4. Quero amar-te para sempre!
Constantemente chegam ao nosso conhecimento notícias sobre a família. Muitas delas referem a importância fundamental da família para a constituição e desenvolvimento das sociedades, bem como para a edificação do ser humano. Sim, de um modo geral todos sublinham essa importância e são muito poucos aqueles que, de uma maneira sistemática, põem isso em dúvida.
Este consenso generalizado parece acabar, no entanto, assim que surge a necessidade de concretizar o que se entende por família. A este nível as opções já seguem caminhos distintos, sendo que alguns deles são mesmo muito diferentes.
Como é fácil de perceber, o relativismo neste campo, como aliás em todos os outros, não nos ajuda a perceber nada. Dizer que todos os ‘modelos’ de família servem igualmente ao ser humano, parece-me ser uma posição totalmente insustentável. Sem medo de não ser, como está na moda dizer-se, ‘politicamente correto’, afirmo que nem todas as realidades que vemos, e são propostas como tal, podem ser apelidadas de família, tal como nem todas promovem a dignidade do ser humano.
Dizer isto não pode, porém, de modo nenhum ser equivalente a afirmar que a família só é uma e sempre teve os mesmos contornos ao longo dos tempos. Voltarei a esta questão, que julgo ser muito importante, num outro texto.
O que agora quero partilhar convosco, queridos leitores do Jornal da Família, é uma dúvida que muitas vezes se me coloca. Porque é que a família, sendo esta realidade tão fundamental e importante, passa por tantas dificuldades? E não me refiro só a dificuldades exteriores, ou provocadas a partir do exterior, decorrentes de decisões menos conseguidas, ou mesmo erradas, por parte daqueles que têm a missão de governar. Como todos sabemos muitas situações de desagregação familiar não são só provocadas por motivos exteriores, decorrendo muitas vezes de dinâmicas que têm origem no seu próprio interior.
É precisamente a este nível que a questão se me coloca ainda mais intensamente: porque é que uma realidade tão fundamental como a família muitas vezes é posta em causa pelos próprios elementos que a constituem? Temos de reconhecer que não é só porque as leis e a cultura não ajudam, ou vão mesmo contra, que as famílias se desfazem. O que se passa então?
Não tenho a mínima pretensão de ter a resposta final e acabada para esta questão. Pensar assim, seria já indicativo claro de que a resposta avançada não estaria certa. Contudo, parece-me que se percebermos um dos elementos que está na origem da família, poderemos compreender melhor o que se está a passar.
Assim, e olhando para a origem de cada família, veremos que nesse momento primeiro não são os ‘laços de sangue’ a constituir o ‘cimento’ que une os seus membros. O que temos nesse início, brota (deveria brotar) de uma opção de amor, da qual decorrem certamente outros compromissos que fazem com que a família não se fundamente exclusivamente nessa opção, ainda que sem ela não possa verdadeiramente subsistir.
No início está (tem de estar) uma opção, uma eleição mútua, que pode ser formulada desta maneira: eu quero amar-te para sempre!
Esta afirmação, dita desta maneira tão rápida e simples, pode até deixar passar desapercebidos dois elementos que me parecem fundamentais. O primeiro, é que a afirmação coloca no centro o outro, ou seja, o que se afirma é que eu quero amar-te para sempre e não que eu quero que tu me ames para sempre. Claro que eu quero ser amado, mas a opção que exprimo é que eu quero amar-te para sempre. Essa é a minha promessa e o meu compromisso.
O segundo elemento que quero sublinhar é o ‘sempre’. Este amor para sempre não pode ser nunca uma promessa feita só naquele dia e para sempre, mas tem de ser, igualmente, sempre todos os dias.
Não sou ingénuo ao ponto de afirmar que a falta desta promessa diária seja a explicação única para muitas das situações a que assistimos. Mas não sendo única, essa explicação, certamente, nos pode ajudar a entender melhor o que se está a passar.
E este «quero amar-te para sempre!» não está só na base da união entre marido e mulher, como igualmente fundamenta e torna consistente a união entre pais e filhos e a união entre irmãos.
Parece-me, pois, claro que também por esta opção passa o colocar a família no centro das atenções.
Por Juan Ambrosio