria. Mons. Matthew Man-Oso Ndagoso, arcebispo de Kaduna, lançou o grito de alarme que vem do seu país: “Na Nigéria, especialmente no noroeste, está acontecendo uma perseguição sistemática”. Por causa da presença do Boko Haram, diariamente acontecem assassinatos e os direitos básicos são negados à população, incluindo água potável.

As acusações de Mons. Ndagoso são também contra as instituições políticas do País e a comunidade internacional. “A Nigéria – disse – é rica em recursos, mas poucos os controlam e o interesse comum nunca é buscado há anos”. Além do mais denunciou o problema da corrupção, que o “Governo promete combater” só com palavras. O arcebispo africano afirmou também que seria interessante saber “quem subsidia” Boko Haram. “Dada a quantidade de armas que têm disponíveis, eu acho que não têm só aliados locais, mas também internacionais”, comentou.

Mons. Ndagoso, apesar da situação muito grave que está vivendo o seu país (desde 2009 morreram cerca de 15 mil pessoas e 2 milhões fugiram), ainda tem confiança no futuro. O arcebispo lembrou, como mostra a história, que a Igreja se torna mais forte precisamente quando é perseguida. Palavras que repetiu, no discurso final do Congresso, Alfredo Mantovano, presidente da seção italiana de AIS. “O sangue de mártires é a semente de novos cristãos”, disse parafraseando o apologeta Tertulliano. 

 

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