Acarinhemos os nossos avós

No próximo dia 26 de julho, celebra-se o Dia dos Avós, e isto porque neste mesmo dia, a Igreja resolveu comemorar e solenizar, Santa Ana e São Joaquim, pais de Nossa Senhora e, consequentemente, avós biológicos de Jesus Cristo.

 

Esta efeméride, fez-me recordar o modo como muitos avós e, naturalmente, muitos idosos, são tratados pelos seus familiares mais próximos.

Há poucos dias, ao passar junto de um idoso, fiquei comovido pelo modo como ele estava a ser acariciado, mimado e rodeado de extremoso carinho, pelos seus familiares, os quais regularmente o visitam.

De facto, na Santa Casa da Misericórdia de Castelo Branco, verificamos, amiudadamente, que há um grande número de idosos, que são amados, afagados e visitados com carinhoso amor, pelos seus entes queridos, que os adoram e amam acrisoladamente.

Como eles se sentem felizes, contentes e ainda válidos e úteis, para realizarem pequenas tarefas domésticas e de bricolage. A presença dos familiares, junto dos seus idosos, constituiu um ato congregador e enriquecedor, exemplo vivo para os mais jovens e espelho fiel para as gerações mais novas. Reparem bem, como os idosos sabem apreciar, saborear e agradecer as visitas dos seus idolatrados familiares.

Podem crer que, no património duma Família bem formada, os mais idosos representam sempre uma faceta deveras importante e valiosa do agregado familiar, especialmente, para as famílias onde ainda não se diluíram os autênticos valores da vida humana.

Madre Teresa de Calcutá, referia que “a maior miséria humana, que grassava pelo mundo, residia, muitas vezes, no abandono, no desprezo e no desamparo a que eram votados os idosos”.

Também Simone de Beauvoir, a famosa feminista, que durante anos foi a fiel companheira do grande filósofo existencialista Jean-Paul Sartre asseverava, veementemente, que “uma sociedade que não ama, que não respeita e que não protege os mais idosos, é uma sociedade cruel, desumana, sem alma, sem coração e sem futuro”.

Embora a filosofia de vida de Simone de Beauvoir, se situe num hemisfério diametralmente oposto ao meu, nomeadamente no campo da fé, neste seu pensamento estamos em perfeita sintonia, afinando pelo mesmo diapasão conceitual, pois perfilhamos da mesma opinião e dos mesmos princípios.

Com efeito, nada do que temos e do que somos, apareceu por geração espontânea. Do que desfrutamos hoje e perdura, foi-nos legado, já vem de longe, é fruto de muito trabalho dos nossos ascendentes, da dedicação dos nossos avós, do amor dos nossos pais, que tudo foram conseguindo à custa de muitos sacrifícios, de muitas privações, de muitas lutas.

Chegados a esta idade, saibamos saborear a alegria de viver, embora com as limitações inerentes aos anos que não perdoam. Saibamos ser gratos e reconhecidos por ainda podermos ser úteis e prestáveis a quem precisa da nossa modesta colaboração. Mas, para tanto, é imprescindível sentirmo-nos rodeados por um clima de fraternidade, por um ambiente galvanizados, envolto numa atmosfera de apreço, gratidão e estima.

Na última etapa da vida terrena, já quase tudo se dispensa. Porém, sentirmo-nos acarinhados, amados e estimados, podem crer que é o maior e mais valioso presente que se pode oferecer a um idoso, aos avós.

É uma verdadeira desolação, o que por vezes observamos por aí. Familiares e às vezes muito chegados, olvidam os seus progenitores, votando-os ao abandono, nos “Lares da Terceira Idade”, como se fossem trastes velhos, já sem préstimo algum, como se fossem um pesado fardo de incomodativa presença. Vêm visitá-los, de longe-em-longe, com desculpas esfarrapadas e inconscientes, que não convencem ninguém. Outros procuram os seus velhinhos, apenas com o firme propósito de, deploravelmente, lhes extorquirem os poucos “cobres” que lhes restem, da mensalidade que tiveram de pagar à Santa Casa, pela sua estadia…

Muitos dos familiares parecem querer guardar para depois da morte dos seus ascendentes, os afetos, as exteriorizações de apreço, os sentimentos de gratidão e carinho, os quais só têm lugar e sentido prático enquanto o idoso é vivo, enquanto os possa apreciar, saborear, agradecer a terna afeição que acrisoladamente lhe dedicam.

É certo que a Assistência Social tem-se desdobrado em plurifacetadas iniciativas, de apoio aos idosos mais carecidos, de acordo com o que se encontra preceituado nos Artigos63º; 67º e 72º da Lei Fundamental do País. E isto porque a comunidade tem sempre uma grande “dívida” para com os idosos da Nação, não podendo a dedicação que eles tiveram e o esforço que desenvolveram, em prol da comunidade, ser saldado de outra forma que não seja pelo amoroso afeto e carinho para com os seus anciãos.

Os idosos, enquanto vivos, são autênticos relicários de experiência feita, perfeitos cadinhos de ciência viva, riqueza esta que não devia ser menosprezada, aviltada, pois pode ser útil e prestável para os vindouros.

Quão felizes são os povos, as famílias e as sociedades, que respeitam os seus velhinhos, que os amparam e tratam com simpatia, desvelo, carinho e consideração, incentivando-os a serem úteis, rentáveis e frutuosos, para a comunidade em geral, onde se encontram integrados, de acordo com as suas aptidões, capacidades cognitivas, físicas e intelectuais.

 

Escrito por Fabião Baptista e publicado em Jornal da Família, julho de 2016

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