15. A família, sujeito da pastoral familiar

A Família: Um olhar a partir da beleza e da bondade

 

No capítulo VI da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris laetitia, intitulado Algumas perspetivas pastorais, o Papa Francisco parte de uma constatação inicial que é fruto, como o mesmo explicitamente refere, da longa caminhada de preparação iniciada, como sabemos, dois anos antes:

“Os debates do caminho sinodal puseram a descoberto a necessidade de desenvolver novos caminhos pastorais, que procurarei agora resumir em geral. As diferentes comunidades é que deverão elaborar propostas mais práticas e eficazes, que tenham em conta tanto a doutrina da Igreja como as necessidades e desafios locais. […].” (nº 199)

 

O desafio é, pois, lançado com toda a clareza, cabendo às comunidades locais encontrar os caminhos para lhe responder, mantendo-se fiéis à sua identidade, o que implica ter sempre presente o projeto de Deus para a humanidade e a realidade concreta em que essa mesma humanidade vive. A tarefa não é fácil e traz consigo uma certa carga de novidade, uma vez que as comunidades cristãs nem sempre foram preparadas para serem elas a tomar o protagonismo do discernimento e da ação, estando mais disponíveis e preparadas para concretizar as orientações que lhes eram dadas. Agora não se trata só de serem criativas ao nível dessa concretização, mas também de participarem no próprio processo de discernimento e de decisão para a ação, o que, convenhamos, ainda que muitos o não queiram dizer, acarreta a novidade atrás referida. É precisamente a este nível que encontro um dos grandes desafios deste texto.

E porque é consciente disso o Papa partilha e propõe alguns critérios que poderão ajudar na resposta a esse desafio. Nessa linha destaco aqui três orientações que me parecem muito claras nesse sentido. A primeira, que retiro do nº 200 e que me parece de superior importância – “Os Padres sinodais insistiram no facto de que as famílias cristãs são, pela graça do sacramento nupcial, os sujeitos principais da pastoral familiar”, ajuda-nos a perceber como as famílias, mais do que serem destinatários da pastoral familiar, devem ser, em primeiro lugar, os principais protagonistas e responsáveis. A segunda, retirada também do nº 200 – “Não basta inserir uma genérica preocupação pela família nos grandes projetos pastorais; para que as famílias possam ser sujeitos cada vez mais ativos da pastoral familiar, requer-se «um esforço evangelizador e catequético dirigido à família», que a encaminhe nesta direção” -, alerta-nos para o facto de que a este nível não chegam as declarações gerais de intenção, ou seja, não basta dizer que a família é importante, mas é preciso, é mesmo urgente diria eu, que a pastoral da Igreja seja essencialmente pensada e realizada a partir da realidade familiar. Finalmente, a terceira orientação, retirada do nº 201 – “«Por isso exige-se a toda a Igreja uma conversão missionária: é preciso não se contentar com um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas». A pastoral familiar «deve fazer experimentar que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana” -, volta a lembrar-nos que nesta missão não é possível ignorar a vida concreta das pessoas.

O que se pede às famílias e às comunidades cristãs acarreta consigo a necessidade de repensar, como também se afirma no texto, a formação dos futuros ministros ordenados, bem como a dos leigos que sejam chamados a assumir responsabilidades na pastoral familiar. Esta formação, diz-se ainda, não pode de modo nenhum prescindir dos contributos das diversas áreas de reflexão humana, tais como a psicologia, a sociologia, a sexologia, a medicina, a pedagogia, bem como a teologia e a orientação espiritual com toda a sua riqueza. Chama-se também a atenção para o facto de que esta ação pastoral deve ser pensada e estruturada de modo a acompanhar as famílias em todas as suas fases da vida, referindo-se explicitamente o caminho de preparação para o matrimónio (205-216), o acompanhamento nos primeiros anos da vida matrimonial (217-230), as situações de crises, angústias e dificuldades (231-252) e a experiência da morte (253-258).

Por tudo isto é necessário assumir com coragem, como diz Francisco neste capítulo, que “hoje, a pastoral familiar deve ser fundamentalmente missionária, em saída, por aproximação, em vez de se reduzir a ser uma fábrica de cursos a que poucos assistem”. (nº 230).

 

Escrito por Juan Ambrósio e publicado em Jornal da Família, junho de 2017

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